Como referenciar este texto: ‘Férias com estratégia: Jogos que divertem e desenvolvem’. Rodrigo Terra. Publicado em: 20/06/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/ferias-com-estrategia-jogos-que-divertem-e-desenvolvem/.
Conteúdos que você verá nesta postagem
As férias escolares são aguardadas com entusiasmo por alunos de todas as idades. É o momento de descansar, brincar, sair da rotina — e justamente por isso, uma excelente oportunidade para aprender de outro jeito. Longe das obrigações formais da sala de aula, as crianças podem explorar o conhecimento de forma mais leve, espontânea e prazerosa. E os jogos — tanto os tradicionais quanto os digitais — surgem como uma ponte poderosa entre diversão e desenvolvimento.
Jogando, os alunos exercitam o raciocínio lógico, tomam decisões, criam estratégias, lidam com regras, desafios e frustrações. Ao jogar juntos, desenvolvem também habilidades sociais como a cooperação, a escuta e o respeito às diferenças. E o melhor: aprendem sem perceber que estão aprendendo.
Para muitos responsáveis e educadores, a pergunta que surge é: como manter as crianças engajadas durante o recesso, longe do tédio e, ao mesmo tempo, estimulando o pensamento? A resposta pode estar justamente nos jogos — esses aliados invisíveis da aprendizagem que cabem na mochila das férias.
Por que jogos nas férias?
Jogos não são apenas passatempo — são ferramentas riquíssimas de aprendizagem. Durante o período de férias, quando os alunos estão fora do ambiente escolar e longe dos formatos tradicionais de ensino, os jogos se tornam uma forma eficaz e prazerosa de manter a mente ativa.
Jogando, as crianças e adolescentes desenvolvem habilidades cognitivas essenciais: atenção, memória, concentração, planejamento e resolução de problemas. Muitos jogos também trabalham a lógica, a linguagem, o cálculo mental e o pensamento estratégico — tudo isso de maneira integrada e contextualizada.
Além disso, os jogos estimulam o pensamento computacional, mesmo sem computadores envolvidos. Ao criar estratégias, identificar padrões, prever consequências e seguir sequências, os alunos exercitam competências fundamentais para a era digital.
Outro ponto importante é o incentivo à autonomia e à tomada de decisão. Nos jogos, cada escolha tem consequências, e os jogadores precisam aprender com erros, persistir diante de desafios e adaptar-se a novas situações — habilidades valiosas dentro e fora da escola.
Por fim, os jogos podem reforçar conteúdos escolares de forma indireta e divertida. Um simples jogo de tabuleiro pode explorar noções de probabilidade, enquanto um jogo de cartas pode estimular o cálculo mental. Sem perceber, os alunos revisitam o que aprenderam, mas agora em um contexto de prazer e significado.
Critérios para escolher bons jogos
Nem todo jogo é adequado para todo público, e fazer boas escolhas pode tornar as férias ainda mais ricas e divertidas. Seja para indicar aos alunos antes do recesso ou para usar como sugestão aos responsáveis, é importante observar alguns critérios que ajudam a selecionar jogos realmente significativos — e, claro, acessíveis.
Faixa etária adequada
Cada fase do desenvolvimento infantil tem suas particularidades. Jogos com regras complexas podem ser desestimulantes para os menores, enquanto desafios muito simples tendem a desinteressar os mais velhos. Observar a indicação de idade é um bom ponto de partida, mas também vale considerar o perfil e os interesses dos alunos.
Tipo de desafio
Dê preferência a jogos que provoquem o raciocínio, a criatividade e a tomada de decisões. Jogos de lógica, estratégia, memória, construção ou resolução de enigmas são especialmente potentes. Eles não apenas entretêm, mas desenvolvem habilidades que fazem diferença na aprendizagem escolar e no cotidiano.
Interação social
Jogos que podem ser jogados em grupo promovem a colaboração, o diálogo, a empatia e o respeito às regras — habilidades sociais que também se aprendem brincando. Além disso, durante as férias, são uma ótima forma de aproximar crianças, familiares e amigos, criando momentos de convivência significativa.
Facilidade de acesso
É importante considerar o contexto dos alunos. Jogos com versões gratuitas, que possam ser jogados com materiais simples (como papel, lápis, dados ou baralhos), ou que estejam disponíveis em ambientes digitais abertos, ampliam as possibilidades de participação. Muitas vezes, a simplicidade é aliada da criatividade!
Sugestões de jogos
As férias representam uma excelente oportunidade para os alunos explorarem o aprendizado por meio de jogos que desafiam, entretêm e desenvolvem habilidades cognitivas e socioemocionais. A seguir, estão reunidas sugestões de jogos que podem ser indicados para uso durante o recesso, tanto no formato analógico quanto digital. A proposta é valorizar jogos acessíveis, estimulantes e coerentes com os objetivos educativos contemporâneos, como o desenvolvimento do pensamento computacional, da criatividade e da resolução de problemas.
Jogos Analógicos
Os jogos analógicos (ou físicos) são valiosos justamente por não dependerem de dispositivos eletrônicos, tornando-se ideais para momentos de socialização em família ou entre amigos. Eles contribuem para a construção do raciocínio lógico, o respeito às regras, a tomada de decisões e o desenvolvimento de estratégias. A seguir, algumas sugestões com aplicação pedagógica evidente:
Dobble (ou Spot It!)
Trata-se de um jogo de cartas que exige rapidez e atenção. Cada carta possui um conjunto de símbolos, e sempre existe exatamente um símbolo em comum entre duas cartas quaisquer. O objetivo é identificar esse símbolo antes dos demais jogadores. É excelente para trabalhar percepção visual, concentração e agilidade de raciocínio. Pode ser adaptado com símbolos personalizados para diferentes faixas etárias ou temáticas escolares.
Ubongo
Um jogo que combina elementos de quebra-cabeças e raciocínio espacial. Os jogadores devem encaixar peças geométricas em tabuleiros específicos no menor tempo possível. O desafio cresce à medida que as rodadas avançam. Ubongo favorece o pensamento lógico, o planejamento e a visualização espacial — habilidades importantes tanto na matemática quanto em atividades criativas.
Uno ou Truco Pedagógico
Ambos são jogos de cartas que, além de promoverem interação e diversão, exigem memória, antecipação e cálculo de probabilidades. No caso do Uno, as crianças exercitam noções de cor, número e estratégia simples. Já o truco, com a devida adaptação pedagógica e respeitando a maturidade dos jogadores, pode ser explorado para trabalhar o raciocínio lógico, o blefe controlado e a leitura do comportamento dos colegas.
Quebra-cabeças Temáticos
Quebra-cabeças são atividades clássicas que estimulam a paciência, o foco e o raciocínio espacial. Quando organizados por temas (história, geografia, ciências, artes), agregam ainda uma dimensão de conteúdo escolar. Podem ser comprados prontos ou confeccionados pelos próprios alunos, recortando imagens de revistas ou imprimindo cenas relevantes.
Criação de Jogos com Materiais Recicláveis
Propor aos alunos a criação de seus próprios jogos de tabuleiro ou cartas utilizando papelão, tampinhas, papel reciclado e outros materiais simples pode ser uma atividade poderosa. Além de desenvolverem a criatividade e o pensamento projetual, os estudantes são desafiados a pensar em regras, objetivos, equilíbrio entre sorte e estratégia — elementos fundamentais no design de jogos. Essa prática promove também a autoria e o protagonismo, duas características desejáveis na formação de sujeitos críticos e inventivos.
Jogos Digitais
Os jogos digitais oferecem recursos interativos que podem ampliar o engajamento dos alunos e desenvolver habilidades diretamente relacionadas ao letramento digital, à programação e à lógica. Abaixo, estão listadas plataformas e jogos que têm forte apelo educacional e estão disponíveis gratuitamente ou com versões acessíveis:
LightBot e Code.org
Ambos os ambientes são voltados para o ensino da lógica de programação de maneira visual e intuitiva. O LightBot, por exemplo, propõe desafios nos quais o jogador deve mover um robô por meio de comandos sequenciais, trabalhando os conceitos de funções, loops e condicionalidade. Já o Code.org oferece cursos e jogos para diferentes idades, com personagens conhecidos e interface amigável. São excelentes opções para iniciar os alunos no pensamento computacional sem a necessidade de conhecimentos prévios em linguagem de programação.
Minecraft Education
Mais do que um jogo, trata-se de uma plataforma criativa que permite construir mundos inteiros utilizando blocos. Na versão Education, o ambiente é adaptado para a aprendizagem e inclui tutoriais e desafios que envolvem programação, resolução de problemas, planejamento urbano, ciência e até história. Pode ser usado individualmente ou em projetos colaborativos, sendo uma ferramenta potente para desenvolver criatividade, lógica e habilidades de trabalho em grupo.
Turtle Academy
Baseado na linguagem LOGO, esse ambiente digital ensina conceitos de programação por meio de comandos que controlam o movimento de uma “tartaruga” no espaço virtual. Ao digitar comandos, os alunos desenham figuras geométricas e padrões, trabalhando conceitos matemáticos, sequências lógicas e orientação espacial. É uma ótima opção para introduzir noções básicas de código de forma lúdica e visual.
Jogos do Scratch
A plataforma Scratch, desenvolvida pelo MIT, permite que crianças e adolescentes criem seus próprios jogos, histórias interativas e animações. Além de jogar, os alunos passam a programar com blocos visuais, desenvolvendo pensamento lógico, resolução de problemas, criatividade e narrativa digital. O mais interessante é que eles não apenas consomem conteúdo — tornam-se autores e programadores de suas próprias ideias. Durante as férias, podem explorar tutoriais, remixar projetos de outros usuários e até desafiar amigos com criações próprias.
Essas sugestões não esgotam as possibilidades, mas oferecem um ponto de partida consistente para orientar alunos e famílias na escolha de atividades que unem lazer e aprendizagem. Cabe aos educadores adaptar, combinar e explorar esses jogos de acordo com a realidade de seus estudantes, garantindo que todos tenham acesso a experiências significativas — dentro ou fora do calendário escolar.
Dicas para professores e responsáveis
A simples recomendação de jogos, por si só, já pode despertar o interesse dos alunos. No entanto, algumas ações estratégicas por parte dos professores e responsáveis podem potencializar ainda mais o impacto dessas experiências durante as férias. A seguir, listamos sugestões que visam transformar o jogo em uma ferramenta de aprendizagem mais rica, reflexiva e conectada com o cotidiano escolar.
Estimule a curiosidade com pequenos desafios
Em vez de apenas sugerir que os alunos joguem, proponha metas lúdicas. Por exemplo: vencer cinco partidas seguidas sem usar determinada carta, criar uma nova regra para um jogo conhecido, ou montar um quebra-cabeça em tempo recorde. Esses desafios funcionam como pequenas missões que mantêm o engajamento e promovem o raciocínio criativo.
Convide os alunos a criarem jogos próprios
Produzir um jogo é uma experiência pedagógica completa: envolve planejamento, experimentação, revisão e, sobretudo, autoria. Professores podem propor que os estudantes criem jogos inspirados em conteúdos escolares, em histórias que leram ou em temas que desejam explorar. Ao final das férias, esses jogos podem ser compartilhados na volta às aulas, criando um momento de troca e valorização das produções.
Incentive o registro da experiência
Pedir aos alunos que mantenham um pequeno diário de jogos, com anotações sobre o que jogaram, que estratégias usaram, com quem jogaram e o que aprenderam, é uma forma simples de integrar reflexão e metacognição à prática lúdica. Para os mais velhos, isso pode ser feito em formato digital, como um blog ou um pequeno portfólio online. Já os menores podem desenhar ou relatar oralmente o que vivenciaram.
Sugira momentos de jogo em família
Os jogos analógicos, em especial, oferecem excelentes oportunidades de fortalecer os vínculos familiares. Incentive que os alunos ensinem os jogos aos familiares ou que organizem campeonatos caseiros. A presença de adultos nesse processo também ajuda a modelar atitudes como paciência, respeito às regras e fair play.
Contextualize os jogos dentro de projetos maiores
Professores que atuam com metodologias como projetos ou sequências didáticas podem usar os jogos como ponto de partida. Por exemplo: após o recesso, pode-se propor uma atividade de investigação matemática com base em um jogo praticado durante as férias. Ou ainda, pedir que os alunos apresentem jogos que mais gostaram e debatam suas regras, estratégias e possíveis melhorias.
Ofereça alternativas acessíveis
Nem todos os alunos têm acesso a jogos comerciais ou dispositivos digitais. Por isso, é importante garantir sugestões que possam ser adaptadas à realidade de cada estudante. Jogos feitos com papel, lápis, dados improvisados, baralhos ou até aplicativos gratuitos tornam a proposta mais inclusiva e democrática.
Essas ações ampliam o alcance pedagógico dos jogos e ajudam a consolidar uma cultura escolar que valoriza a ludicidade como forma legítima de aprendizagem. Com o apoio de educadores e responsáveis, os jogos podem deixar de ser apenas um passatempo para se tornarem uma experiência rica em sentidos — mesmo nos dias de descanso.
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