Como referenciar este texto: ‘Férias que ensinam: 8 atividades para estimular corpo, mente e criatividade fora da escola’. Rodrigo Terra. Publicado em: 23/06/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/ferias-que-ensinam-8-atividades-para-estimular-corpo-mente-e-criatividade-fora-da-escola/.
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O recesso escolar é um tempo precioso. Depois de meses de rotina intensa, é hora de desacelerar, descansar e renovar as energias. Mas isso não significa interromper o aprendizado. Pelo contrário: as férias podem ser o momento ideal para desenvolver habilidades que, muitas vezes, o calendário letivo apertado não consegue contemplar plenamente. E é aí que entram as atividades lúdicas, criativas e significativas — aquelas que ensinam sem parecer lição.
Neste texto, reunimos sugestões de atividades para indicar aos alunos e responsáveis, com foco no equilíbrio entre diversão, desenvolvimento cognitivo e fortalecimento dos vínculos sociais e familiares.
Criar diários ou blogs de férias
Registrar vivências por meio de diários, blogs ou produções audiovisuais é uma atividade extremamente rica do ponto de vista pedagógico e emocional. Ao escrever sobre o que viveram, os alunos não apenas desenvolvem a habilidade de narrar fatos, organizar ideias e refletir sobre suas ações, como também constroem um repertório afetivo e simbólico que os ajuda a atribuir sentido às próprias experiências. Trata-se de uma prática que estimula a autonomia, amplia o vocabulário, exercita a coesão e a coerência textual, além de fortalecer a autoestima ao valorizar o ponto de vista do próprio estudante.
Esses registros podem assumir diferentes formatos, respeitando as preferências e possibilidades de cada criança ou adolescente. O formato mais tradicional é o diário manuscrito em caderno, no qual o aluno escreve diariamente ou semanalmente sobre algo marcante que vivenciou. A escrita pode ser acompanhada de desenhos, colagens, bilhetes, fotos impressas ou pequenos objetos simbólicos — como ingressos, folhas, embalagens — compondo uma espécie de “memória afetiva das férias”.
Para os alunos que têm acesso a dispositivos digitais, o diário pode ganhar a forma de blog, podcast ou diário em vídeo (vlog). Nesses casos, além da escrita, entram em cena a oralidade, a edição de imagens e sons, a organização de narrativas visuais e o planejamento de roteiros. Essas produções favorecem a apropriação crítica da linguagem digital, desenvolvendo habilidades comunicativas multimodais — tão necessárias no mundo contemporâneo.
Independentemente da forma escolhida, o mais importante é que o diário ou blog funcione como um espaço de expressão genuína. Em vez de uma “atividade obrigatória”, deve ser uma proposta leve, acolhedora e aberta. Os alunos devem sentir liberdade para relatar não apenas os acontecimentos do dia, mas também sentimentos, sonhos, descobertas e pequenas aprendizagens cotidianas. O que parecia “simples” — como ajudar a cozinhar, cuidar de um animal, visitar um parente ou brincar com os irmãos — pode se tornar matéria-prima de textos repletos de significado.
Além disso, ao retornarem das férias, os alunos podem compartilhar voluntariamente trechos de seus registros, promovendo rodas de conversa, exposições ou leituras em voz alta. Assim, o diário deixa de ser um exercício individual e se transforma em oportunidade de socialização e valorização das diferentes formas de viver, sentir e aprender.
Explorar passeios culturais na cidade
As cidades são territórios vivos de aprendizagem. Museus, bibliotecas, centros culturais, feiras livres, praças históricas e até mercados populares funcionam como verdadeiras salas de aula a céu aberto, oferecendo experiências que articulam conhecimento, memória, sensibilidade e cidadania. Durante as férias, explorar esses espaços pode ser uma maneira prazerosa e significativa de ampliar o repertório cultural dos alunos, ao mesmo tempo em que se favorece a autonomia, a observação atenta e a leitura crítica do mundo ao redor.
Muitos desses espaços contam com programações especiais durante o recesso escolar, com oficinas, contações de histórias, exposições interativas, visitas guiadas e apresentações artísticas voltadas ao público infantil e juvenil. A entrada costuma ser gratuita ou de baixo custo, o que torna essas atividades acessíveis para um grande número de famílias. Ainda assim, mesmo quando não há uma programação formal, o simples ato de visitar um lugar diferente — como uma praça arborizada, uma feira de artesanato ou uma biblioteca comunitária — já pode ser transformador, sobretudo quando é vivido com intencionalidade e curiosidade.
O papel dos educadores, nesse contexto, pode ser o de orientar, inspirar e facilitar. Sugerir roteiros culturais pela cidade, indicar locais de interesse próximos ao bairro onde os alunos moram, ou até mesmo construir, com a turma, um “guia coletivo de passeios” são formas de mobilizar as famílias e promover o acesso à diversidade de experiências que a cidade oferece. Além disso, é possível propor que, durante esses passeios, os estudantes façam registros criativos do que viram, ouviram e sentiram — seja por meio de desenhos, fotografias, relatos escritos, vídeos curtos ou mapas afetivos.
A vivência em espaços públicos também favorece o desenvolvimento de um olhar mais atento para as relações sociais, para o patrimônio histórico e cultural, e para a convivência com a diversidade. Visitar um museu pode despertar interesse por períodos históricos; circular por um mercado pode provocar perguntas sobre alimentação, economia, cultura popular; assistir a uma apresentação artística pode inspirar a criação de músicas, danças ou narrativas.
Em um tempo marcado pelo excesso de telas e pela limitação dos espaços de convivência, redescobrir a cidade como um lugar de encontros, aprendizagens e encantamento pode ser uma experiência profundamente formadora — e uma das mais potentes atividades das férias.
Cozinhar em família
Mais do que uma simples tarefa doméstica, cozinhar pode se tornar uma vivência rica, interdisciplinar e profundamente afetiva. Envolver crianças e adolescentes na preparação de receitas durante as férias é uma forma concreta e prazerosa de articular diversas áreas do conhecimento — como matemática, ciências, linguagem, história e geografia — com habilidades socioemocionais fundamentais, como colaboração, paciência, empatia e autonomia.
Do ponto de vista pedagógico, a cozinha é um laboratório vivo. Ler uma receita envolve interpretar textos instrucionais, compreender etapas sequenciais e identificar vocabulários específicos. Medir ingredientes exige aplicar noções de volume, peso, frações e proporções, o que fortalece o raciocínio matemático de maneira aplicada. O tempo de cozimento, o planejamento das etapas e a organização dos utensílios estimulam a capacidade de antecipação, a disciplina e o senso de responsabilidade. E tudo isso acontece em meio a um contexto lúdico, sensorial e cheio de significados afetivos.
Além do aspecto cognitivo, cozinhar em família promove o diálogo intergeracional. É uma oportunidade para que saberes tradicionais — como receitas de avós, histórias por trás dos pratos, hábitos alimentares regionais ou culturais — sejam compartilhados e valorizados. A cozinha se torna um espaço de escuta, memória e construção coletiva. Mesmo as tarefas mais simples, como lavar os ingredientes, misturar a massa ou montar o prato, favorecem o sentimento de pertencimento e a valorização da contribuição de cada um no processo.
Do ponto de vista escolar, os professores podem sugerir que os alunos escolham e executem receitas acessíveis, com ingredientes simples e baixo custo, estimulando-os a registrar o processo por meio de fotos, desenhos, vídeos ou relatos escritos. Esses registros podem incluir desde a escolha da receita até reflexões sobre o resultado, os sabores experimentados e as emoções envolvidas. Ao retornar das férias, esses materiais podem ser compartilhados com a turma, criando oportunidades para discussões sobre alimentação saudável, cultura alimentar, desperdício de alimentos, sustentabilidade e até empreendedorismo.
Cozinhar, portanto, é muito mais do que alimentar o corpo. É uma forma de alimentar vínculos, desenvolver competências e transformar uma atividade cotidiana em um ato pedagógico poderoso. Quando a cozinha se abre como espaço de aprendizagem e convivência, ela se torna também uma extensão da sala de aula — com cheiros, sabores e memórias que os alunos levarão para a vida toda.
Criar, construir, inventar
As férias são um convite à imaginação. Longe dos compromissos escolares formais, as crianças e adolescentes encontram tempo e liberdade para explorar ideias, testar hipóteses, mexer com as mãos e dar forma a suas próprias criações. Atividades que envolvem a construção de objetos, a invenção de jogos, a modelagem de personagens ou a criação de histórias são poderosas aliadas do desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos estudantes — e podem ser realizadas com materiais simples, muitas vezes disponíveis em casa.
Criar é, antes de tudo, um exercício de pensamento. Ao planejar um brinquedo, um jogo de tabuleiro ou uma maquete, os alunos precisam imaginar uma estrutura, definir funções, pensar em regras, testar soluções e revisar suas escolhas. Todo esse processo ativa áreas importantes do cérebro relacionadas à resolução de problemas, pensamento espacial, lógica, criatividade e planejamento. É a chamada “aprendizagem por projetos” em sua versão mais espontânea e prática.
Construir com as próprias mãos também favorece a coordenação motora, a paciência e o trabalho focado. Materiais recicláveis — como rolos de papel, tampinhas, caixas, garrafas, retalhos ou embalagens — se transformam em peças de robôs, cenários de histórias, peças de jogos ou utensílios inventados. O uso de sucata e de materiais alternativos, além de estimular a consciência ambiental e a sustentabilidade, amplia o acesso às atividades, permitindo que todos possam participar, independentemente de recursos financeiros.
A invenção não precisa ter um fim utilitário imediato. Criar uma cidade imaginária, um super-herói inusitado ou um brinquedo que só funcione na fantasia são formas legítimas de expressão e aprendizagem. A ludicidade abre espaço para a experimentação sem medo de errar, para o improviso e para a liberdade criativa — elementos essenciais no desenvolvimento da autonomia intelectual e emocional.
Do ponto de vista do professor, é possível propor aos alunos desafios abertos antes do recesso, como: “Construa algo que resolva um problema da sua casa”, “Invente um jogo que possa ser jogado por duas pessoas” ou “Crie um objeto a partir de três materiais diferentes”. Ao final das férias, essas criações podem ser apresentadas à turma, compartilhadas em murais digitais ou usadas como ponto de partida para projetos interdisciplinares.
Inventar, enfim, é criar mundos possíveis. É transformar ideias em ações, e ações em aprendizados. Ao valorizar esse tipo de atividade nas férias, a escola sinaliza que o conhecimento não está restrito aos livros e às provas — ele também nasce do papelão, da fita adesiva, do improviso e da imaginação sem limites.
Desafios de leitura
A leitura é, por excelência, uma das atividades mais potentes para manter o pensamento ativo durante as férias. Mais do que um hábito escolar, ler é uma forma de viajar sem sair do lugar, de conhecer mundos novos, viver outras vidas, exercitar a empatia e enriquecer o vocabulário. Ao propor desafios de leitura durante o recesso, professores incentivam os alunos a manterem uma relação prazerosa com os livros e os textos — longe da obrigatoriedade e mais perto da descoberta.
Esses desafios não precisam ser complexos ou competitivos. A ideia não é cobrar metas rígidas, mas sim oferecer sugestões lúdicas que estimulem a curiosidade e a continuidade do vínculo com a linguagem escrita. Alguns exemplos simples: “ler três livros de gêneros diferentes”, “descobrir um autor novo”, “ler em voz alta para alguém da família”, “inventar um final alternativo para uma história conhecida”, “criar um poema inspirado em uma cena lida”, ou ainda “montar um varal com as frases favoritas encontradas durante a leitura”.
Além de livros literários, também podem ser valorizadas outras formas de leitura que fazem parte do cotidiano dos estudantes: gibis, tirinhas, receitas, manuais, placas, legendas de filmes, textos em jogos digitais, blogs e até memes. Tudo isso compõe o repertório leitor e pode ser uma ponte entre a leitura tradicional e os textos contemporâneos, mais próximos da realidade dos alunos. O importante é que eles sintam que ler é uma atividade significativa, acessível e que dialoga com seus interesses.
Para os alunos que têm acesso à internet, plataformas como o Domínio Público, a Biblioteca Digital Mundial ou aplicativos gratuitos de leitura oferecem centenas de livros clássicos e contemporâneos em formato digital. Já para aqueles que não dispõem de dispositivos, uma sugestão valiosa é visitar bibliotecas públicas da cidade — muitas delas com acervos infantis e juvenis de excelente qualidade e acesso gratuito.
Outra possibilidade é incentivar a criação de pequenos “clubes de leitura” entre amigos ou familiares. Os alunos podem escolher um livro para ler juntos, conversar sobre os capítulos por chamadas de vídeo ou mensagens de texto e trocar impressões. A leitura, nesse formato, também se torna um exercício de escuta, argumentação e convivência.
Durante as férias, o maior desafio não é garantir a leitura como obrigação, mas cultivar o desejo de ler. Propor atividades que respeitem o ritmo, o gosto e a criatividade dos estudantes ajuda a consolidar esse desejo — e, com ele, o caminho para uma formação leitora duradoura e crítica.
Cuidar do corpo e da mente
As férias são um momento propício não apenas para o descanso, mas também para o cultivo do equilíbrio entre corpo e mente. Após meses de rotinas escolares exigentes, é importante que as crianças e adolescentes tenham tempo e espaço para se reconectar consigo mesmos, desacelerar o ritmo, explorar seus próprios interesses e, ao mesmo tempo, manter hábitos saudáveis que promovam o bem-estar físico, emocional e social.
Atividades ao ar livre, por exemplo, são fundamentais para a saúde corporal e para a relação com o ambiente. Caminhadas em parques, brincadeiras como correr, pular corda, andar de bicicleta ou jogar bola não apenas fortalecem o corpo, como também liberam energia acumulada, favorecem o convívio com outras crianças e reduzem sintomas de ansiedade e estresse. Em tempos em que o sedentarismo infantil tem crescido, promover o movimento como algo divertido e espontâneo é uma necessidade pedagógica e de saúde pública.
Além do corpo, é essencial cuidar do aspecto emocional. Exercícios simples de respiração, práticas de meditação guiada, ioga para crianças ou momentos de silêncio e contemplação são recursos eficazes para desenvolver a atenção plena, o autocontrole e a consciência das emoções. Esses momentos ajudam os alunos a reconhecer o que sentem, nomear suas emoções e lidar melhor com frustrações e conflitos — competências fundamentais para a vida em sociedade e para a aprendizagem.
Durante as férias, os professores podem incentivar atividades que promovam o autoconhecimento e o autocuidado. Por exemplo: manter uma rotina leve, com horários razoáveis de sono e alimentação; reservar um tempo para ficar longe de telas; cuidar de plantas ou de um animal doméstico; escrever sobre o que estão sentindo; ouvir músicas relaxantes; tomar banho de sol; fazer alongamentos ao acordar. São atitudes simples, mas que contribuem de forma profunda para o equilíbrio interno.
Outro aspecto importante é o cultivo de vínculos afetivos. Momentos de diálogo com familiares, conversas despretensiosas, jogos em grupo ou mesmo uma refeição compartilhada sem pressa são formas de nutrir a saúde emocional das crianças e adolescentes. É importante lembrar que o bem-estar não se restringe à ausência de cansaço, mas à presença de relações que acolhem, escutam e respeitam.
Em tempos acelerados e hiperconectados, promover práticas de cuidado com o corpo e a mente não é um luxo, mas uma urgência. Ao incluir esse tipo de orientação nas propostas para o período de recesso, a escola amplia sua função formativa, ajudando os alunos a compreenderem que aprender também é aprender a cuidar de si — com gentileza, consciência e equilíbrio.
Projetos de investigação em casa
Toda criança é, por natureza, uma exploradora do mundo. Questiona, testa, observa, formula hipóteses e busca explicações para os fenômenos ao seu redor. Durante as férias, quando o tempo se torna mais flexível e o ambiente doméstico mais disponível, é possível incentivar essa postura investigativa por meio de projetos simples, acessíveis e profundamente formadores. São experiências que transformam o cotidiano em laboratório e despertam a ciência que mora na vida comum.
Projetos de investigação em casa podem começar com uma pergunta genuína: Por que o gelo derrete? O que faz uma planta crescer? Como se forma o arco-íris? Dá para filtrar água com materiais naturais? Essas perguntas, muitas vezes espontâneas, são o ponto de partida para experimentos que não exigem infraestrutura complexa — apenas curiosidade, materiais simples e espaço para observar e registrar.
Atividades como germinar sementes no algodão, construir um barquinho que flutua, criar uma bússola caseira com ímãs e agulhas, acompanhar as fases da lua ou medir a sombra de um objeto ao longo do dia são formas de mobilizar conceitos científicos de maneira lúdica e investigativa. Cada experimento é uma oportunidade de testar hipóteses, lidar com imprevistos, comparar resultados e desenvolver o raciocínio lógico e a persistência.
Os professores podem, antes do recesso, elaborar uma lista de sugestões de investigações possíveis, sempre respeitando a faixa etária e os recursos disponíveis para as famílias. Também é possível incentivar que os próprios alunos formulem perguntas para investigar, partindo de observações do ambiente onde vivem. Essa autonomia na escolha e condução do experimento torna o processo mais significativo e engajador.
Os registros são parte essencial da experiência. As crianças podem desenhar o passo a passo, escrever pequenos relatos do que observaram ou montar tabelas com resultados. Os mais velhos podem gravar vídeos explicativos, fazer fotografias com legendas ou escrever minirrelatórios com base em suas descobertas. Esses materiais, além de consolidarem a aprendizagem, podem ser compartilhados na volta às aulas como forma de valorizar o esforço investigativo de cada aluno.
Mais do que “ensinar ciência”, os projetos de investigação em casa promovem uma postura científica: questionadora, crítica, criativa. Ao mostrar às crianças que é possível explorar o mundo com olhar atento, mesmo fora da escola, a educação se expande e ganha novas formas — tão rigorosas quanto encantadoras.
Jogos e brincadeiras tradicionais
Em meio ao crescimento acelerado das tecnologias digitais, resgatar jogos e brincadeiras tradicionais é mais do que um ato nostálgico — é um gesto pedagógico e cultural de grande potência. Durante as férias, essas práticas podem (e devem) ocupar um espaço privilegiado no tempo das crianças e adolescentes, oferecendo uma combinação única de movimento, socialização, memória afetiva e aprendizagem informal.
Brincadeiras como amarelinha, esconde-esconde, passa-anel, corre-cotia, pega-pega, telefone sem fio, bolinha de gude, queimada, cinco marias ou até brincadeiras de roda são transmitidas de geração em geração e carregam, em si, repertórios simbólicos e saberes populares que atravessam a história da infância. Elas ensinam regras, promovem o convívio, organizam o espaço, exigem estratégia, atenção e cooperação. Muitas delas não requerem absolutamente nenhum recurso material — apenas presença, tempo e disponibilidade para brincar junto.
Esses jogos são particularmente importantes porque favorecem o brincar livre e coletivo, tão essencial para o desenvolvimento infantil. Em contraste com as experiências muitas vezes solitárias das telas, as brincadeiras tradicionais demandam negociação de regras, turnos, escuta dos colegas e resolução de conflitos. Por meio delas, as crianças aprendem a lidar com a frustração, a celebrar pequenas conquistas, a respeitar limites e a integrar diferentes perfis em uma mesma dinâmica.
Além disso, essas brincadeiras são ricas em possibilidades interdisciplinares. A amarelinha, por exemplo, mobiliza noções de sequência, número e equilíbrio; o telefone sem fio envolve escuta atenta e articulação da fala; as cantigas de roda estimulam a musicalidade, a linguagem oral e a memória. São práticas que combinam corpo, mente, linguagem e afeto, gerando aprendizagens integrais.
Para os professores, sugerir aos alunos que perguntem aos familiares quais brincadeiras faziam quando eram crianças é uma forma de promover um resgate cultural. Isso pode render projetos intergeracionais riquíssimos: entrevistas com avós, registros de cantigas, produção de manuais de brincadeiras ou até recriações em vídeo. Ao retornar das férias, os estudantes podem apresentar essas descobertas, ensinar as brincadeiras à turma ou mesmo propor um “festival de jogos do tempo dos outros”.
Também é importante lembrar que, ao valorizar as brincadeiras populares, valorizamos as culturas locais, os saberes das comunidades e a diversidade da infância brasileira. Essas práticas são inclusivas, flexíveis e acessíveis — e, por isso mesmo, devem ser reconhecidas como parte legítima da formação educacional dos estudantes.
Em um mundo cada vez mais acelerado e individualizado, brincar junto, com o corpo presente e a escuta ativa, pode ser o mais necessário dos gestos educativos. Que as férias possam devolver às crianças o direito ao tempo do brincar — e, com ele, ao aprendizado que nasce da tradição e se renova a cada riso partilhado.
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