Adotando uma metodologia ativa, com ênfase na sala de aula invertida e debate socrático, o plano incentiva a investigação e a participação ativa dos alunos, promovendo conexões entre texto, contexto e território.
Professores de Geografia e Língua Portuguesa podem colaborar na condução da aula ou planejar ações conjuntas para expandir a proposta interdisciplinar. Ao final, os alunos serão capazes de identificar, analisar e refletir sobre os múltiplos aspectos do espaço africano, a partir de uma obra literária engajada e rica em representações.
Esta abordagem amplia o repertório dos estudantes, ao trazer visões africanas autênticas e contribui para a descolonização do olhar sobre o continente africano, ainda muito estigmatizado no ensino básico.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta sequência didática, espera-se que os alunos compreendam criticamente a ligação entre o espaço geográfico africano – com foco na região do Mayombe – e o contexto histórico e político da luta de libertação em Angola. A leitura do romance Mayombe oferece o suporte narrativo necessário para problematizar os diversos usos do espaço, as fronteiras naturais e artificiais, além das dinâmicas sociopolíticas que moldam as relações territoriais. Docentes podem propor atividades de georreferenciamento com mapas da região, relacionando elementos mencionados no livro com dados geográficos reais.
Além disso, busca-se desenvolver a habilidade de leitura crítica e interpretação de representações simbólicas do território africano. Os personagens de Mayombe expressam diferentes visões sobre identidade, território, cultura e poder, o que permite discussões em sala sobre como o espaço é representado em narrativas literárias. Professores podem incentivar comparações entre trechos selecionados do livro e imagens, charges ou reportagens atuais sobre a região, promovendo a análise crítica de estereótipos e narrativas eurocentradas.
Outro objetivo essencial é promover a interdisciplinaridade entre Geografia e Literatura, criando pontes curriculares significativas que valorizam a produção intelectual africana em língua portuguesa. A colaboração entre docentes dessas áreas pode incluir atividades como seminários integrados, criação de podcasts temáticos pelos alunos ou exposição literário-geográfica. Essa prática valoriza autores africanos e amplia a compreensão dos estudantes sobre a diversidade de perspectivas sobre o continente.
Essa abordagem permite ainda discutir conceitos como colonização, nacionalismo, territorialidade e pertencimento, contextualizando-os com as experiências de resistência e de construção de identidade presentes na obra. Ao estimular o contato com literaturas africanas e suas realidades geográficas, consolida-se uma aprendizagem crítica e humanizada, fundamental no ensino médio.
Materiais Utilizados
Para a aplicação deste plano interdisciplinar envolvendo Geografia e Literatura, é essencial reunir materiais que possibilitem aos alunos construir uma compreensão crítica e contextualizada da obra Mayombe e da realidade africana. Os trechos selecionados da obra podem ser distribuídos antecipadamente em formato digital (PDFs disponíveis online) ou solicitados aos alunos via empréstimo em bibliotecas escolares. Recomenda-se selecionar passagens que evidenciem elementos geográficos, culturais e sociais da narrativa, facilitando a análise textual integrada.
O mapa físico e político da África, com foco especial em Angola e a floresta do Mayombe, contribui para a visualização espacial do enredo. Professores podem propor atividades de localização e análise do relevo, clima e vegetação correspondentes às áreas retratadas na ficção, criando conexões entre o texto e o sentido geográfico real. Esses mapas podem ser impressos ou projetados na sala para debates coletivos.
Ferramentas como projetor multimídia ou lousa digital são úteis para apresentar slides, vídeos documentais e mapas interativos. Além disso, o uso de cartolinas, post-its e marcadores favorece dinâmicas participativas, como esquemas visuais em grupo ou painéis com frases ilustrativas retiradas do livro. Tais recursos promovem o engajamento e facilitam a expressão criativa dos aprendizados.
Por fim, o uso de computadores ou celulares com acesso à internet amplia as possibilidades de pesquisa autônoma durante a aula invertida. Os alunos podem investigar temas como o colonialismo em Angola, a luta armada, atores históricos e dados atuais sobre a região — conteúdos que podem ser discutidos em roda de conversa ou incorporados em apresentações multimodais. É importante garantir também a inclusão digital, organizando a turma em grupos ou utilizando espaço de laboratório de informática da escola.
Metodologia Utilizada e Justificativa
A aula adota a metodologia ativa da sala de aula invertida, em que os alunos leem previamente os trechos selecionados de Mayombe e, em sala, interagem com o conteúdo por meio de debates, análises cartográficas e produção coletiva de painéis temáticos. Ao chegar preparados para a aula, os estudantes se tornam protagonistas do processo de aprendizagem, o que promove maior envolvimento com os temas abordados.
Durante a aula, os professores podem estimular a construção de mapas mentais que relacionem as regiões descritas na obra com os conflitos geopolíticos de Angola na década de 1970. A leitura crítica dos espaços geográficos apresentados por Pepetela, aliada à contextualização histórica, reforça a capacidade dos alunos de interpretar territórios sob múltiplas dimensões — física, política, social e simbólica.
Além disso, o uso de painéis temáticos permite aos alunos apresentarem conteúdos em grupo, promovendo colaboração, expressão oral e síntese de conhecimentos. A construção de painéis pode ser dividida em núcleos temáticos como “Natureza e Território”, “Identidade e Etnia” e “Conflitos e Fronteiras”, fomentando discussões pertinentes à geografia crítica e à literatura engajada.
Essa abordagem metodológica justifica-se pelo seu potencial formativo: possibilita que os alunos desenvolvam não apenas competências cognitivas, mas também socioemocionais, como empatia e respeito à diversidade. Ao propor uma análise do texto literário com lentes geográficas, amplia-se o repertório dos estudantes e promove-se uma leitura descolonizadora da África, resgatando vozes locais e narrativas pouco exploradas no currículo tradicional.
Desenvolvimento da Aula
Preparo da Aula
Antes de iniciar a aula, é essencial que o professor selecione cuidadosamente os trechos da obra Mayombe que melhor evidenciem os temas geográficos e culturais propostos. Trechos que retratem o cotidiano dos guerrilheiros, sua interação com a floresta e os dilemas culturais são ideais. Recomenda-se ainda a preparação de um dossiê digital com mapas políticos e físicos de Angola, infográficos sobre a Guerra de Independência e vídeos curtos que contextualizem o período.
Introdução da Aula (10 min)
Comece situando os alunos no tempo e no espaço: apresente a localização geográfica de Angola na África e destaque a Floresta do Mayombe, através de projeção em mapas digitais ou físicos. Conduza uma breve conversa coletiva, solicitando aos alunos que compartilhem percepções iniciais do país. Essa troca ajuda a ativar os conhecimentos prévios e engajar a turma na temática.
Atividade Principal (30 a 35 min)
Divida a turma em grupos heterogêneos e distribua diferentes trechos de Mayombe, cada um acompanhado por perguntas orientadoras. Use questões como “Que características do espaço natural são descritas?”, “Quais formas de organização social aparecem?” ou “Que tensões territoriais estão implícitas no texto?”. Incentive os alunos a fazerem conexões com os mapas e o contexto apresentado anteriormente. Os painéis podem ser elaborados em papel kraft, cartolina ou de forma digital, utilizando ferramentas como Canva ou Google Slides.
Na sequência, realize uma plenária em que os grupos apresentem suas análises. O professor atua como mediador, estimulando a reflexão crítica e conectando diferentes observações. Essa socialização amplia a visão dos alunos sobre o continente africano e promove um diálogo interdisciplinar eficaz.
Fechamento (5 a 10 min)
Finalize com um debate guiado à luz da pergunta: “Como a literatura contribui para repensar o espaço geográfico e os sujeitos que nele vivem?”. Registre no quadro as principais contribuições e aprendizagens compartilhadas. Encoraje a turma a refletir sobre estereótipos relacionados à África, ressaltando a importância de autores africanos no papel de protagonistas de suas histórias. Como sugestão, disponibilize uma lista de leitura complementar com outros escritores africanos para ampliar o repertório da turma.
Avaliação / Feedback
A avaliação formativa proposta neste plano de aula visa acompanhar o progresso dos estudantes ao longo das atividades, valorizando mais o processo do que apenas os resultados finais. A participação nos debates, a escuta ativa e a colaboração nas análises de grupo serão critérios centrais para a observação do desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos alunos.
Para tornar o momento de avaliação mais reflexivo e autônomo, recomenda-se a aplicação de formulários online de autoavaliação, utilizando ferramentas como Google Forms ou Microsoft Forms. Nesses formulários, os estudantes podem avaliar sua própria participação, engajamento e compreensão dos temas trabalhados, além de oferecer sugestões para melhoramento da aula.
O professor deve também aplicar uma avaliação qualitativa baseada em critérios específicos: capacidade de articular elementos literários e geográficos, reconhecer categorias do espaço como território, lugar e paisagem, e argumentar de forma consistente com base na obra “Mayombe”. Grupos que apresentarem painéis devem ser avaliados quanto à clareza da exposição, originalidade das conexões estabelecidas e uso de referências adequadas.
Uma dica prática é criar uma rubrica de avaliação colaborativa, construída junto aos alunos no início do processo. Isso contribui com a transparência dos critérios avaliativos e favorece a responsabilização de cada estudante pelo seu aprendizado. Por fim, incentivar a troca de feedbacks entre pares também promove a escuta ativa e o aprimoramento coletivo da turma.
Resumo (para os alunos)
Nesta aula, exploramos a obra Mayombe, de Pepetela, como ponto de partida para compreender aspectos importantes da geografia da África, especialmente de Angola. A partir da narrativa, mergulhamos nos conflitos territoriais, nas paisagens da floresta do Mayombe e nas implicações sociais e culturais da luta de libertação angolana. O texto literário nos ajudou a compreender como o espaço geográfico influencia e é influenciado por processos históricos e políticos.
Durante as atividades, analisamos trechos selecionados para identificar elementos como relevo, vegetação, uso do solo e características dos grupos humanos envolvidos no contexto da guerra de independência. Essa abordagem reforça a importância da literatura como ferramenta de ensino em Geografia e possibilita novas maneiras de enxergar o continente africano para além dos estereótipos.
Além da leitura da obra, incentivamos o uso de recursos complementares como mapas físicos e políticos da África, documentários sobre a história de Angola e debates em sala de aula para discutir como a geografia é retratada de forma simbólica e realista na literatura. A integração entre diferentes disciplinas permite uma aprendizagem mais crítica e completa.
Para continuar estudando o tema, indicamos diversos materiais gratuitos acessíveis online. A obra completa, o Dossiê África da UNESP, um artigo sobre a Floresta do Mayombe e um curso gratuito sobre História da África oferecido pela UnB são fontes excelentes para aprofundar os estudos.