Como referenciar este texto: Redação – Dissertação: dialogando com o RAP nacional (Plano de aula – Ensino médio). Rodrigo Terra. Publicado em: 22/11/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/redacao-dissertacao-dialogando-com-o-rap-nacional-plano-de-aula-ensino-medio/.
Ao usar letras de RAP como ponto de partida, a aula busca mostrar aos estudantes como elementos do cotidiano e da cultura popular podem ser utilizados como fontes válidas na construção de textos dissertativos. A proposta serve também como exercício de cidadania e reconhecimento da pluralidade de vozes do Brasil.
Com base na canção “Marginal pelas marginal, Sampa até o final”, o professor mediará a análise crítica de trechos da letra e oferecerá ferramentas técnicas para que o aluno aprimore sua argumentação escrita, num diálogo entre linguagem, cultura e sociedade.
A proposta ainda estabelece uma conexão interdisciplinar com a Sociologia, ao articular problemáticas estruturais como desigualdade, mobilidade urbana e violência. Assim, amplia-se a possibilidade de desenvolver uma redação mais crítica, engajada e coerente.
Para facilitar a prática docente, todos os materiais sugeridos são acessíveis e os recursos digitais recomendados são gratuitos e provenientes de instituições públicas ou plataformas colaborativas.
Objetivos de Aprendizagem
O plano de aula propõe como objetivo central permitir que os estudantes compreendam como elementos da cultura popular, como o RAP nacional, podem ser aproveitados como fontes autênticas de repertório sociocultural em textos dissertativo-argumentativos. Isso significa reconhecer que letras de músicas compostas nas periferias carregam narrativas potentes sobre temas como racismo, desigualdade social e resistência — temas esses que dialogam diretamente com propostas exigidas em avaliações como o ENEM. Ao estudar canções como “Marginal pelas marginal”, o aluno descobre que sua vivência e a de sua comunidade podem gerar argumentos igualmente válidos na construção textual.
Outro objetivo é desenvolver a habilidade de leitura crítica e análise de discurso. O RAP, por ser uma narrativa construída com intencionalidade política e social, proporciona uma rica oportunidade de examinar recursos estilísticos, figuras de linguagem e estratégias argumentativas. O professor pode propor, por exemplo, uma atividade em que os alunos identifiquem trechos da letra que criticam estruturas sociais e, a partir disso, elaborem parágrafos dissertativos argumentando sobre a mesma questão.
O exercício com o gênero dissertativo-argumentativo ainda contribui para a melhoria da coesão e coerência textual, uma vez que os alunos precisarão organizar seus argumentos com clareza e bom encadeamento lógico. Uma dica prática é fazer com que os alunos construam coletivamente uma tese a partir da letra do RAP analisada e, depois, cada grupo desenvolva um parágrafo com argumentos e exemplos que sustentem essa tese. Posteriormente, pode-se revisar os textos em duplas, identificando possibilidades de melhorias na argumentação.
Além disso, a proposta busca valorizar manifestações artísticas populares como expressões legítimas da realidade social brasileira. Debater o RAP na sala de aula é reconhecer que saberes oriundos da periferia e da juventude negra — muitas vezes ignorados — têm espaço na produção acadêmica e escolar. Isso amplia a autoestima dos estudantes e abre novas perspectivas sobre o que é considerado ‘conhecimento cultural’ válido.
Por fim, essa abordagem também trabalha transversalmente com temas de cidadania e direitos humanos, além de dialogar com conteúdos de Sociologia. Assim, os objetivos de aprendizagem deste plano permitem desenvolver competências essenciais tanto para a formação crítica quanto para a performance em avaliações externas que valorizam domínio de repertório e construção argumentativa sólida.
Materiais Utilizados
Para garantir o bom desenvolvimento da aula, é fundamental ter os materiais preparados e organizados previamente. A letra da música escolhida, como “Marginal Men”, seja do Rapadura ou dos Racionais MC’s, deve estar impressa em quantidade suficiente para todos os estudantes. O professor pode selecionar a versão que mais dialoga com os objetivos da aula ou com a realidade dos alunos. A análise textual exige cópias em mãos para facilitar marcações, anotações e discussões em grupo.
Além das cópias, recomenda-se o uso de um data show ou uma caixa de som portátil para a reprodução da música em sala de aula. O áudio ajuda os estudantes a perceberem elementos sonoros importantes, como ritmo, entonação e pausas que também comunicam sentido. Isso contribui para uma leitura mais sensível e contextualizada da letra.
Os estudantes deverão ter acesso a papel sulfite ou seus próprios cadernos para anotações e esboço das redações. Nesse momento, vale incentivar a produção colaborativa inicial, com tomadas de nota coletivas antes das versões individuais. Essa etapa favorece o desenvolvimento de argumentos consistentes e bem construídos.
Outro recurso essencial é um computador ou laptop com acesso à internet para consultar o repositório de redações do ENEM disponível no site oficial do INEP (https://enem.inep.gov.br/). A exploração de exemplos reais de redações anteriores pode ajudar os alunos a compreenderem os critérios de avaliação e os elementos que tornam um texto argumentativo eficaz.
Por fim, é recomendável que o professor tenha em mãos um guia didático ou roteiro da aula para organizar o tempo disponível e os momentos de transição entre escuta, leitura, análise e produção textual. O uso dos recursos propostos deve ocorrer de forma integrada e estratégica, favorecendo a aprendizagem significativa por meio do RAP e da prática dissertativa.
Metodologia Utilizada e Justificativa
A metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) foi escolhida por incentivar o protagonismo estudantil e favorecer um aprendizado mais significativo. Os alunos serão convidados a investigar temas sociais a partir de letras de RAP nacional, desenvolvendo, com o apoio do professor, uma dissertação argumentativa que dialogue com essas problemáticas. Essa escuta crítica não apenas aprimora a interpretação textual, como também estimula a empatia e o pensamento crítico.
Os estudantes, divididos em grupos, farão uma análise dos versos da canção “Marginal pelas marginal, Sampa até o final”. Cada grupo irá selecionar um problema social presente na letra — como desigualdade urbana, violência ou falta de acesso à educação — e pesquisar dados, depoimentos e referências culturais para compor sua argumentação. A construção textual se dará ao longo de várias etapas, com oficinas intermediárias de tese, coesão textual e uso de repertório sociocultural.
Essa estratégia fomenta a interdisciplinaridade com a Sociologia, especialmente na análise de estruturas sociais que impactam a vida nas periferias. O RAP, enquanto manifestação cultural autêntica e próxima à realidade de muitos jovens, atua como catalisador de reflexões profundas, levando os alunos a revalorizarem seus referenciais e experiências de vida.
Além disso, o projeto promove habilidades como escuta ativa, cooperação e planejamento. Para isso, o professor pode recorrer a ferramentas digitais gratuitas, como o Google Jamboard para mapas conceituais ou o Mentimeter para enquetes em tempo real, facilitando a mediação e o engajamento em sala.
Ao final, cada aluno produzirá uma dissertação individual, mas embasada nas pesquisas coletivas. Essa proposta reforça a autoria e a autonomia, elementos chave no desenvolvimento da escrita dissertativa. A utilização do RAP como ponto de partida contribui para o reconhecimento de saberes locais e marginalizados como repertórios legítimos, valorizando a pluralidade presente na sociedade brasileira.
Preparo da Aula
Antes da aula, o professor deve selecionar cuidadosamente a letra do RAP a ser trabalhada. É fundamental avaliar o conteúdo da música sob os critérios pedagógicos, refletindo se seus versos dialogam com temas socialmente relevantes e se apresentam linguagem compatível com o ambiente escolar. Uma boa prática é optar por letras que tratem de temas como desigualdade, violência urbana, preconceito racial e mobilidade social, conectando-os aos temas recorrentes nas propostas de redação do ENEM.
Após a escolha da canção – como por exemplo “Marginal pelas marginal, Sampa até o final” –, recomenda-se imprimir as letras para distribuição em sala. Ao mesmo tempo, o professor deve preparar os equipamentos de áudio com antecedência, testando caixas de som e acesso à internet, caso vá utilizar uma plataforma digital como YouTube ou Spotify para reprodução da música.
Paralelamente, pode ser útil reunir exemplos de redações nota mil no ENEM que tenham utilizado referências culturais como RAP, cinema marginal ou literatura periférica, apresentando essas redações aos alunos para demonstrar como construir argumentos sólidos com apoio em repertórios legitimados.
Também é recomendável preparar um breve histórico sobre o artista ou grupo autor da música escolhida, de modo a contextualizar sua produção na cena do RAP nacional. Isso pode ser feito com slides, vídeos curtos ou fragmentos de entrevistas disponíveis em canais confiáveis.
Por fim, o professor pode montar um roteiro de discussão que envolva questões sociológicas e linguísticas, o que enriquece o planejamento interdisciplinar e ancora os alunos em argumentos sólidos para suas redações. Com isso, o preparo da aula vai além da reprodução musical, favorecendo a reflexão crítica e a produção textual significativa.
Introdução da Aula (10 min)
A abertura da aula tem como objetivo criar empatia e engajamento imediato com os alunos. O professor inicia com uma conversa descontraída perguntando sobre os estilos musicais preferidos da turma: “Que músicas vocês têm escutado ultimamente? Existe alguma que faz você pensar sobre o lugar que você vive?”. Essa abordagem valoriza a escuta ativa e reconhece o universo cultural dos jovens, facilitando a transição para os conteúdos propostos.
Após a troca inicial, é apresentado o tema da aula: a relação entre o RAP nacional e a produção da redação dissertativo-argumentativa. O professor explicita o objetivo da aula, esclarecendo que os alunos irão analisar a letra da música “Marginal pelas marginal, Sampa até o final” como ponto de partida para entender e praticar a estrutura da dissertação.
É importante nessa etapa contextualizar brevemente o RAP como forma de crítica social e expressão cultural legítima. O professor pode fazer um pequeno histórico sobre o gênero no Brasil, destacando artistas influentes e sua relevância nas discussões sobre desigualdade, periferia, mobilidade urbana e conflitos sociais.
Uma dica prática é projetar ou distribuir trechos da letra em papel ou digitalmente, para que todos tenham acesso ao conteúdo. Ao mesmo tempo, é possível tocar um trecho da música para imersão sonora, tornando o momento mais dinâmico e impactante.
Por fim, o professor deve estimular a curiosidade dos alunos com perguntas instigantes: “O que essa letra diz sobre a cidade em que vivemos?”, “Vocês já vivenciaram alguma situação parecida com as descritas na música?”. Essas provocações abrem espaço para que estudantes comecem a construir seu ponto de vista e se sintam confiantes para desenvolver argumentos expressos na futura produção textual.
Atividade Principal (30 a 35 min)
Nesta etapa central da aula, o professor inicia com a audição da música “Marginal pelas marginal, Sampa até o final” em sala de aula, usando equipamento de som simples ou recursos digitais como o YouTube ou Spotify. Reproduzir a canção por inteiro ajuda a contextualizar os temas abordados e atrai a atenção dos estudantes para a linguagem expressiva do RAP. Após o primeiro contato auditivo, distribui-se a letra impressa para facilitar a análise textual.
Com a letra em mãos, os alunos são organizados em duplas para realizar a leitura crítica. Eles devem grifar ou marcar expressões que representem denúncias sociais ou críticas recorrentes na realidade urbana. Nesta fase, é importante destacar trechos que tratem de desigualdade social, violência, marginalização ou aspectos do cotidiano periférico. O professor pode circular pela sala, orientando a interpretação e incentivando a autonomia dos grupos.
Uma vez destacados os trechos relevantes, cada dupla identifica dois temas sociais presentes na letra e, com base neles, constrói uma tese argumentativa. Por exemplo, a partir de um trecho que fale sobre a violência policial, pode-se formular uma tese sobre a seletividade da repressão estatal. Já uma crítica à falta de transporte pode gerar uma discussão sobre mobilidade urbana e direito à cidade.
Os argumentos devem ser organizados com coerência, buscando conectar o conteúdo da canção a aspectos sociais mais amplos. O professor estimula os alunos a pensar como o RAP nacional pode servir como repertório sociocultural legítimo, algo valorizado no ENEM. Em seguida, as duplas compartilham suas contribuições com a turma, enquanto o docente faz anotações no quadro com as principais ideias.
Por fim, os estudantes desenvolvem individualmente a introdução de uma redação dissertativa. Cada introdução deve conter uma contextualização do tema, a tese escolhida e uma breve apresentação dos argumentos que seriam tratados no desenvolvimento. Este exercício fortalece a capacidade de análise crítica e o domínio da estrutura textual exigida pelo ENEM.
Fechamento (5 a 10 min)
Para encerrar a aula com impacto e reforçar os aprendizados, o professor pode projetar ou distribuir cópias de uma redação nota mil do ENEM que tenha utilizado referências culturais, especialmente musicais, como parte do repertório sociocultural. A análise deve destacar elementos fundamentais como a clareza da tese, a articulação dos argumentos com repertórios pertinentes e o uso eficiente de estratégias coesivas ao longo do texto.
Durante essa leitura comentada, é importante pontuar como o uso do RAP ou de outras formas de arte popular pode enriquecer a argumentação, desde que bem contextualizado e devidamente relacionado à temática proposta. A ideia é mostrar que referências ao cotidiano dos estudantes também são válidas e valorizadas em avaliações formais.
Em seguida, o professor faz uma breve sistematização dos pontos-chave da aula: o que caracteriza uma boa tese, quais são os critérios para a seleção e uso de repertórios culturais, e de que maneira a arte pode ser vista como expressão crítica da realidade social. Esse momento de recapitulação ajuda os alunos a retomarem os conceitos de maneira mais organizada e significativa.
Como encaminhamento, propõe-se que os estudantes finalizem em casa a redação iniciada em sala. É interessante que o professor ofereça critérios claros para essa produção, como delimitação de tema, extensão e aspectos textuais específicos a serem observados (argumentação, repertório, coesão e coerência).
Para professores que desejam ampliar ainda mais essa proposta, é possível sugerir que os alunos tragam trechos de músicas que considerem politicamente relevantes, criando uma nova atividade futura de análise e escrita. Essa continuidade promove o envolvimento com a cultura local e o protagonismo discente.
Avaliação / Feedback
A avaliação será formativa, ocorrendo ao longo da aula, a partir da participação ativa dos estudantes nas discussões coletivas e na análise crítica dos trechos musicais de RAP selecionados. Esse tipo de avaliação permite ao professor acompanhar o desenvolvimento do pensamento argumentativo e estimular o engajamento contínuo com o conteúdo proposto.
Durante as atividades de leitura e interpretação das letras, o docente pode direcionar perguntas abertas que provoquem reflexões, observando a profundidade das respostas e a capacidade do aluno de relacionar o conteúdo com questões sociais. Também é importante avaliar o uso adequado de repertório sociocultural e a construção lógica dos argumentos apresentados oralmente.
Além da avaliação oral, os estudantes serão incentivados a redigir introduções de textos dissertativos com base na temática trabalhada. Esses trechos escritos podem ser recolhidos individualmente e devolvidos com anotações personalizadas, visando orientar a continuidade da produção textual completa. Comentários claros, com sugestões de ampliação do ponto de vista, correções estruturais e indicações de repertório, ajudam significativamente na progressão da escrita.
Uma dica prática é utilizar uma rubrica de avaliação que aborde critérios como coerência argumentativa, organização textual, pertinência do repertório e clareza na exposição das ideias. Esse instrumento pode ser compartilhado previamente com os alunos, aumentando a transparência do processo avaliativo.
Ao final da atividade, sugere-se ainda reservar um momento de metacognição, no qual os próprios alunos reflitam sobre suas produções e recebam feedbacks dos colegas de maneira construtiva. Isso favorece a autonomia e o senso crítico, além de consolidar os objetivos de aprendizagem interdisciplinares propostos na aula.
Resumo para os alunos
Nesta aula, mergulhamos no universo do RAP nacional para compreender melhor como desenvolver uma dissertação argumentativa sólida e engajada. Partimos da análise da música “Marginal pelas marginal, Sampa até o final”, refletindo sobre as mensagens expressas e sua relação com questões sociais relevantes como desigualdade, exclusão urbana e violência. Essas temáticas serviram como ponto de partida para a elaboração de teses e argumentos que expressam posicionamento crítico.
Vocês exercitaram a construção da introdução de uma dissertação com base em trechos selecionados da canção, desenvolvendo habilidades essenciais como a contextualização do tema, a construção de uma tese clara e a definição dos tópicos que serão aprofundados nos parágrafos de desenvolvimento. A proposta mostra que a arte urbana, especialmente a música RAP, pode ser referência válida e rica para enriquecer a argumentação, utilizando repertórios culturais legitimamente brasileiros.
Foi possível observar o quanto a produção de vocês melhorou quando conectaram suas experiências pessoais e visões com o conteúdo das letras. Essa abordagem não só fortalece a escrita como também valoriza a diversidade de vozes e vivências presentes na sala de aula. Lembrem-se: uma dissertação de qualidade trata de temas amplos, mas com uma perspectiva pessoal e reflexiva.
Como tarefa de casa, vocês devem expandir a introdução elaborada em sala e redigir o texto completo. Aproveitem para incluir repertórios como outros trechos de letras, dados de pesquisas ou referências a fatos sociais contemporâneos. Isso enriquece seu texto e demonstra domínio de conteúdo e consciência crítica, qualidades muito valorizadas em correções como a do ENEM.
Dica: acessem o site oficial do INEP para consultar redações nota mil. Analisem como os candidatos costuram repertórios culturais com argumentos bem estruturados. Usem isso como inspiração para refinar sua escrita, mantendo sempre a autenticidade da sua voz.