Como referenciar este texto: 6 prompts inovadores do ChatGPT para atividades de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental I. Rodrigo Terra. Publicado em: 14/12/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/6-prompts-inovadores-do-chatgpt-para-atividades-de-lingua-portuguesa-no-ensino-fundamental-i/.
O desafio pedagógico é desenhar prompts (comandos) que incentivem o aluno a pensar, comparar, reorganizar e criar, e não apenas a “copiar respostas prontas”. A qualidade da pergunta feita ao ChatGPT influencia diretamente a qualidade da aprendizagem: prompts bem planejados levam a interações ricas, que desenvolvem leitura, escrita, oralidade e análise linguística.
Neste artigo, apresento seis prompts inovadores pensados especificamente para professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Cada prompt pode ser aplicado em diferentes níveis de letramento, com adaptações simples de vocabulário, extensão dos textos e grau de apoio oferecido pelo docente.
A proposta é que você use o ChatGPT como ferramenta de mediação: os estudantes interagem com a IA em atividades guiadas, enquanto você observa, orienta, faz perguntas complementares e ajuda a transformar as respostas em objetos de estudo. Assim, a tecnologia fortalece metodologias ativas, como aprendizagem por projetos, rotação por estações e sala de aula invertida.
Ao final, você terá um repertório inicial de prompts-semente para criar muitos outros, alinhados à BNCC, às necessidades da turma e aos recursos digitais disponíveis na escola. Use, adapte, remix e, principalmente, convide seus alunos a co-criarem os próximos prompts com você.
1. Prompt para reescrever histórias em diferentes níveis de complexidade
Uma forma poderosa de usar o ChatGPT nas aulas de Língua Portuguesa é pedir que ele reescreva a mesma história em diferentes níveis de complexidade. O professor pode começar escolhendo um pequeno conto conhecido pelos alunos (como uma fábula, uma lenda ou um trecho de um livro já trabalhado em sala) e, em seguida, criar um prompt do tipo: “Reescreva esta história em três versões: uma para alunos que estão começando a ler, outra para leitores intermediários e outra mais detalhada, para leitores avançados do Ensino Fundamental I.” Assim, a IA gera textos com variações de vocabulário, tamanho das frases e quantidade de detalhes, permitindo que a turma compare e discuta essas diferenças.
Com o material em mãos, é possível organizar atividades diferenciadas. Os alunos em fase inicial de alfabetização podem trabalhar com a versão mais simples, focando em reconhecer palavras, reler em voz alta e ilustrar as cenas principais. Já aqueles com maior fluência leitora podem explorar a versão intermediária ou avançada, identificando elementos da narrativa, como personagens, cenário, conflito e desfecho. O professor pode ainda pedir que os estudantes reescrevam, à mão ou no computador, um trecho de uma versão para aproximá-lo do nível de outra, refletindo sobre o que precisam mudar para simplificar ou complexificar o texto.
Esse tipo de prompt também é excelente para desenvolver a consciência linguística. Em uma roda de conversa, o professor pode projetar na tela duas versões geradas pelo ChatGPT e perguntar: “O que esta frase tem que a outra não tem?”, “Por que este parágrafo é mais fácil de entender?”, “Que palavras deixaram o texto mais ‘difícil’ ou mais ‘rico’?”. A turma passa, então, a perceber que não existe apenas um jeito “certo” de escrever, mas escolhas de linguagem adequadas a cada público e situação de leitura, o que está diretamente ligado às habilidades previstas na BNCC.
Outra possibilidade é envolver os estudantes na criação dos próprios prompts. Em grupos, eles podem decidir que tipo de adaptação desejam: deixar a história mais engraçada, mais assustadora, mais poética ou mais informativa, sempre em dois ou três níveis de complexidade. Depois, com o apoio do professor, digitam o comando no ChatGPT, analisam o resultado e fazem uma revisão coletiva, riscando, acrescentando ou substituindo trechos. Desse modo, a IA deixa de ser apenas uma “máquina que escreve” e se torna um espelho para que os alunos observem e discutam suas próprias decisões de escrita.
Por fim, esse prompt permite conectar leitura e produção de texto a outras áreas do currículo. A mesma história pode ser reescrita em nível simples para ser usada nas aulas de Ciências (explicando um fenômeno natural em forma de conto) ou em Matemática (narrando uma situação-problema). Ao controlar a complexidade com o apoio do ChatGPT, o professor consegue adaptar conteúdos para diferentes faixas de letramento dentro da mesma turma, evitando exclusões e promovendo a participação de todos nas atividades propostas.
2. Prompt para investigar pontuação e sentido em pequenos textos
Este prompt convida os estudantes a investigar como a pontuação interfere diretamente no sentido de pequenos textos. A ideia é que o professor proponha ao ChatGPT algo como: “Crie três versões de um mesmo mini-texto (2 a 3 frases), mudando apenas a pontuação. Em seguida, faça perguntas para a turma comparar os sentidos e explicar o que mudou.” A partir disso, a IA produz variações do texto e perguntas orientadoras, enquanto os alunos analisam, discutem e justificam suas interpretações.
Um possível caminho é começar com enunciados curtos e do cotidiano, como bilhetes, avisos ou diálogos simples. Por exemplo, um bilhete sem pontuação é apresentado ao ChatGPT para que ele gere duas ou três formas diferentes de pontuar: uma que soe mais carinhosa, outra mais autoritária, outra confusa. Depois, a turma lê cada versão em voz alta, percebe mudanças na entonação e discute como a posição da vírgula, do ponto final ou do ponto de exclamação altera a intenção do emissor.
O professor também pode pedir que o ChatGPT elabore perguntas metalinguísticas sobre cada versão, tais como: “Que sentimento esse texto passa?”, “O que acontece se colocarmos ponto final em vez de ponto de exclamação?”, “Quem parece estar falando com quem?”. Essas questões ajudam os alunos a relacionar pontuação, organização das frases e efeitos de sentido, indo além da simples memorização de regras. A IA funciona como uma fonte de exemplos variados, enquanto a turma é desafiada a explicar por que cada sinal foi usado.
Para ampliar a atividade, é possível solicitar ao ChatGPT que produza pequenos textos com erros de pontuação para que os estudantes atuem como “detetives da língua”, corrigindo e justificando suas escolhas. Depois de a turma revisar, o professor pode pedir à IA uma versão “comentada”, que destaque, em linguagem acessível, o papel de cada sinal de pontuação naquele texto. Assim, os alunos confrontam suas hipóteses com uma explicação complementar e consolidam a aprendizagem.
Esse tipo de prompt favorece a leitura atenta, o desenvolvimento da oralidade (na leitura expressiva) e a reflexão sobre a escrita como construção de sentidos, não apenas como obediência a normas. Ao articular as produções do ChatGPT com discussões em grupo, reescritas coletivas e registros no caderno, o professor transforma a pontuação em um tema de investigação e de experimentação criativa, aproximando a gramática do uso real da língua nas diferentes situações de comunicação.
3. Prompt para criação colaborativa de personagens e cenários
Este prompt convida os estudantes a criarem, junto com o ChatGPT, personagens e cenários para histórias, peças de teatro, tirinhas ou jogos narrativos. Em vez de receber tudo pronto, a turma vai alimentando a IA com ideias: primeiro escolhe um tipo de personagem (criança, animal falante, robô, personagem histórico etc.), depois define características físicas, emocionais e comportamentais, construindo um retrato rico que pode servir de base para diferentes produções textuais. O professor atua como mediador, ajudando a turma a justificar as escolhas e a relacioná-las com o gênero textual que será trabalhado.
Uma forma prática de usar esse prompt é iniciar com uma pergunta ampla, como: “ChatGPT, ajude a nossa turma a criar um personagem principal para uma história de aventura, fazendo perguntas para nós até que o personagem fique bem definido”. A partir daí, a IA devolve questões sobre idade, desejos, medos, talentos, defeitos e contexto de vida do personagem, estimulando o vocabulário descritivo e a reflexão sobre coerência: se o personagem é muito tímido, como ele reage diante de um desafio arriscado? Se vive em uma cidade futurista, que tecnologias estão ao redor dele no cotidiano?
Depois do personagem, o prompt pode se estender para a criação de cenários, guiando os estudantes a pensar em tempo (dia, noite, passado, futuro), espaço (floresta, escola, outro planeta, fundo do mar) e clima emocional (assustador, engraçado, misterioso, aconchegante). O professor pode solicitar ao ChatGPT que proponha três cenários contrastantes para o mesmo personagem, pedindo que os alunos comparem qual deles combina melhor com o tipo de história que desejam contar. Essa comparação abre espaço para discutir elementos de ambientação, campo semântico e coesão entre personagem e lugar.
O trabalho colaborativo fica ainda mais potente quando o prompt inclui papéis distribuídos: parte da turma sugere traços físicos, outra parte cuida da personalidade, outra inventa o passado do personagem, enquanto a IA organiza tudo em um parágrafo final de apresentação. Em seguida, outro grupo se responsabiliza pelos detalhes do cenário, e o ChatGPT ajuda a transformar anotações soltas em descrições completas, com início, meio e fim. Assim, cada aluno vê sua contribuição aparecer no texto coletivo, o que fortalece o engajamento e o senso de autoria.
Para aprofundar o uso pedagógico, o professor pode pedir ao ChatGPT que gere variações do mesmo personagem e cenário, alterando apenas um aspecto por vez (por exemplo, “e se o mesmo personagem fosse mal-humorado?”, ou “e se a história se passasse no inverno em vez do verão?”). Os estudantes comparam as versões, identificam mudanças linguísticas (adjetivos, advérbios, verbos) e discutem como pequenas alterações de descrição modificam o clima da narrativa. Dessa forma, o prompt não serve apenas para “inventar histórias”, mas para desenvolver consciência linguística, ampliação de vocabulário e compreensão do papel dos elementos narrativos.
4. Prompt para oficinas de revisão e melhoria de textos dos alunos
Nesta proposta, o ChatGPT é usado como parceiro de revisão em oficinas de escrita, ajudando os estudantes a melhorar textos que eles próprios já produziram. Em vez de entregar um texto “perfeito e pronto”, o prompt deve convidar a IA a agir como um leitor atencioso, que faz comentários, sugere mudanças e oferece perguntas que levem o aluno a refletir sobre clareza, coerência e correção linguística. O foco é transformar o momento da revisão em uma etapa criativa do processo de escrita, e não em uma simples “caça aos erros”.
Um modelo de prompt que o professor pode usar é: “Você é um professor de Língua Portuguesa que ajuda crianças do 4º/5º ano a revisar textos. Vou colar abaixo o texto de um aluno. Primeiro, faça um elogio sincero destacando dois pontos positivos (como ideias criativas, organização ou vocabulário interessante). Depois, aponte até três sugestões de melhoria, explicando de forma simples o motivo de cada uma. Por fim, reescreva apenas um parágrafo como exemplo de melhoria, mantendo o estilo do aluno.” Esse tipo de comando orienta a IA a respeitar a autoria da criança e a priorizar comentários formativos.
Para turmas em alfabetização ou anos iniciais, o professor pode adaptar o vocabulário do prompt: pedir frases mais curtas, explicações com exemplos concretos e, se necessário, que o ChatGPT destaque visualmente partes do texto a serem melhoradas (“circule”, “marque entre parênteses” etc., que depois o aluno pode reproduzir no caderno). Também é possível limitar o foco da revisão: em um dia, trabalhar apenas pontuação final; em outro, organização de parágrafos; em outro, substituição de repetições por sinônimos mais adequados à idade.
Durante a oficina, os alunos podem trabalhar em duplas: um digita o texto no computador ou tablet, enquanto o outro acompanha a resposta da IA e faz anotações no rascunho original. O professor circula pela sala, ajudando a interpretar os comentários do ChatGPT, negociando o que será ou não adotado na versão final do texto. Assim, a revisão deixa de ser uma correção “de cima para baixo” e se torna uma conversa entre três participantes: aluno, professor e IA.
Por fim, é interessante reservar um momento para comparar a primeira versão com a versão revisada, pedindo aos alunos que expliquem, oralmente ou por escrito, quais mudanças decidiram fazer e por quê. Esse metarrelato sobre o próprio texto desenvolve consciência linguística e senso de autoria. O uso do ChatGPT, então, não é um atalho para ter textos “perfeitos”, mas uma maneira de tornar visível o processo de reescrita, fortalecendo a autonomia dos estudantes como escritores em formação.
5. Prompt para jogos de leitura inferencial e pistas de contexto
Uma forma poderosa de desenvolver a leitura inferencial nos anos iniciais é propor jogos em que as crianças precisam “ler nas entrelinhas” e usar pistas de contexto para completar, corrigir ou antecipar informações. Com o ChatGPT, você pode criar pequenos textos enigmáticos, cheios de pistas espalhadas ao longo dos parágrafos, e desafiar os alunos a descobrir o que não está dito de forma explícita: quem são as personagens, onde estão, o que pode acontecer em seguida e por que certos acontecimentos fazem sentido na história.
Você pode, por exemplo, pedir ao ChatGPT: “Crie um texto curto, para alunos do 3º ano, em que o nome da personagem principal não apareça. Use apenas pistas de contexto para que as crianças tentem descobrir se é uma menina, um menino, um adulto ou um idoso. No final, proponha 3 perguntas de inferência.” A partir desse comando, a turma lê o texto em voz alta, discute as pistas (vocabulário, ações, modo de falar, objetos citados) e registra, em grupo, as hipóteses construídas. O objetivo não é “acertar a resposta secreta da IA”, mas justificar as inferências com base no texto.
Outra possibilidade é transformar o ChatGPT em um “mestre dos enigmas de leitura”. Você pode solicitar: “Crie um parágrafo descrevendo uma cena, mas sem dizer diretamente o lugar. Use pistas para que os alunos descubram se a cena acontece em uma escola, em casa ou em um parque. Depois, faça perguntas que ajudem a localizar as pistas no texto.” Em seguida, os estudantes sublinham as evidências, marcam as pistas de contexto e explicam o raciocínio: que palavras ou expressões revelam o cenário, o clima, o tempo, o humor das personagens?
Para trabalhar níveis diferentes de dificuldade, basta ajustar o prompt: pedir textos mais curtos e com pistas muito claras para turmas em fase inicial de alfabetização, ou narrativas um pouco mais longas, com pistas mais sutis, para alunos do 4º e 5º ano. Você também pode solicitar ao ChatGPT que produza versões alternativas de um mesmo texto, trocando apenas algumas pistas de contexto (por exemplo, mudar o horário do dia, o gênero do narrador ou o clima), e propor que as crianças comparem as versões, identificando o que foi alterado e como isso muda as inferências.
Por fim, convide os próprios alunos a criarem enigmas de leitura para “desafiar” o ChatGPT. Depois de trabalharem com alguns exemplos gerados pela IA, peça que escrevam pequenos textos com pistas escondidas e, então, digitam um comando como: “Leia o texto que vou colar e tente adivinhar quem é a personagem e onde ela está, explicando quais pistas você usou.” Assim, a leitura inferencial se integra à produção de texto e à revisão: as crianças aprendem que escrever bem também é escolher pistas adequadas para orientar o leitor, e o ChatGPT funciona como um leitor-teste, que devolve justificativas que podem ser analisadas e discutidas em sala de aula.
6. Prompt para ampliação de vocabulário em campos semânticos
Este prompt é pensado para ajudar os alunos a ampliar o vocabulário de forma organizada, trabalhando a ideia de campos semânticos: grupos de palavras que pertencem ao mesmo “universo de sentido”. Em vez de apenas listar sinônimos soltos, a proposta é explorar famílias de palavras ligadas a um mesmo tema (como “escola”, “natureza”, “esportes”, “emoções”), percebendo relações de proximidade e diferença de significado. Isso favorece tanto a compreensão leitora quanto a produção de textos mais ricos e variados.
Um caminho prático é pedir ao ChatGPT que atue como um “organizador de palavras”. Por exemplo: “ChatGPT, escolha o campo semântico ‘escola’ e crie três listas: (1) objetos da escola, (2) pessoas da escola, (3) ações que acontecem na escola. Use palavras simples, adequadas para alunos do 3º ano do Ensino Fundamental, e traga exemplos de frases curtas com essas palavras.” A partir daí, a turma pode discutir quais palavras já conhecia, quais são novas e como usá-las em diferentes contextos.
Outra variação é trabalhar com campos semânticos ligados a temas de projetos interdisciplinares. Em um projeto sobre meio ambiente, por exemplo, o professor pode solicitar: “Liste palavras do campo semântico ‘floresta’: sons, cheiros, cores, animais, plantas e sensações. Depois, crie um parágrafo descritivo usando pelo menos 10 dessas palavras, em linguagem adequada ao 4º ano.” O professor pode, então, pedir ao ChatGPT versões com maior ou menor nível de dificuldade, adaptando o vocabulário para diferentes níveis da turma.
Para incentivar a reflexão metalinguística, o prompt pode pedir ao ChatGPT que ajude os alunos a comparar palavras dentro de um mesmo campo semântico, discutindo nuances de sentido. Exemplo: “Explique a diferença de uso entre ‘feliz’, ‘contente’, ‘animado’ e ‘eufórico’, criando pequenas situações do dia a dia em que cada palavra seria a mais adequada. Use linguagem clara e exemplos próximos da realidade de crianças do 5º ano.” Assim, os estudantes aprendem não só novas palavras, mas também quando e por que escolhê-las.
Por fim, o professor pode transformar o ChatGPT em um parceiro de jogos de vocabulário. Um prompt possível: “Proponha um jogo em que os alunos recebam uma palavra de um campo semântico (por exemplo, ‘cozinha’) e precisem adivinhar outras palavras relacionadas com base em pistas dadas por você. Traga regras simples, 20 pistas e variações do jogo para serem usadas com 2º, 3º e 4º anos.” Dessa forma, o trabalho com campos semânticos deixa de ser uma tarefa abstrata e passa a ser uma experiência lúdica, que combina descoberta de palavras novas, conversa em grupo e criação de textos coletivos.