A água é um fator chave nesse contexto: sua abundância ou escassez, qualidade e acúmulo inadequado estão diretamente ligados à proliferação de criadouros. A tragédia ambiental de Mariana, causada pela ruptura da barragem da Samarco (Vale), é um caso emblemático que exemplifica como o desequilíbrio ambiental pode favorecer o aparecimento de surtos de doenças transmitidas por vetores.
Por isso, propõe-se aqui uma metodologia ativa baseada na Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), a fim de desenvolver o pensamento crítico dos alunos, integrando o conhecimento científico à realidade social e ambiental do país, além de propor soluções para problemas locais.
A interdisciplinaridade com Geografia e Química será explorada por meio do entendimento de mapas epidemiológicos, clima e ciclos biogeoquímicos da água, ampliando o repertório dos estudantes e fortalecendo as competências do novo ensino médio.
Objetivos de Aprendizagem
Este plano de aula busca desenvolver competências essenciais nos alunos do ensino médio, alinhadas com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), integrando conteúdos de Biologia, Química e Geografia. Um dos principais objetivos é fazer com que os estudantes compreendam a relação entre o ciclo da água e a proliferação dos mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika, chikungunya e malária. A partir de atividades práticas, como a análise de mapas pluviométricos e dados epidemiológicos reais, os alunos poderão correlacionar períodos de chuvas intensas com o aumento de casos dessas doenças.
Um segundo objetivo central é incentivar o pensamento crítico sobre a ação humana no meio ambiente. Situações como o descarte inadequado de lixo, ocupação desordenada do solo e a degradação de áreas naturais são exemplos de fatores antrópicos que contribuem com o desequilíbrio ecológico e favorecem o surgimento de criadouros. A investigação desses problemas pode ser feita por meio de roteiros de observação e coleta de dados no bairro da escola, promovendo uma abordagem contextualizada e cidadã.
Além disso, os estudantes deverão mobilizar seus conhecimentos em diversas disciplinas para diagnosticar e propor soluções reais. Por exemplo, podem calcular o tempo de decomposição de recipientes plásticos (Química), avaliar o regime de chuvas na região (Geografia) e identificar etapas da metamorfose do mosquito (Biologia), conectando os saberes para pensar em estratégias de controle e prevenção. Esses exercícios interdisciplinares fomentam a compreensão da complexidade dos problemas ambientais e sanitários, estimulando ações responsáveis.
Por fim, espera-se que os alunos desenvolvam propostas de intervenção social que possam ser apresentadas para a comunidade escolar, como campanhas educativas, criação de mapas colaborativos de risco ou até construção de armadilhas simples para mosquitos. Com isso, o aprendizado extrapola os limites da sala de aula, provocando mudanças reais no entorno e promovendo uma educação transformadora e engajada.
Materiais utilizados
Para a condução eficaz dessa atividade interdisciplinar, uma seleção estratégica de materiais é fundamental. Os mapas epidemiológicos, disponíveis no site do Ministério da Saúde, serão utilizados para análise dos padrões de ocorrência de doenças transmitidas por mosquitos, permitindo aos alunos correlacionar fatores ambientais com dados reais. Em sala, os professores podem estimular a interpretação dos mapas com perguntas sobre regiões com maior incidência de casos e possíveis correlações geográficas ou climáticas.
O uso de cartolina ou folhas A3 será essencial para a construção de mapas conceituais, nos quais os alunos representarão relações entre água, vetores e doenças. Essa atividade favorece o aprendizado visual e a organização lógica das ideias. Já o computador com acesso à internet será útil para pesquisas orientadas, acesso à base de dados oficiais, vídeos e artigos científicos ou jornalísticos que contextualizam o tema de maneira atualizada.
Outro recurso importante são imagens e reportagens sobre o desastre de Mariana. Elas serão utilizadas para ilustrar os impactos reais do desequilíbrio ambiental e fomentar o debate sobre as consequências sociais e sanitárias de eventos como esse. O professor pode guiar os alunos em uma análise crítica sobre a gestão de recursos hídricos, políticas públicas e justiça ambiental.
Como complemento lúdico à aprendizagem, o jogo digital “Agentes da Saúde”, do CNJ, proporciona uma experiência interativa em que os estudantes assumem o papel de agentes comunitários, enfrentando desafios semelhantes aos encontrados na vida real. Essa ferramenta auxilia no desenvolvimento do senso de responsabilidade e pensamento estratégico, integrando saberes científicos e cidadania.
Metodologia utilizada e justificativa
A metodologia escolhida para este plano de aula é a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), que propõe o engajamento ativo dos estudantes na investigação de problemas reais, colaborando na construção do conhecimento. Neste caso, o problema discutido será o agravamento de doenças transmitidas por mosquitos após eventos como enchentes ou rompimento de barragens – fenômenos que alteram drasticamente o ambiente e favorecem a proliferação dos vetores.
A escolha pela ABP se justifica por sua capacidade de promover pensamento crítico e autonomia intelectual. Os alunos serão estimulados a levantar hipóteses, buscar dados (como índices de chuva, registros epidemiológicos e mapas de uso da terra), validar informações científicas e propor soluções para prevenir a reprodução de mosquitos. Por exemplo, podem planejar ações de conscientização comunitária ou criar protótipos de dispositivos simples para evitar o acúmulo de água parada.
A interdisciplinaridade é outro eixo essencial: o tema conecta Biologia (ciclos da água, doenças vetoriais, ecologia), Química (contaminação de corpos d’água, composição química da água e resíduos tóxicos) e Geografia (distribuição dos vetores, clima, impactos socioambientais). Tais articulações fortalecem as habilidades previstas na BNCC, especialmente no ensino por áreas.
Em sala de aula, a proposta pode ser aplicada em etapas: inicia-se com uma situação-problema real (como a tragédia de Mariana ou episódios de enchentes urbanas), seguida de uma pesquisa orientada em grupos, compartilhamento e debate de hipóteses e, por fim, a construção colaborativa de uma solução viável. Essa abordagem estimula não apenas o aprendizado dos conteúdos específicos, mas também o engajamento social e a percepção ambiental dos estudantes.
Desenvolvimento da aula
Preparo da aula
Para garantir uma aula rica em dados e reflexões, o professor deve preparar com antecedência materiais visuais impactantes, como mapas epidemiológicos nacionais de diferentes anos e imagens significativas do desastre de Mariana. Esses elementos estimularão a reflexão crítica e contextualização do conteúdo. Também é importante que o docente formule perguntas problematizadoras, como: “Por que certos locais apresentam maior incidência de doenças como dengue e zika?” ou “Quais são os efeitos ambientais de uma tragédia como Mariana sobre a saúde pública?”
Certifique-se de que os recursos tecnológicos estejam disponíveis, como computadores com acesso à internet e projetores, se possível. Isso permitirá que os alunos acessem bancos de dados, plataformas de visualização de mapas e ferramentas colaborativas como Google Docs ou Canva para criação de mapas conceituais.
Introdução da aula (10 min)
O início da aula tem como objetivo engajar os alunos a partir de uma situação real. Exiba imagens da tragédia de Mariana e proponha um debate inicial. Incentive os alunos a relacionarem o desastre com o aumento de casos de doenças infecciosas. Perguntas como “Como o acúmulo de água pode incentivar a proliferação de mosquitos?” ou “Qual a relação entre desastres ambientais e saúde humana?” podem direcionar a discussão.
Atividade principal (30-35 min)
Divida a turma em grupos, atribuindo a cada um uma doença transmitida por vetores. Oriente-os a investigar os fatores ecológicos que favorecem a proliferação dessas doenças, incluindo a influência dos ciclos da água e das ações humanas nos ecossistemas. Cada grupo deve montar um mapa conceitual digital ou em papel que integre causas, consequências, agentes envolvidos, e possíveis intervenções para reduzir os impactos.
Como atividade complementar, apresente o jogo educativo “Agentes da Saúde”, disponível online ou impresso, reforçando conceitos como ciclo de vida dos mosquitos, prevenção e políticas públicas. Essa etapa lúdica reforça o conteúdo e desenvolve a empatia ao colocar os alunos no papel de solucionadores de problemas de saúde pública.
Fechamento (5-10 min)
A aula se encerra com apresentações breves dos mapas conceituais, permitindo a troca de conhecimentos entre grupos. Finalize com uma síntese conceitual destacando como intervenções humanas nos ecossistemas podem desencadear surtos de doenças. Ressalte o papel da ciência integrada à cidadania na prevenção de novos desastres e na construção de soluções sustentáveis para a saúde coletiva.
Avaliação / Feedback
A avaliação formativa será uma ferramenta central neste plano de aula, incentivando o engajamento contínuo dos alunos e sua capacidade de refletir criticamente sobre os conteúdos trabalhados. Para isso, serão observados aspectos como participação ativa nas discussões, elaboração de hipóteses durante os problemas propostos e clareza dos argumentos apresentados.
Uma das estratégias avaliativas será a construção de mapas conceituais em grupo, nos quais os estudantes deverão representar as inter-relações entre água, vetores como o Aedes aegypti e fatores sociais que influenciam os surtos de doenças. A habilidade de conectar conceitos ecológicos aos contextos urbanos, como o caso do rompimento da barragem em Mariana, será especialmente valorizada.
Ao final da aula, será promovido um momento de feedback coletivo, no qual os alunos poderão compartilhar suas percepções sobre o processo de aprendizagem e as soluções sugeridas para os problemas apresentados. O professor destacará os pontos fortes observados — como raciocínio lógico, criatividade e cooperação — e oferecerá sugestões para aprofundamento, como leitura complementar sobre ciclos biogeoquímicos ou análise de dados epidemiológicos reais.
Como sugestão prática para os docentes, é recomendável o uso de rubricas claras para avaliação dos mapas conceituais e apresentações orais, possibilitando um retorno individualizado mais eficaz e transparente. Além disso, um formulário anônimo pode ser utilizado para os alunos avaliarem a própria experiência com a metodologia ativa, promovendo a autorreflexão e a melhoria contínua do processo de ensino-aprendizagem.
Resumo para os alunos
Nesta aula, vocês compreenderam a complexa relação entre os ciclos naturais da água, os desequilíbrios ambientais e a proliferação de doenças transmitidas por vetores, como dengue, zika, chikungunya e malária. Ao analisar o papel dos mosquitos Aedes e Anopheles, vimos como fatores como o acúmulo de água parada, alterações no clima e intervenções humanas mal planejadas contribuem para o aumento dos focos dessas doenças.
Examinamos juntos o caso do rompimento da barragem em Mariana, que, além dos impactos sociais e ecológicos diretos, também criou ambientes propícios para a reprodução de mosquitos. Por meio desse estudo, identificamos como tragédias ambientais podem desencadear problemas de saúde pública, servindo como alerta para práticas sustentáveis de gestão ambiental.
Durante a aula, vocês criaram mapas conceituais para conectar conceitos de biologia, ecologia e saúde pública, além de participarem de atividades interativas com o jogo educativo Agentes da Saúde. O objetivo foi reforçar o entendimento de forma lúdica, promovendo o raciocínio crítico na tomada de decisões sobre prevenção e controle de doenças.
Para ampliar seus conhecimentos, recomendamos visitar o portal do Ministério da Saúde, onde é possível acompanhar mapas e boletins atualizados sobre estas doenças. Lembre-se: entender os processos ecológicos e seus impactos é o primeiro passo para agir localmente pela saúde coletiva.