No momento, você está visualizando Como usar o Fungus com Unity para desenvolver narrativas interativas na educação

Como usar o Fungus com Unity para desenvolver narrativas interativas na educação

Como referenciar este texto: Como usar o Fungus com Unity para desenvolver narrativas interativas na educação. Rodrigo Terra. Publicado em: 18/11/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/como-usar-o-fungus-com-unity-para-desenvolver-narrativas-interativas-na-educacao/.


 
 

O Fungus é uma ferramenta gratuita e de código aberto desenvolvida para facilitar o storytelling interativo em Unity. Com uma interface amigável e recursos visuais, ele permite a criação de diálogos ramificados, cutscenes, interações com personagens e lógica de escolhas múltiplas, sem a necessidade inicial de conhecimento avançado em programação.

Integrar o Fungus ao Unity pode ampliar significativamente as possibilidades de projetos pedagógicos que utilizam metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em projetos (PBL) e o design thinking educacional. Ao construir experiências interativas, os alunos não apenas consomem conteúdo, mas participam de sua construção.

Este artigo apresenta orientações iniciais para professores interessados em utilizar o Fungus com Unity, oferecendo direções práticas sobre como transformar ideias educacionais em histórias digitais jogáveis, além de sugestões para aplicar essa tecnologia de forma significativa em sala de aula.

Vamos explorar como essa poderosa combinação pode transformar o ensino e estimular a criatividade dos educadores e alunos.

 

O que é o Fungus e por que usá-lo em educação

O Fungus é um plugin gratuito para Unity que permite a criação de narrativas interativas por meio de fluxogramas visuais e ferramentas intuitivas. Ele surgiu da demanda por uma abordagem acessível ao desenvolvimento de jogos narrativos e é especialmente útil para professores interessados em storytelling digital.

No contexto educacional, o Fungus possibilita a criação de experiências imersivas onde os alunos tomam decisões, resolvem dilemas e vivenciam histórias com objetivos pedagógicos claros. Essa abordagem favorece o engajamento afetivo e cognitivo.

Por exemplo, um professor de história pode usar o Fungus para criar uma simulação interativa da Revolução Francesa, em que os alunos assumem papéis como membros do Terceiro Estado, da nobreza ou da realeza, fazendo escolhas que afetam os rumos da narrativa. Esse tipo de experiência promove o pensamento crítico, o trabalho em equipe (caso seja desenvolvido em grupos) e a contextualização histórica.

Além disso, o uso do Fungus não exige conhecimentos avançados de programação, facilitando a adoção por educadores de diversas áreas. É possível começar criando pequenas histórias com escolhas binárias e evoluir para tramas mais complexas com ramificações e condições lógicas. O importante é alinhar a história aos objetivos de aprendizagem, garantindo intencionalidade pedagógica em cada decisão tomada pelo aluno-jogador.

 

Como integrar o Fungus ao Unity

O primeiro passo para integrar o Fungus ao Unity é garantir que o Unity esteja instalado em uma versão compatível (2020.3 ou superior). Com o Unity aberto, acesse a Asset Store e pesquise por “Fungus”. Após localizá-lo, clique em “Add to My Assets” e, em seguida, importe os arquivos diretamente para seu projeto Unity. O Fungus será incorporado automaticamente à interface do Unity, disponibilizando menus e opções específicas para começar a criação de recursos narrativos.

Com o Fungus ativo, você poderá utilizar o menu dedicado para criar Flowcharts, que funcionam como fluxogramas visuais para estruturar suas histórias. Cada bloco representa uma ação — como falas de personagens, reproduções de áudio ou transições de cena — e pode ser conectado a outros blocos para criar ramificações e múltiplas possibilidades de percurso narrativo. Essa abordagem é ideal para educadores, pois permite criar mecânicas de escolha e consequência nos projetos, mesmo sem experiência prévia em codificação.

Outro ponto forte do Fungus é a facilidade em integrar diversos tipos de mídias diretamente nos blocos dos Flowcharts. Imagens, áudios, vídeos e sprites de personagens podem ser arrastados para os componentes certos, ajudando a tornar a experiência mais rica e engajadora para os estudantes. Por exemplo, um professor pode desenvolver uma narrativa sobre meio ambiente em que o aluno escolhe ações sustentáveis — cada ação levando a consequências diferentes simbolizadas por cenas diversas.

Para aplicar em sala de aula, recomenda-se propor atividades em que os alunos criem suas próprias histórias interativas baseadas em temas curriculares. Com tutoriais disponíveis na própria comunidade do Fungus e documentação acessível, os professores podem introduzir o uso da ferramenta aos poucos, iniciando com exemplos simples e, à medida que ganham confiança, explorar scripts personalizados ou integrar outras funcionalidades do Unity.

 

Aplicações pedagógicas do storytelling interativo

O storytelling interativo oferece um imenso potencial para o desenvolvimento de projetos pedagógicos criativos e engajadores. Ao utilizar ferramentas como o Fungus no Unity, professores podem propor atividades nas quais os alunos criam suas próprias histórias digitais com objetivos educacionais claros. Por exemplo, em uma aula de História, pode-se desenvolver uma narrativa em que o jogador assume o papel de um personagem da Revolução Francesa, tomando decisões que afetam o curso dos eventos. Essa abordagem estimula a pesquisa, a interpretação de dados históricos e a capacidade de se colocar no lugar do outro.

Em Ciências, é possível criar simulações interativas nas quais os alunos exploram cadeias alimentares, ciclos da água ou ecossistemas. Utilizando a lógica de escolhas múltiplas do Fungus, os alunos podem ser desafiados a tomar decisões com base em conceitos científicos, observando as consequências de suas escolhas no ambiente virtual.

As possibilidades se estendem também à Matemática, com aventuras gamificadas que envolvem resolução de problemas e raciocínio lógico. Um exemplo prático seria desenvolver uma história em que o estudante precisa usar operações matemáticas para ajudar um personagem a atravessar um labirinto ou salvar sua comunidade. Já na área de Filosofia ou Sociologia, dilemas éticos podem ser tratados por meio de enredos que desafiem o pensamento crítico e promovam o debate em sala.

Nessas experiências, a narrativa não é apenas uma forma de transmitir conteúdo, mas funciona como estrutura organizadora do conhecimento. Ela motiva os alunos, proporciona contexto para a aprendizagem e os envolve de forma emocional, cognitiva e colaborativa. Incentivar que os próprios estudantes sejam autores de suas narrativas fortalece habilidades de comunicação, empatia e trabalho em equipe, alinhando-se às competências da BNCC.

 

Metodologias ativas impulsionadas pelo Fungus

Ao utilizar o Fungus com Unity, professores têm uma oportunidade única de aplicar metodologias ativas como a aprendizagem baseada em projetos (PBL), a gamificação e a sala de aula invertida. Por meio dessas abordagens, os alunos deixam de ser apenas receptores de informação e passam a ser protagonistas no processo de aprendizagem. Criando narrativas interativas com Fungus, os estudantes exercitam competências como tomada de decisão, resolução de problemas e planejamento estratégico.

Na prática, os professores podem propor desafios como a criação de histórias que abordem conteúdos curriculares – por exemplo, simular um enredo histórico, uma investigação científica ou um dilema ético dentro de um jogo. Com ferramentas visuais e lógica acessível, o Fungus permite estruturar essas experiências sem exigir dos estudantes conhecimento técnico aprofundado, tornando mais inclusiva a introdução à produção digital.

Além disso, os projetos podem ser organizados em grupos interdisciplinares, nos quais os alunos assumem funções específicas, como roteiristas, artistas visuais, programadores ou sonoplastas. Essa dinâmica replica contextos reais de produção criativa, incentivando colaboração, empatia e habilidades socioemocionais. A diversidade de papéis permite que cada aluno contribua com seus talentos e interesses particulares, potencializando o engajamento e a aprendizagem significativa.

Para aplicar essa proposta com sucesso, os educadores podem iniciar com oficinas introdutórias sobre narrativa e lógica condicional, depois avançar com a exploração prática do Fungus a partir de exemplos simples. Essa jornada pode culminar com feiras de apresentação, em que os alunos compartilham seus jogos com a comunidade escolar, valorizando o processo e ampliando o impacto da experiência educativa.

 

Dicas práticas para começar com Fungus em sala de aula

Começar com Fungus em sala de aula é mais simples do que parece. Uma dica valiosa é iniciar com projetos pequenos e objetivos, como narrativas interativas de curta duração com dois personagens e decisões que gerem até duas ou três ramificações. Isso ajuda os alunos a entenderem rapidamente como funcionam as estruturas de decisão e causa-efeito em narrativas digitais. Por exemplo, um enredo que simule uma escolha ambiental (reciclar ou não reciclar) pode gerar desfechos que ilustram consequências no meio ambiente.

Use os tutoriais oficiais do site do Fungus em conjunto com atividades práticas. Dividir os alunos em grupos e propor que cada um desenvolva uma parte da história — como diálogos, personagens ou cenários — promove colaboração e distribui as tarefas de forma equilibrada. Além disso, montar oficinas práticas semanais estimula a experimentação e ajuda a desenvolver habilidades tanto técnicas quanto narrativas.

Definir um escopo viável e alinhar os projetos aos objetivos de aprendizagem são passos fundamentais. Por exemplo, em uma aula de história, uma narrativa interativa pode simular diferentes decisões políticas durante períodos históricos, permitindo que os alunos compreendam múltiplas perspectivas através das escolhas feitas nos jogos. Nesses casos, o professor atua como mediador e orientador, incentivando reflexões críticas a partir das trajetórias escolhidas pelos personagens.

Por fim, não é necessário que o professor tenha domínio completo do Unity. Foque na construção da narrativa, na coerência da história e na intencionalidade pedagógica por trás de cada escolha. À medida que ganharem familiaridade, alunos e professores podem integrar recursos mais avançados como variáveis, condições e animações que tornem a experiência ainda mais envolvente.

 

Exemplos inspiradores de uso educacional

Diversas escolas têm experimentado o Fungus em projetos interdisciplinares, aproveitando seu potencial para estimular o pensamento crítico e a criatividade dos alunos. Um exemplo marcante é um projeto de História em que estudantes recriaram os eventos políticos da Roma Antiga através de uma narrativa interativa. Usando diálogos ramificados, eles puderam explorar diferentes desfechos históricos de acordo com as decisões simuladas, promovendo uma compreensão mais profunda do contexto sociopolítico.

Outro caso interessante é o uso do Fungus em aulas de Filosofia e Ética, onde os alunos criaram histórias baseadas em dilemas morais. As narrativas exigiam que os jogadores fizessem escolhas fundamentadas em teorias éticas, como o utilitarismo e o deontologismo. Essa abordagem favoreceu a argumentação e o desenvolvimento da empatia, além de tornar os conceitos abstratos mais tangíveis e significativos.

Em Ciências, professores relataram sucesso com a construção de aventuras interativas sobre pandemias, onde os alunos exploravam o impacto de decisões sanitárias e aprendiam sobre biologia e saúde pública de maneira envolvente. Já em Língua Portuguesa, turmas do ensino fundamental criaram contos interativos explorando estruturas narrativas, estilos de linguagem e construção de personagens.

Essas experiências demonstram que o Fungus pode ser uma poderosa ferramenta transversal, alinhando-se às competências da BNCC como comunicação, resolução de problemas e pensamento crítico. Para aplicá-lo em sala de aula, recomenda-se começar com roteiros simples, trabalhar em grupos e refletir com os alunos sobre as escolhas realizadas em cada história.

 

Próximos passos na formação docente

Para seguir evoluindo no uso do Fungus e do Unity em sala de aula, é essencial que os professores busquem constantemente formação em áreas relacionadas a design de jogos, narrativa interativa e desenvolvimento de experiências digitais. Cursos online gratuitos, como os oferecidos por plataformas como Coursera, Udemy e Khan Academy, podem ser acessados por qualquer docente interessado em expandir suas competências técnicas.

Oficinas práticas presenciais ou remotas, organizadas por instituições educacionais e grupos de cultura maker, oferecem um espaço valioso para experimentar ferramentas como o Fungus de forma colaborativa e aplicada ao contexto escolar. Participar de grupos de estudo interdisciplinares com outros professores permite trocar experiências, criar projetos em conjunto e refletir sobre as abordagens pedagógicas mais eficazes.

Uma estratégia importante é começar a documentar e organizar os projetos que envolvem storytelling interativo desenvolvidos com os alunos, formando um portfólio digital. Este portfólio pode não só evidenciar a aprendizagem dos estudantes, mas também servir como inspiração e modelo para outros educadores que desejam adotar metodologias semelhantes.

Por fim, publicar relatos de prática em blogs educacionais, apresentar projetos em feiras escolares ou encontros pedagógicos e compartilhar códigos e roteiros adaptados em repositórios como o GitHub são formas de ampliar o impacto dessas experiências, contribuindo para a valorização do trabalho docente e o fortalecimento da comunidade educacional inovadora.

 

Rodrigo Terra

Com formação inicial em Física, especialização em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional e Docência, e graduação em Ciências de Dados, construí uma trajetória sólida que une educação, tecnologias ee inovação. Desde 2001, dedico-me ao campo educacional, e desde 2019, atuo também na área de ciência de dados, buscando sempre encontrar soluções focadas no desenvolvimento humano. Minha experiência combina um profundo conhecimento em educação com habilidades técnicas em dados e programação, permitindo-me criar soluções estratégicas e práticas. Com ampla vivência em análise de dados, definição de métricas e desenvolvimento de indicadores, acredito que a formação transdisciplinar é essencial para preparar indivíduos conscientes e capacitados para os desafios do mundo contemporâneo. Apaixonado por café e boas conversas, sou movido pela curiosidade e pela busca constante de novas ideias e perspectivas. Minha missão é contribuir para uma educação que inspire pensamento crítico, estimule a criatividade e promova a colaboração.

Deixe um comentário