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Desmos na sala de aula: como transformar o ensino de Matemática com ferramentas digitais gratuitas

Como referenciar este texto: Desmos na sala de aula: como transformar o ensino de Matemática com ferramentas digitais gratuitas. Rodrigo Terra. Publicado em: 03/12/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/desmos-na-sala-de-aula-como-transformar-o-ensino-de-matematica-com-ferramentas-digitais-gratuitas/.


 
 

Para professoras e professores, o Desmos representa a chance de tornar a Matemática mais visual, investigativa e colaborativa, sem exigir instalação de programas, computadores potentes ou licenças pagas. Basta um navegador (ou aplicativo) e conexão à internet para começar.

Neste artigo, vamos olhar o Desmos com o olhar pedagógico: quais são as principais ferramentas, como usá-las em situações de aprendizagem e como elas dialogam com a BNCC e com abordagens como sala de aula invertida, ensino híbrido, aprendizagem baseada em problemas e STEAM.

A proposta não é apenas listar recursos, mas oferecer “sementes de aula” e estratégias para que você consiga levar o Desmos gradualmente para sua prática, seja no Ensino Fundamental II, Ensino Médio, cursos técnicos ou EJA.

Ao final, você terá um roteiro claro para experimentar o Desmos em diferentes momentos da aula, com orientações sobre planejamento, avaliação e inclusão digital, ampliando a participação dos estudantes e o protagonismo na construção de significados matemáticos.

 

Ecossistema Desmos: muito além da calculadora gráfica

Quando alguém conhece o Desmos pela primeira vez, quase sempre é pela calculadora gráfica, com seus gráficos suaves e animações em tempo real. Mas o ecossistema da plataforma é bem mais amplo. Além da calculadora, há ambientes específicos para criar atividades interativas, explorar estatística e regressão, trabalhar com geometria dinâmica e até construir simulações que se aproximam de programação visual. Esse conjunto de ferramentas se integra em uma mesma conta gratuita, permitindo que professoras e professores organizem turmas, compartilhem atividades e acompanhem o progresso dos estudantes em tempo real.

Um dos pilares do ecossistema é o Desmos Classroom, onde vivem as atividades interativas. Nele, é possível usar coleções prontas, alinhadas a diferentes níveis de ensino, ou criar seus próprios conjuntos de telas (screens) com questões abertas, gráficos, tabelas, sliders, blocos de texto e checks de entendimento. O professor visualiza as respostas em um painel de controle, acompanha o raciocínio de cada estudante e decide quando projetar algumas produções para discussão coletiva, fortalecendo a aprendizagem colaborativa e a avaliação formativa.

Outro componente poderoso é o ambiente de Geometria Desmos, que funciona como um “laboratório de construções” diretamente no navegador. Com ele, é possível trabalhar construções clássicas de régua e compasso, transformações geométricas, congruência, semelhança e até introduzir noções de geometria analítica. Diferente de softwares tradicionais, a interface é mais leve e amigável, o que facilita o uso em turmas grandes e em dispositivos variados, incluindo celulares. Ao permitir que cada estudante manipule pontos, segmentos e figuras, o Desmos favorece a investigação de propriedades e conjecturas.

Subjacente a tudo isso está a linguagem Computation Layer (CL), que permite a criação de atividades mais sofisticadas, com feedback automático, ramificações e verificação de respostas. Embora não seja obrigatória para começar a usar o Desmos, a CL amplia o potencial do ecossistema, pois transforma a plataforma em um espaço de design instrucional avançado. Professores podem, por exemplo, programar pistas graduais para alunos em dificuldade, criar desafios adaptativos ou gerar diferentes versões da mesma tarefa para promover diversidade de experiências dentro da mesma turma.

Por fim, o ecossistema do Desmos se sustenta em uma cultura de compartilhamento. A comunidade global de educadores cria, remixa e publica atividades rotineiramente, permitindo que quem está começando não precise “reinventar a roda”. Ao navegar pela biblioteca pública, é possível localizar propostas alinhadas à BNCC, filtrar por temas como funções, estatística, geometria ou probabilidade e adaptar rapidamente à realidade de sua escola. Isso torna o Desmos não apenas um conjunto de ferramentas digitais, mas um espaço vivo de desenvolvimento profissional docente e de inovação pedagógica em Matemática.

 

Começando na prática: primeiros passos para o professor

Antes de qualquer coisa, o primeiro passo é você, professor ou professora, explorar o Desmos como usuário. Acesse o site oficial, crie uma conta gratuita e navegue sem pressa pelas seções de calculadora gráfica, atividades e biblioteca de recursos. Reserve alguns minutos para “brincar” com gráficos simples, alterar parâmetros e observar como as representações mudam em tempo real. Esse período de exploração pessoal é importante para diminuir a ansiedade diante da tecnologia e para que você tenha mais segurança antes de levar a ferramenta para a sala de aula.

Em seguida, escolha um conteúdo que você já domina bem – por exemplo, funções do 1º grau, proporcionalidade, sistemas lineares ou equações quadráticas. Em vez de começar com algo completamente novo, pense em como o Desmos pode enriquecer uma aula que você já costuma dar. Busque na biblioteca de atividades do Desmos utilizando palavras-chave em português ou inglês (como “linear”, “quadratic”, “proportion”), salve algumas atividades que pareçam interessantes e faça-as como se fosse um estudante, clicando, respondendo e testando hipóteses.

Para os primeiros encontros com a turma, planeje uma aula de experimentação guiada, com objetivos bem modestos: apresentar a ferramenta, mostrar como acessar via celular ou computador e propor uma ou duas tarefas curtas. Explique claramente o propósito pedagógico da atividade (por exemplo, investigar o efeito dos coeficientes em uma função) e combine regras de uso dos dispositivos. Se possível, projete a tela do professor enquanto os estudantes exploram, utilizando recursos como o painel de professor do Desmos para acompanhar as respostas e selecionar produções que valem a pena discutir coletivamente.

Outro passo importante é preparar um “plano B” para eventuais problemas de conexão ou de acesso. Tenha versões impressas de alguns gráficos ou situações-problema, para que a aula não dependa exclusivamente do digital. Assim, você reduz o medo de que “a tecnologia estrague o planejamento” e passa a enxergar o Desmos como um reforço à sua proposta didática, não como um substituto. Esse cuidado é especialmente relevante em contextos com infraestrutura limitada, turmas numerosas ou uso compartilhado de poucos dispositivos.

Por fim, após cada aula em que utilizar o Desmos, faça uma avaliação rápida da experiência: o que funcionou bem? Em quais momentos os estudantes se envolveram mais? Quais dificuldades técnicas ou conceituais apareceram? Registre essas percepções, peça feedback aos alunos e use essas informações para ajustar a próxima aula. Começar pequeno, refletir sobre a prática e iterar é a melhor estratégia para que o Desmos se integre de forma gradual e consistente ao seu jeito de ensinar, alinhado à BNCC e às metodologias ativas que você já vem construindo em sua disciplina.

 

Desmos e metodologias ativas: tornando a Matemática investigativa

Ao conectar o Desmos às metodologias ativas, a sala de aula de Matemática deixa de ser um espaço centrado apenas na exposição do professor e passa a funcionar como um laboratório de investigação. Em vez de começar pela fórmula “pronta”, o professor pode propor problemas abertos, situações reais ou desafios visuais, e convidar os estudantes a explorar, testar hipóteses e construir modelos diretamente nas atividades interativas. O foco desloca-se do “como fazer a conta” para o “o que essa representação significa” e “por que esse comportamento acontece no gráfico ou na tabela”.

Em abordagens como a aprendizagem baseada em problemas (ABP), o Desmos permite que os grupos testem rapidamente diferentes estratégias de solução, comparem modelos e visualizem o impacto de alterar parâmetros em tempo real. Um mesmo problema de crescimento populacional, por exemplo, pode ser explorado com gráficos, tabelas e sliders que controlam taxas, intervalos de tempo e condições iniciais, favorecendo a argumentação matemática e a tomada de decisão informada. O erro passa a ser insumo de discussão, não motivo de punição.

Na sala de aula invertida e no ensino híbrido, o Desmos funciona como ponte entre o estudo individual e o trabalho coletivo. O professor pode disponibilizar atividades pré-aula para que os alunos experimentem conceitos básicos, naveguem por tutoriais e respondam a questões conceituais guiadas. Em seguida, o tempo presencial é aproveitado para debates, aprofundamentos e construções em grupo a partir dos registros que o próprio Desmos gera, como respostas, esboços de gráficos e estratégias diversas que aparecem no painel do professor.

Outro ponto central é o alinhamento com a BNCC, especialmente no que diz respeito às competências gerais e às habilidades que envolvem resolução de problemas, pensamento computacional, uso de tecnologias digitais e comunicação matemática. Ao trabalhar atividades no Desmos que pedem justificativas escritas, comparações de representações (algébrica, gráfica, tabular) e tomada de decisões em contextos interdisciplinares, o professor evidencia essas habilidades e torna o processo de aprendizagem mais transparente. É possível, inclusive, usar o histórico de interações como evidência em avaliações formativas.

Por fim, o Desmos fortalece o protagonismo dos estudantes ao tornar a Matemática mais próxima de uma investigação científica: levanta-se uma questão, formulam-se hipóteses, constroem-se modelos, analisam-se resultados e revisam-se ideias. Em projetos STEAM, por exemplo, alunos podem modelar o movimento de um protótipo, otimizar materiais em uma construção ou analisar dados coletados em experimentos, sempre com feedback visual imediato. Essa dinâmica contribui para uma cultura de curiosidade, colaboração e pensamento crítico, elementos essenciais para uma Matemática viva, significativa e alinhada às metodologias ativas.

 

Planejando aulas com Desmos alinhadas à BNCC

Planejar aulas com Desmos alinhadas à BNCC começa por uma leitura atenta das habilidades específicas do componente Matemática para o ano/série em questão. Antes de abrir qualquer atividade ou calculadora, é importante definir quais códigos (por exemplo, EF09MA06 ou EM13MAT302) serão foco da aula e quais evidências de aprendizagem você quer observar nos estudantes. A partir desses objetivos, você escolhe se o Desmos será usado para exploração inicial de conceitos, consolidação, prática guiada, investigação de situações-problema ou avaliação formativa.

Uma estratégia prática é organizar o planejamento em três blocos: ativação de conhecimentos prévios, exploração investigativa e sistematização. No primeiro momento, você pode usar uma atividade rápida do Desmos (como um card sort ou um gráfico interativo simples) para retomar ideias já tratadas em anos anteriores, dialogando com as habilidades de unidade temática e desenvolvendo as competências gerais de argumentação e pensamento científico. Na fase de exploração, os estudantes manipulam parâmetros, testam conjecturas e registram observações diretamente na interface, o que apoia o desenvolvimento de habilidades como interpretar, modelar e resolver problemas.

Para garantir aderência à BNCC, é fundamental explicitar no planejamento como cada tela ou bloco da atividade se conecta às habilidades. Por exemplo, ao trabalhar funções afins no Ensino Médio com o gráfico interativo do Desmos, você pode planejar telas em que os alunos relacionem coeficientes com crescimento/decrescimento (EM13MAT302) e outras em que interpretem o significado de coeficientes em um contexto real (EM13MAT303). Esses vínculos podem ser descritos em um quadro simples de planejamento, contendo colunas para “tela/ação no Desmos”, “habilidade BNCC”, “tipo de intervenção docente” e “evidência esperada”.

Outro ponto chave é usar os recursos do Desmos para apoiar a avaliação formativa, também enfatizada pela BNCC. A visualização em tempo real das respostas permite que você identifique rapidamente quem está avançando, quem ainda está em nível inicial e quem precisa de desafios adicionais. Planeje momentos específicos para pausar a atividade, projetar respostas anônimas, discutir erros produtivos e convidar estudantes a explicarem seus raciocínios, promovendo as competências gerais de argumentação, comunicação e responsabilidade com a aprendizagem coletiva.

Por fim, considere a diversidade de trajetórias e ritmos prevista pela BNCC ao desenhar caminhos flexíveis dentro da própria atividade. Você pode criar trilhas com desafios opcionais, questões abertas e tarefas de extensão que dialoguem com temas integradores (como finanças, sustentabilidade ou tecnologia), aproximando o trabalho das áreas de Ciências da Natureza e Linguagens. Assim, o Desmos deixa de ser apenas um recurso tecnológico pontual e passa a integrar uma sequência didática coerente, centrada nas competências e habilidades da BNCC e no protagonismo dos estudantes.

 

Estratégias de uso em diferentes etapas e modalidades de ensino

O Desmos pode ser incorporado de maneiras distintas conforme a etapa da escolaridade, respeitando o desenvolvimento cognitivo e a autonomia dos estudantes. Nos anos finais do Ensino Fundamental, por exemplo, é interessante começar com explorações guiadas: o professor projeta a calculadora em tela grande, manipula parâmetros de funções e convida a turma a fazer previsões e justificar o que vai acontecer ao mover um deslizador. Atividades simples, como relacionar tabelas, gráficos e expressões algébricas, ajudam a consolidar a leitura de gráficos cartesianos e a compreensão de variáveis dependentes e independentes.

No Ensino Médio, o foco pode se deslocar para a investigação autônoma e para projetos mais longos. Os estudantes podem usar o Desmos para modelar situações reais, como crescimento populacional, trajetória de objetos ou análise de dados de fenômenos físicos e econômicos. Em aulas organizadas em estações de aprendizagem, um dos postos pode ser dedicado a explorar atividades do Desmos Classroom, em que cada grupo avança em seu ritmo, respondendo a desafios conceituais e recebendo feedback em tempo real do professor por meio do painel de monitoramento.

Em cursos técnicos, o Desmos pode atuar como ponte entre Matemática e componentes específicos da formação profissional. É possível, por exemplo, conectar funções afins, exponenciais e trigonométricas a contextos de eletrônica, mecânica, programação ou logística. O professor pode propor que os alunos construam modelos no Desmos para representar curvas de carga, ciclos de máquinas, gráficos de desempenho ou algoritmos de controle, integrando conceitos matemáticos a softwares de simulação usados na área técnica.

Na EJA, é fundamental considerar trajetórias escolares interrompidas e diferentes níveis de letramento digital. Uma estratégia eficaz é começar com atividades que partam de problemas do cotidiano dos estudantes – orçamento familiar, consumo de água e energia, deslocamento pela cidade – e ir progressivamente introduzindo os recursos do Desmos, sempre em duplas ou trios colaborativos. O uso de celulares pessoais, quando permitido, amplia o acesso: o professor pode criar códigos de atividades curtas, com poucas telas, que valorizem mais a discussão e a argumentação do que a quantidade de exercícios resolvidos.

Quanto às modalidades e formatos de ensino, o Desmos dialoga bem com o ensino presencial, híbrido e remoto. Em um modelo de sala de aula invertida, por exemplo, o professor pode deixar uma atividade introdutória no Desmos para ser feita em casa, com foco em exploração intuitiva, e usar o encontro presencial para discutir dúvidas, sistematizar conceitos e propor desafios mais complexos. Já em contextos de ensino remoto ou de recuperação paralela, é possível acompanhar o progresso individual dos estudantes, enviar comentários personalizados e criar trilhas diferenciadas de acordo com as necessidades de cada um, fortalecendo a avaliação formativa e o acompanhamento contínuo.

 

Avaliação, feedback e uso de dados no Desmos Classroom

No Desmos Classroom, avaliação não se resume a atribuir notas ao final da atividade: a plataforma foi pensada para apoiar a avaliação formativa, oferecendo ao professor uma visão em tempo real do que cada estudante está fazendo. Ao acompanhar o painel de atividades, você enxerga não apenas respostas certas ou erradas, mas também estratégias de resolução, tentativas, registros escritos e esboços de gráficos. Essa leitura fina do processo permite identificar rapidamente quem está avançando, quem está preso em uma ideia equivocada e quem precisa de um desafio extra, ajustando a mediação ainda durante a aula.

O sistema de feedback do Desmos se apoia tanto em mensagens automáticas (como correções de entrada e dicas visuais) quanto na intervenção do professor. Em muitas telas, é possível configurar respostas que geram feedback imediato ao estudante, orientando a revisar um cálculo, testar outro exemplo ou comparar gráficos. Paralelamente, o docente pode usar o painel para escolher produções de alunos e projetá-las para a turma, promovendo discussões coletivas sobre diferentes abordagens, erros produtivos e caminhos alternativos de solução, o que fortalece a metacognição e o protagonismo discente.

Outro ponto central é o uso dos dados agregados após a atividade. O Desmos Classroom permite revisar a performance da turma por tela, identificando em quais etapas houve maior concentração de dificuldades, quais itens tiveram respostas muito variadas e onde surgiram concepções alternativas interessantes. Esses registros podem orientar o planejamento de aulas seguintes, a criação de atividades de retomada ou aprofundamento e até ajustes na sequência didática, alinhando a prática diária com os objetivos da BNCC para cada unidade temática.

Para que essa avaliação orientada por dados seja efetiva, vale combinar os relatórios do Desmos com instrumentos mais qualitativos, como rubricas de participação, autoavaliações dos estudantes e diários de bordo. Assim, as informações da plataforma deixam de ser apenas um “termômetro de acertos” e passam a compor um portfólio digital de evidências de aprendizagem. Em contextos de ensino híbrido ou remoto, esse registro contínuo é especialmente valioso, pois ajuda a manter o acompanhamento individual mesmo quando o professor não está fisicamente ao lado do aluno.

Por fim, o uso responsável dos dados no Desmos exige transparência com a turma: é importante explicar por que você está acompanhando as respostas em tempo real, como essas informações serão utilizadas e de que forma cada estudante pode se apoiar nesse feedback para evoluir. Quando a turma entende que os dados servem para aprender melhor, e não para vigiar ou punir, o Desmos Classroom se transforma em um espaço de experimentação segura, em que errar faz parte do processo e cada nova tentativa é registrada como evidência de crescimento matemático.

 

Desafios, limitações e caminhos para adoção sustentável

Implementar o Desmos de forma consistente na escola envolve reconhecer desafios concretos que vão além do entusiasmo inicial. A infraestrutura tecnológica é um dos primeiros obstáculos: nem todas as redes contam com internet estável, dispositivos para todos os estudantes ou políticas claras de uso de celulares. Além disso, há barreiras relacionadas à cultura escolar, como o receio de que o uso de telas “distraia” a turma ou a percepção de que ferramentas digitais servem apenas como ilustração, e não como parte central das experiências de aprendizagem matemática.

Outro ponto delicado é a formação docente. Muitos professores e professoras desejam inovar, mas sentem insegurança quanto ao domínio técnico da plataforma ou quanto a como articular o Desmos com o currículo e com a avaliação. Sem tempo protegido para estudo e planejamento colaborativo, é comum que o recurso seja usado pontualmente, em “aulas especiais”, em vez de integrar uma sequência didática mais robusta. Isso pode gerar frustração e a impressão equivocada de que “não funcionou com minha turma”.

Também é preciso considerar questões de equidade e inclusão digital. Se a escola passa a depender fortemente de atividades online sem pensar em estratégias de acesso para estudantes sem internet em casa, corre o risco de aprofundar desigualdades. Da mesma forma, alunos com deficiência visual, auditiva ou dificuldades de coordenação motora podem encontrar barreiras no uso padrão da ferramenta, exigindo adaptações, mediação mais próxima e a combinação com outros recursos didáticos físicos e analógicos.

Para uma adoção sustentável, vale planejar caminhos graduais: começar com atividades simples, como visualização de gráficos já prontos, avançar para tarefas investigativas guiadas e, depois, abrir espaço para que os estudantes construam seus próprios modelos e atividades. Esse percurso deve estar alinhado à BNCC, deixando claro quais habilidades e objetos de conhecimento estão sendo trabalhados. É fundamental registrar evidências de aprendizagem (prints, relatórios, reflexões escritas) e usá-las em processos de avaliação formativa, de modo que o Desmos não seja apenas um “extra”, mas parte explícita do planejamento.

Por fim, a sustentabilidade depende de uma visão de projeto institucional. Escolas podem criar momentos de compartilhamento de boas práticas entre docentes, elaborar pequenos guias internos de uso, definir protocolos para o uso de dispositivos e buscar parcerias com outras instituições para formação continuada. Ao encarar o Desmos como uma ferramenta entre muitas em um ecossistema pedagógico mais amplo — que inclui materiais manipuláveis, discussões em grupo, papel e lápis — a escola aumenta as chances de que a inovação digital se mantenha ao longo do tempo e gere impacto real na aprendizagem matemática.

 

Rodrigo Terra

Com formação inicial em Física, especialização em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional e Docência, e graduação em Ciências de Dados, construí uma trajetória sólida que une educação, tecnologias ee inovação. Desde 2001, dedico-me ao campo educacional, e desde 2019, atuo também na área de ciência de dados, buscando sempre encontrar soluções focadas no desenvolvimento humano. Minha experiência combina um profundo conhecimento em educação com habilidades técnicas em dados e programação, permitindo-me criar soluções estratégicas e práticas. Com ampla vivência em análise de dados, definição de métricas e desenvolvimento de indicadores, acredito que a formação transdisciplinar é essencial para preparar indivíduos conscientes e capacitados para os desafios do mundo contemporâneo. Apaixonado por café e boas conversas, sou movido pela curiosidade e pela busca constante de novas ideias e perspectivas. Minha missão é contribuir para uma educação que inspire pensamento crítico, estimule a criatividade e promova a colaboração.

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