Para alcançar esse objetivo, é essencial que o professor atue como mediador, proporcionando contextos ricos onde o cuidado se torna uma experiência social e coletiva, dentro e fora da escola. Os espaços educativos devem estar preparados para acolher essas práticas e favorecer a autonomia das crianças.
Este artigo oferece sugestões práticas, fundamentação pedagógica e ideias para implementar, de forma significativa, atividades relacionadas ao cuidado com plantas e animais, valorizando o protagonismo infantil e o trabalho em grupo.
Vamos explorar como transformar a vivência prevista em EI02ET03 num percurso de descobertas, diálogos e vínculos duradouros com o meio ambiente, promovendo uma educação cidadã desde a infância.
O que propõe o EI02ET03 da BNCC
A habilidade EI02ET03 da BNCC convida os educadores a desenvolverem experiências pedagógicas onde as crianças da Educação Infantil possam vivenciar e compartilhar situações de cuidado com plantas e animais. Mais do que apenas cumprir tarefas eventuais, essa proposta busca criar oportunidades reais para que os pequenos construam significados sobre a vida e o ambiente que os cerca.
Por exemplo, um projeto de horta escolar pode engajar as crianças no plantio, rega e colheita de vegetais, proporcionando não apenas contato direto com a terra, mas também ensinando paciência, ciclos de crescimento e responsabilidade diária. Já o acompanhamento de um aquário comunitário ou a visita periódica a um animal de estimação da sala promovem o respeito às diferenças entre os seres vivos, estimulando o olhar atento e afetuoso.
Essas práticas devem estar inseridas no cotidiano escolar por meio de uma abordagem interdisciplinar e colaborativa. O professor pode integrar áreas como linguagem (através de registros, desenhos e contação de histórias sobre os seres cuidados), matemática (contagem de sementes, organização de turnos de rega), e ciências (identificação de espécies, tipos de solo e hábitos dos animais). A documentação pedagógica dessas experiências também favorece a reflexão das crianças sobre suas ações e descobertas.
Ao incentivar o cuidado coletivo e a troca entre os pares, as atividades baseadas na EI02ET03 promovem empatia e formação cidadã desde a infância. É importante lembrar que essas vivências devem ocorrer em ambiente seguro, com acompanhamento atencioso do adulto e respeito ao bem-estar dos animais e das plantas envolvidos nas interações.
Projetos interativos e o protagonismo infantil
Uma forma eficaz de introduzir o cuidado com o meio ambiente na educação infantil é por meio de projetos práticos e interativos. A criação de uma horta escolar comunitária, por exemplo, permite que as crianças acompanhem diariamente o crescimento das plantas, reguem, colham e até provem os frutos do seu trabalho. Esse processo estimula a responsabilidade, promove a paciência ao esperar os resultados e valoriza a colaboração em grupo.
Outra proposta interessante é montar um terrário dentro da sala de aula. Essa miniatura de ecossistema fechado pode ser mantida pelas próprias crianças, que observam ciclos da natureza como evaporação, condensação e o crescimento das plantas em microambientes. A atividade pode ser expandida com registros em desenho, fotos ou vídeos, promovendo linguagem oral e escrita.
Além das plantas, animais de pequeno porte também oferecem oportunidades ricas de aprendizado. Um peixe, coelho ou até mesmo um insetário pode integrar um projeto de cuidado coletivo, onde as tarefas como alimentar, limpar o espaço e observar comportamentos são divididas entre os alunos. É importante que o educador esteja atento para que o bem-estar desses animais seja garantido, ao mesmo tempo em que supervisiona a participação infantil.
O protagonismo infantil se revela de forma natural quando as crianças têm espaço para expressar opiniões, tomar decisões e construir regras de convivência relacionadas a esses projetos. Incentivar assembleias, rodas de conversa e planejamento coletivo são práticas que fortalecem esse protagonismo e fazem com que elas se sintam verdadeiras agentes de transformação em seu entorno.
A mediação do professor como facilitador das descobertas
O educador assume papel essencial ao observar, escutar e propor perguntas que estimulem a curiosidade e aprofundem a compreensão dos pequenos sobre o mundo natural. No cuidado com plantas e animais, a escuta atenta permite identificar os interesses das crianças, direcionando as atividades de forma mais significativa. Por exemplo, ao notar que as crianças demonstram interesse por formigas encontradas no jardim, o professor pode propor uma investigação sobre o comportamento desses insetos, conduzindo a observações sistemáticas, registros em desenho e conversas sobre suas descobertas.
Além disso, o educador organiza momentos de partilha das vivências, incentivando a expressão oral, o relato de experiências e a escuta ativa. Essas rodas de conversa fortalecem os vínculos no grupo, favorecem a troca de saberes e a construção coletiva do conhecimento. Durante o cuidado com uma horta, por exemplo, cada criança pode relatar suas responsabilidades e descobertas, ampliando a percepção sobre o ciclo de vida das plantas e a importância do trabalho em equipe.
As intervenções docentes devem partir da valorização das ações infantis e do estímulo à autonomia. Ao invés de dar respostas prontas, o educador pode devolver perguntas às crianças, como: “O que você acha que essa planta precisa para crescer mais forte?” ou “Como poderíamos ajudar esse animalzinho a se sentir bem no nosso espaço?”. Essas abordagens provocam reflexões e ajudam a desenvolver a empatia e o senso de responsabilidade ambiental.
Por fim, a mediação eficaz demanda do professor uma postura investigativa e sensível, que acolha as múltiplas linguagens infantis e promova contextos onde os conhecimentos científicos e os afetos caminhem juntos. Atividades como registrar o crescimento de uma planta em um diário coletivo, montar um terrário na sala ou cuidar temporariamente de um animal pequeno tornam-se oportunidades ricas de aprendizagem quando acompanhadas por reflexões mediadas com escuta e intencionalidade pedagógica.
Documentação pedagógica como ferramenta de visibilidade
Registrar com fotos, relatos, desenhos e vídeos os momentos de cuidado permite valorizar as ações infantis e compartilhar com as famílias e a comunidade escolar essas experiências. Essa documentação vai além de um simples registro: ela oferece uma janela sensível para o desenvolvimento das crianças, tornando visíveis os aprendizados e as emoções envolvidas em cada interação com plantas ou animais. Utilizar murais interativos na escola, painéis digitais ou álbuns coletivos são formas eficazes de envolver toda a comunidade nesse processo.
A documentação estimula também a memória e a revisão dos processos pelas próprias crianças, ampliando a dimensão reflexiva da prática. Por exemplo, rever registros fotográficos de um dia de cuidado com a horta pode gerar diálogos significativos em grupo, permitindo que as crianças expressem o que sentiram, o que aprenderam e o que fariam diferente. Essa prática fortalece o protagonismo infantil, dando sentido às suas ações e palavras.
Além disso, professores podem utilizar esses registros como instrumentos de avaliação formativa, identificando avanços, interesses e necessidades de intervenção. É importante que esse processo seja contínuo e afetuoso, respeitando o tempo de cada criança. Um bom exemplo é a criação de um “diário da natureza” coletivo, onde as crianças contam, por meio de desenhos e ditados escritos pelo educador, o que observaram ou realizaram com os seres vivos do ambiente escolar.
Incluir as famílias nesse processo, por meio de exposições trimestrais, envio de portfólios ou apresentações das crianças, fortalece a conexão entre escola e casa e reforça a importância do cuidado com o meio ambiente como um valor compartilhado. Dessa forma, a documentação pedagógica se transforma numa poderosa aliada para tornar a aprendizagem mais visível, significativa e colaborativa.
Parcerias com a comunidade e experiências fora da escola
Levar as crianças para fora dos muros da escola proporciona uma aprendizagem significativa e contextualizada. Visitas a viveiros, hortas urbanas, feiras agroecológicas, propriedades rurais ou centros de proteção animal complementam o trabalho em sala e oferecem oportunidades reais de interação com o meio ambiente. Por exemplo, ao visitar um viveiro de plantas, as crianças podem observar o ciclo de vida das espécies, conhecer diferentes tipos de solo e aprender sobre a importância da preservação ambiental diretamente com os profissionais do local.
Estabelecer parcerias com membros da comunidade também é uma forma poderosa de aproximar o conteúdo escolar da vida cotidiana. Convidar agricultores familiares, veterinários ou jardineiros para conversar com as crianças pode transformar a sala em um espaço de troca de saberes. Essas interações promovem o diálogo e valorizar o conhecimento tradicional e local, ao mesmo tempo em que desenvolvem o senso de pertencimento das crianças com sua comunidade.
Essas experiências devem ser planejadas cuidadosamente: antes da visita, proponha momentos de preparação em sala com perguntas e hipóteses sobre o que será visto; durante a atividade, incentive a observação ativa e o registro das descobertas por meio de desenhos, fotos ou anotações; após a saída, promova rodas de conversa, painéis ilustrativos e apresentações para que as crianças compartilhem o que aprenderam com os colegas e com a comunidade escolar.
Essas práticas não apenas ampliam o repertório das crianças, mas também reforçam vínculos afetivos com os seres vivos e despertam uma consciência ambiental sólida desde os primeiros anos. Iniciativas como essas são exemplos concretos de como o campo de experiência EI02ET03 pode ser vivenciado de maneira potente e transformadora.
Integração com outras áreas do conhecimento
A integração entre o cuidado com plantas e animais e outras áreas do conhecimento amplia significativamente o repertório das crianças e fortalece as experiências educativas. Atividades interdisciplinares oferecem contextos ricos e próximos da realidade, possibilitando que os pequenos façam conexões significativas entre saberes diversos. Por exemplo, ao acompanhar o crescimento de uma planta, as crianças podem aplicar noções de medida e tempo, relacionando com conceitos matemáticos.
Além disso, o campo das linguagens artísticas pode ser explorado ao representar, por meio de desenhos ou modelagens com argila, os animais e plantas que fazem parte do cotidiano escolar. Esses registros visuais ajudam na construção de percepções sensoriais e cognitivas, além de promover a expressão emocional e afetiva dos vínculos que se estabelecem com os seres vivos.
No campo da oralidade, contar e recontar histórias sobre animais ou relatar vivências no jardim pedagógico reforça a linguagem verbal, ao mesmo tempo que fortalece a escuta, o respeito às narrativas dos colegas e a ampliação do vocabulário. Já com relação ao movimento, ações como jardinagem, limpeza dos viveiros ou o simples ato de colher frutas contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora ampla e fina, além de reforçar a noção de responsabilidade compartilhada.
Para o professor, é importante planejar essas integrações com intencionalidade, observando como os campos do conhecimento se complementam e se entrelaçam num projeto maior de formação cidadã e ecológica. Registrar os processos em portfólios, envolver a família nas ações e promover rodas de conversa são formas de enriquecer ainda mais essa proposta educativa.
Cultivando vínculos e responsabilidades desde a infância
Cuidar de seres vivos ensina empatia, paciência e compromisso. Para a criança, perceber-se necessária ao bem-estar de outro ser fortalece sua autoestima e identidade coletiva. Esses sentimentos contribuem para o desenvolvimento de relações afetivas mais saudáveis e solidárias, além de proporcionar vivências que favorecem a compreensão do ciclo da vida e da interdependência entre os seres.
Na prática, é possível criar projetos simples como o cultivo de plantas em pequenos vasos dentro da sala de aula ou em hortas escolares coletivas. Cada criança pode ser responsável por regar, observar e registrar o crescimento da planta ao longo das semanas. Isso não só promove o cuidado diário, mas também introduz noções de tempo, transformação e responsabilidade compartilhada.
Com relação aos animais, visitas a sítios pedagógicos, criação de pequenos viveiros com insetos como joaninhas ou formigas (em ambientes controlados), ou o contato com animais domésticos da comunidade supervisionados pela escola são formas seguras e educativas de explorar o tema. Conversas mediadas sobre comportamentos, necessidades e direitos dos animais ajudam a desenvolver o pensamento crítico e as atitudes propositivas desde cedo.
Essas experiências promovem uma interação rica entre os campos de experiência da BNCC, permitindo abordar aspectos da identidade, respeito, observação e cuidado com o outro. São ações simples, porém extremamente significativas, que cultivam no cotidiano escolar valores que acompanham a criança ao longo da vida.