Como referenciar este texto: Literatura – Conceição Evaristo – Análises (Plano de aula – Ensino médio). Rodrigo Terra. Publicado em: 01/11/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/literatura-conceicao-evaristo-analises-plano-de-aula-ensino-medio/.
Neste plano de aula, voltado para professores de literatura, propomos uma análise mediada de trechos selecionados de Olhos d’Água e Ponciá Vivêncio. A proposta favorece a compreensão da narrativa, análise de personagens, temas recorrentes e suas relações com o contexto sociocultural e histórico.
Utilizando uma abordagem estruturada a partir de metodologias ativas, a aula promove a construção do conhecimento por meio de rodas de leitura, escrita reflexiva e discussões orientadas.
Além disso, sugerimos uma conexão com disciplinas como História e Sociologia, ampliando a perspectiva crítica dos estudantes sobre temáticas como racismo estrutural, pobreza, identidade, migração interna e ancestralidade.
A utilização de recursos digitais de universidades públicas complementa a prática, promovendo acesso ao conhecimento de forma aberta e engajada.
Objetivos de Aprendizagem
Este plano de aula busca como primeiro objetivo permitir que os estudantes reconheçam e discutam temas centrais presentes na obra de Conceição Evaristo, como a memória, a identidade e a resistência. Para isso, o professor pode criar murais de palavras com base nos sentimentos e lembranças que os textos evocam nos alunos, promovendo reflexões sobre suas próprias experiências e observações do cotidiano. O uso de mapas mentais também é uma estratégia eficaz para visualizar essas temáticas interligadas.
O segundo objetivo consiste em desenvolver a capacidade analítica dos alunos diante de personagens e enredos. Proponha a leitura em grupo de capítulos de “Olhos d’Água” ou “Ponciá Vivêncio”, seguida da criação de perfis psicológicos das personagens e da discussão sobre suas vivências à luz dos conceitos de violência simbólica e resistência social. Incentivar a escrita criativa a partir de pontos de vista das personagens também torna a análise mais envolvente.
Por fim, fomentar conexões entre a literatura e o contexto histórico e social brasileiro demanda atividades interdisciplinares. Em parceria com os professores de História e Sociologia, desenvolva rodas de conversa sobre temas como desigualdade, marginalização e ancestralidade, relacionando com dados da realidade atual. Pode-se, por exemplo, fazer uma linha do tempo que una eventos históricos com marcos narrativos das obras da autora, observando como a ficção espelha e tensiona a realidade.
Esses objetivos convergem para a formação de leitores críticos e conscientes, capazes de perceber a literatura como expressão de vivências silenciadas, e de extrapolar a sala de aula em suas análises e posicionamentos.
Materiais Utilizados
A seleção adequada dos materiais é essencial para garantir a participação e o engajamento dos alunos nas atividades propostas. Neste plano de aula, recomenda-se o uso de trechos selecionados das obras Olhos d’Água e Ponciá Vivêncio, de Conceição Evaristo. Esses textos podem ser facilmente acessados por meio de repositórios digitais de universidades públicas, permitindo que todos os alunos tenham acesso gratuito ao conteúdo literário. É importante que o professor escolha passagens representativas que explorem temas como identidade, ancestralidade e resistência.
Para a exibição de vídeos curtos com entrevistas da autora ou reportagens sobre sua obra, a sala deve estar equipada com projetor ou computador com acesso à internet. Esses recursos audiovisuais contextualizam a produção literária de Evaristo e facilitam a compreensão por parte dos alunos, sobretudo aqueles com perfis de aprendizagem mais visuais ou auditivos.
Outro recurso indispensável são as fichas de leitura impressas, que orientam os alunos na análise textual e auxiliam no registro de informações como estrutura narrativa, características dos personagens e temas centrais. O uso do quadro branco com marcadores permite organizar visualmente as ideias discutidas nas rodas de leitura e nas análises coletivas.
Por fim, é importante que os estudantes tenham cadernos ou dispositivos (celulares, tablets ou notebooks) para anotar suas reflexões durante a aula. Esses registros serão valiosos tanto para atividades de escrita quanto para apresentações orais. Sempre que possível, incentive o uso de plataformas colaborativas para que os alunos compartilhem suas interpretações com a turma.
Metodologia Utilizada e Justificativa
A aula será conduzida por meio da metodologia da leitura mediada, com foco na aprendizagem ativa e na participação efetiva dos estudantes. O papel do professor é o de facilitador da leitura crítica, intervindo pontualmente para orientar, contextualizar e mobilizar os conhecimentos prévios dos alunos a partir dos temas centrais da obra de Conceição Evaristo.
Para fomentar o protagonismo discente, será adotada a prática de leitura compartilhada em pequenos grupos, nos quais os alunos analisarão trechos de obras como Olhos d’Água e Ponciá Vivêncio. Após a leitura, promover-se-á uma roda de conversa para discutir os diferentes olhares e interpretações dos textos, estimulando a escuta ativa, o pensamento crítico e a construção coletiva de sentidos.
Além disso, aplicaremos elementos da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), incentivando os estudantes a criarem produções autorais — como crônicas, relatos autobiográficos ou apresentações multimídia — que dialoguem com os temas abordados nas obras. Isso reforça o vínculo entre literatura e realidade social, além de desenvolver competências discursivas e argumentativas essenciais para o Enem e vestibulares.
Como dica prática, professores podem utilizar plataformas gratuitas de leitura digital e fóruns de discussão online, facilitando o acesso às obras e ampliando o repertório por meio de videoaulas e entrevistas com a autora disponíveis em canais acadêmicos.
Desenvolvimento da Aula
Preparo da Aula
Antes da aula, selecione trechos marcantes de Olhos d’Água e Ponciá Vivêncio que revelem aspectos centrais da escrita de Conceição Evaristo — como oralidade, ancestralidade e denúncia social. Envie os textos previamente por meio da plataforma da escola ou imprima cópias. Prepare perguntas norteadoras como: “De que modo esse trecho revela desigualdades históricas?” ou “Como a vivência da personagem se relaciona com temas da atualidade?”
Introdução da Aula (10 min)
Comece com uma breve contextualização da autora, destacando sua trajetória e conceito de escrevivência. Utilize imagens, vídeos curtos ou falas da própria Escritora para engajar os alunos. Em seguida, provoque a turma com a pergunta: “Como a literatura pode denunciar realidades invisibilizadas?” Incentive respostas abertas para aquecer o debate.
Atividade Principal (30 a 35 min)
Divida os alunos em grupos e atribua a cada um um trecho diferente. Instrua-os a identificar elementos como protagonista, tema central, estilo literário e forma da linguagem (oralidade, regionalismos, emoções). Oriente o uso de conceitos das aulas de História e Sociologia para enriquecer a análise. Por exemplo, alunos podem relacionar uma personagem à migração nordestina ou às consequências do racismo estrutural.
Estimule a apresentação criativa das interpretações: dramatizações, mapas conceituais ou podcasts curtos. Após as apresentações, conduza um debate integrador, fazendo conexões entre os trechos analisados e temas como feminismo negro, pobreza urbana, pertencimento e apagamento cultural.
Fechamento (5 a 10 min)
Finalize a aula recuperando os principais pontos destacados pelas análises dos grupos. Proponha a criação de microcontos ou poemas a partir da frase “Minha escrevivência é afeto e denúncia”. Essa produção pode ser feita em casa ou nos minutos finais. Estimule os alunos a compartilharem seus textos oralmente ou num mural (físico ou digital), promovendo um espaço de escuta e reconhecimento dos relatos e perspectivas de cada um.
Avaliação / Feedback
A avaliação será formativa, centrada no processo de aprendizagem e nas contribuições dos estudantes durante a leitura e discussão das obras de Conceição Evaristo. É fundamental valorizar a construção do pensamento crítico, o desenvolvimento da empatia e a capacidade de argumentação dos alunos frente aos temas abordados.
Uma rubrica avaliativa detalhada pode ser utilizada pelo professor para explicitar os critérios: qualidade da argumentação, profundidade da análise textual, conexão com o contexto sociocultural e originalidade na criação de textos inspirados nas obras estudadas. Esse instrumento torna a avaliação mais transparente e orientadora.
Incentivar a autoavaliação dos estudantes promove o senso de responsabilidade e reconhecimento dos próprios avanços. Após apresentações em grupos, recomenda-se que cada equipe avalie sua participação, esclarecendo como se organizaram, quais desafios enfrentaram e o que aprenderam no processo.
O feedback entre pares também desempenha papel relevante. Criar momentos de troca entre estudantes, com escuta ativa e comentários respeitosos, ajuda a desenvolver habilidades interpessoais e fortalece a cultura de aprendizagem colaborativa em sala. O uso de formulários digitais ou fichas simples pode facilitar esse exercício.
Resumo para os Alunos
Hoje, entramos em contato com a trajetória e a produção literária de Conceição Evaristo, uma das vozes mais potentes da literatura negra contemporânea no Brasil. Estudamos trechos de suas obras Olhos d’Água e Ponciá Vivêncio, refletindo sobre como a escritora utiliza a linguagem para denunciar as desigualdades sociais e afirmar identidades múltiplas, em especial a experiência das mulheres negras.
Durante a aula, analisamos personagens como Cida, Maria e Ponciá, identificando como a autora constrói suas subjetividades a partir de vivências marcadas por pobreza, ancestralidade e resistência. Levantamos hipóteses sobre os enredos e discutimos o papel da memória e do afeto na construção de narrativas que dialogam com a história do Brasil.
Além do debate interpretativo, propusemos atividades de escrita criativa baseadas no conceito de escrevivência, termo criado por Evaristo para definir uma escrita que nasce das experiências vividas e sentidas. Essa produção autoral permitiu que você se colocasse como protagonista e refletisse sobre as suas próprias histórias e heranças culturais.
Para ampliar sua compreensão, sugerimos aprofundar a leitura nos seguintes materiais complementares: artigo da UDESC, a leitura crítica de ‘Olhos d’Água’, além do site do NUPILL (UFSC). Explore esses recursos para continuar desenvolvendo sua visão crítica e sensível da literatura.