Usando leitura mediada, proposta por metodologias ativas como a sala de aula invertida e rodas de discussão, estimularemos a participação ativa dos alunos, propondo atividades interdisciplinares entre Literatura, História e Sociologia. O objetivo é fornecer instrumentos de análise textual e crítica social a partir da literatura.
A aula visa preparar os alunos para interpretar textos que aparecem tanto em vestibulares quanto no Enem, ao mesmo tempo em que estimula a leitura literária em sua integralidade.
Com linguagem acessível mas tecnicamente consistente, este plano serve como guia completo para o professor de Literatura do ensino médio que deseja trabalhar temas sensíveis e complexos a partir da matriz literária brasileira.
Objetivos de Aprendizagem
1. Analisar criticamente os contos “Negrinha” e “Urupês”: A proposta é que os alunos compreendam como essas obras representam elementos do Pré-Modernismo, como denúncia social, regionalismo e ruptura com os ideais românticos e parnasianos. Em sala, o professor pode propor a leitura coletiva seguida de debates em grupo, incentivando os estudantes a identificarem passagens que exemplificam o engajamento político e social de Lobato. Essa leitura crítica deve considerar o momento histórico de publicação dos textos e as intenções autorais.
2. Refletir sobre a construção de personagens: Os alunos serão estimulados a analisar como Monteiro Lobato elabora personagens como símbolo de tipos sociais. Por exemplo, na personagem-título de “Negrinha”, podemos observar uma crítica à elite escravocrata do pós-abolição, enquanto Jeca Tatu, de “Urupês”, retrata o caboclo oprimido e negligenciado pelo Estado. Atividades podem incluir produção de perfis das personagens com base nos textos, discussões sobre estereótipos e ressignificações possíveis.
3. Estabelecer relações interdisciplinares: Esta meta incentiva o diálogo com conteúdos de História e Sociologia, como a abolição da escravatura, a formação do Brasil republicano e as condições do trabalhador rural no início do século XX. Sugere-se propor uma aula expositiva com mapas da época, trechos de documentos históricos ou reportagens modernas para traçar paralelos com a literatura. Trabalhos em grupo interdisciplinar com professores dessas áreas podem enriquecer ainda mais a compreensão crítica.
Esses objetivos permitem que o aluno vá além da leitura literal, desenvolvendo habilidades de interpretação, análise textual e contextualização histórica — competências valorizadas no Enem e em diversos vestibulares do país.
Materiais utilizados
Para a análise de “Negrinha” e “Urupês”, serão utilizados materiais que facilitam tanto a leitura individual quanto o trabalho em grupo. Os textos originais dos contos estão disponíveis gratuitamente em plataformas acadêmicas confiáveis, como os sites da UFGD e da Unioeste. É essencial garantir que todos os alunos tenham acesso a esses materiais, seja por meio de cópias impressas ou de dispositivos eletrônicos com conexão à internet.
Um quadro branco com marcadores ou um projetor multimídia será útil para destacar trechos relevantes dos textos durante as discussões coletivas. O uso de um laboratório de informática ou de dispositivos móveis permite explorar os textos em suas versões digitais, possibilitando atividades como marcação de texto colaborativa, uso de glossários virtuais e comparações entre edições comentadas.
As fichas de leitura com perguntas norteadoras atuam como ferramentas de guia para a interpretação textual e a estruturação da análise crítica. Essas fichas podem conter questões como: “Quais traços expressam o preconceito na construção da personagem Negrinha?”, ou “Como o conto ‘Urupês’ reflete as contradições sociais do início do século XX?”. O professor pode adaptar o grau de aprofundamento das perguntas conforme o perfil da turma.
Por fim, recomenda-se integrar esses materiais dentro de uma proposta metodológica interativa, como a sala de aula invertida. Os alunos podem fazer leituras prévias em casa e utilizar os encontros presenciais para o debate construtivo, apoiados pelos materiais de suporte fornecidos pelo professor.
Metodologia utilizada e justificativa
A abordagem metodológica proposta neste plano de aula se ancora nas metodologias ativas, como a leitura mediada e a sala de aula invertida, por entender que esses recursos promovem engajamento, protagonismo e pensamento crítico entre os estudantes. A leitura mediada, organizada em rodas de discussão, permite que os alunos expressem suas opiniões, tirem dúvidas e construam coletivamente interpretações a partir das obras de Monteiro Lobato, como “Negrinha” e os contos de “Urupês”.
Na prática, os alunos receberão os textos com antecedência para leitura domiciliar — etapa fundamental da sala de aula invertida — e, em sala, mediarão debates sobre os temas sociais e estruturais tratados por Lobato. O professor atua como facilitador, direcionando os diálogos para aspectos como crítica ao coronelismo, racismo estrutural, e a figura do caboclo no contexto do Brasil pré-moderno.
Essa estratégia pedagógica também amplia a interdisciplinaridade. Por exemplo, ao discutir “Negrinha”, é possível traçar conexões com a História da escravidão no Brasil e com temas de Sociologia como desigualdade racial. Já “Urupês” pode ser articulado com estudos sobre o abandono das populações rurais no início do século XX.
Como dica prática, sugere-se ao professor o uso de mapas mentais coletivos (em cartazes ou ferramentas digitais) para organizar as análises dos alunos e o uso de plataformas colaborativas, como o Padlet, no compartilhamento de percepções antes e após os encontros. Essas ferramentas fortalecem o vínculo entre leitura, escuta, fala e escrita, pilares essenciais no processo de formação leitora crítica.
Desenvolvimento da aula
Preparo da aula
Antes da aula, é fundamental que o professor garanta que os estudantes tenham acesso aos contos “Negrinha” e “Urupês”. Os textos podem ser disponibilizados via plataformas digitais ou impressos para leitura domiciliar. Para maximizar o engajamento, é recomendável enviar junto um pequeno roteiro de leitura com perguntas orientadoras, como: “Que aspectos sociais aparecem no conto?” ou “Como o narrador se posiciona em relação aos personagens?”. Paralelamente, o docente deve revisar o contexto histórico da Primeira República, destacando a transição do Brasil Império para a República Velha, o coronelismo, o racismo institucionalizado e o papel subordinado da mulher na sociedade.
Introdução da aula (10 minutos)
A introdução deve situar o aluno no contexto histórico e literário do início do século XX. Usando mapas, charges de época ou trechos de jornais antigos projetados em sala, o professor poderá tornar mais palpável a realidade social daquele tempo. Monteiro Lobato deve ser apresentado não apenas como o autor infantil do Sítio do Picapau Amarelo, mas como um escritor aguçado na crítica social. Incentive uma breve discussão inicial: “A literatura pode transformar a sociedade?”
Atividade principal (30 a 35 minutos)
A turma pode ser dividida em dois grupos principais, sendo cada um responsável por um dos contos. Para a análise de “Negrinha”, destacar o sofrimento da personagem central e as críticas veladas ao racismo e aos abusos cometidos por supostos representantes da elite benevolente. Já no grupo responsável por “Urupês”, os alunos devem discutir o personagem Jeca Tatu como símbolo do Brasil rural estagnado e alvo de crítica por sua suposta apatia. Utilizar fichas de leitura com perguntas padronizadas favorece a organização da análise e possibilita igualdade de contribuição entre os grupos.
Concluídas as discussões internas, realiza-se a socialização, comparando os dois contos e identificando os elementos de crítica sociopolítica. Perguntas como: “Que diferenças e semelhanças há na abordagem da crítica entre os dois textos?” ou “Como Jeca e Negrinha representam grupos sociais distintos?” ajudam a consolidar o aprendizado.
Fechamento (5 a 10 minutos)
O docente poderá finalizar retomando os principais tópicos discutidos: o papel do Pré-Modernismo, a crítica por meio da literatura e o uso dos personagens como instrumentos de denúncia social. Como tarefa complementar, sugere-se aos alunos buscar outras obras do autor disponíveis em repositórios abertos, como o Domínio Público ou o site da Biblioteca Nacional. É possível ainda propor uma redação ou podcast temático discutindo questões sociais contemporâneas à luz das críticas de Lobato.
Avaliação / Feedback
A avaliação desta aula sobre Monteiro Lobato será realizada com base na observação da participação dos alunos durante as rodas de discussão, no engajamento com os textos literários e na entrega das fichas de leitura. Estas fichas devem conter anotações sobre pontos centrais das obras “Negrinha” e “Urupês”, como características dos personagens, elementos de crítica social e relações com o contexto histórico.
Além das fichas, os alunos serão convidados a escrever uma breve autoavaliação com o tema: “O que aprendi sobre Monteiro Lobato e o Brasil de sua época?”. Essa atividade estimula a metacognição e permite que o aluno reflita sobre seus próprios avanços na interpretação literária e no entendimento histórico-social.
O feedback fornecido pelo professor deve ser formativo, ou seja, voltado ao crescimento do aluno. É importante destacar aspectos positivos da participação, como contribuições relevantes nas discussões ou boas conexões entre literatura e outras disciplinas, além de apontar possíveis caminhos de aprofundamento, como leituras complementares ou temas de pesquisa.
Para tornar essa avaliação mais rica, o professor pode utilizar ferramentas digitais como formulários online ou portfólios digitais, especialmente úteis em contextos de ensino híbrido ou remoto. Esses registros ajudam a acompanhar a evolução dos alunos e apoiam o planejamento de aulas futuras mais alinhadas às necessidades da turma.
Resumo para os alunos
Nesta aula, exploramos dois contos emblemáticos de Monteiro Lobato: “Negrinha” e “Urupês”. Através deles, os alunos puderam compreender como a literatura reflete e critica a sociedade em diferentes períodos históricos. Em “Negrinha”, discutimos temas como racismo estrutural, violência doméstica e desigualdades herdadas da escravidão — elementos que tornam o conto atual e relevante. Já “Urupês” apresenta o icônico personagem Jeca Tatu, símbolo da miséria e do atraso do Brasil rural, sendo uma excelente porta de entrada para refletir sobre políticas públicas e cidadania.
Durante as análises, os estudantes trabalharam com questões de interpretação textual guiadas, elaboraram mapas conceituais relacionando os temas dos contos com o contexto histórico da Primeira República e debateram em grupos sobre as marcas do Pré-Modernismo presentes nas obras. A atividade buscou desenvolver não apenas a habilidade leitora, mas também o senso crítico em relação às representações sociais presentes na literatura.
Como aprofundamento, recomendamos que os alunos releiam os contos disponíveis gratuitamente no Domínio Público e consultem análises críticas em fontes acadêmicas, como a BDUnicamp. Além disso, o canal LEER-UFSCar no YouTube oferece vídeos com explicações acessíveis sobre temas literários e históricos que enriquecem o estudo.
Esses recursos digitais não apenas ampliam o repertório de leitura, como também promovem a autonomia dos alunos na construção do conhecimento. Incentivamos que usem esses materiais em seus estudos para o Enem e vestibulares, pois os temas discutidos são recorrentes e de grande importância social e cultural.