Ao relacionar literatura, história, filosofia e política, esta aula proporciona uma abordagem interdisciplinar. O objetivo é permitir aos estudantes identificar a persistência de estruturas mítico-narrativas em contextos urbanos, pós-coloniais e multiculturais — um exercício que também reforça as competências exigidas em exames como ENEM e vestibulares tradicionais.
Mais do que apresentar obras, esta aula estimula a reflexão ativa por meio de metodologias como sala de aula invertida e ensino baseado em projetos. A escuta, a leitura e a produção crítica estão no centro da proposta.
O mito continua vivo na contemporaneidade não apenas como herança oral, mas como ferramenta para compreender verdades profundas da nossa sociedade. É hora de iluminar esse percurso com os olhos da educação crítica.
Objetivos de Aprendizagem
Ao final desta aula, espera-se que os estudantes sejam capazes de compreender criticamente o conceito de ‘terceiro surto do mito’ na literatura brasileira, fenômeno que resgata narrativas arquetípicas e tradicionais em diálogo com a modernidade e seus dilemas. Essa compreensão será facilitada por meio da análise de trechos selecionados de romances e peças teatrais que revelam a permanência do mito em novos contextos históricos e culturais.
Outro objetivo essencial é conduzir os alunos à identificação de recursos míticos nas obras de Ariano Suassuna, Raduan Nassar e Milton Hatoum. Por exemplo, ao estudar o romance ‘Lavoura Arcaica’, o estudante poderá reconhecer como a cosmogonia familiar e religiosa é tingida por uma aura mítico-bíblica, enquanto em ‘O Auto da Compadecida’, de Suassuna, a fusão de tradição oral nordestina e arquétipos católicos cria uma narrativa profundamente simbólica.
Além disso, é fundamental que os professores incentivem a reflexão sobre como essas obras articulam cultura popular, identidade nacional e movimentos políticos. Uma atividade sugerida em sala pode ser a elaboração de um mapa conceitual conectando elementos do mito a passagens específicas dos textos, relacionando-os aos contextos sociais do final do século XX e início do XXI no Brasil.
Por fim, serão estimuladas práticas interdisciplinares que envolvam história, filosofia, sociologia e literatura. Debates mediadores, análises comparativas com outros mitos presentes em culturas mundiais, e até mesmo a produção de narrativas míticas contemporâneas pelos próprios alunos (baseadas em dilemas atuais) são estratégias didáticas eficazes para incorporar esses objetivos de maneira ativa e significativa.
Materiais utilizados
Para enriquecer a proposta de aula sobre o terceiro surto do mito, é fundamental contar com uma seleção de materiais que abranjam diferentes mídias e linguagens. Os livros paradidáticos contendo trechos das obras O Auto da Compadecida, Lavoura Arcaica e Dois Irmãos serão os principais textos de apoio. É interessante que os alunos tenham acesso a fragmentos previamente selecionados, especialmente passagens que ressaltem a presença do mito, da oralidade e das tensões contemporâneas.
O uso de recursos audiovisuais amplia a compreensão e engajamento dos alunos. Entrevistas com os autores ou com especialistas sobre as obras, disponíveis em plataformas como YouTube e nos acervos da TV Cultura, podem ser utilizadas para introduzir ou consolidar os conceitos abordados. Recomenda-se exibir trechos curtos e, em seguida, discutir em sala os principais insights extraídos.
O uso de um datashow, TV com internet ou até mesmo um projetor em conjunto com um quadro branco e marcadores, permitirá a visualização dinâmica dos conteúdos e a construção coletiva de mapas conceituais ou esquemas interpretativos das obras. Essas produções podem ser fotografadas e enviadas aos alunos, servindo de material de revisão.
Por fim, o uso de celulares como ferramenta pedagógica é incentivado. Alunos poderão acessar links, gravar áudios com suas reflexões, tirar fotos de mapas mentais e até mesmo registrar entrevistas com os colegas em dinâmicas de interpretação. Vale lembrar que, para isso, é importante estabelecer previamente regras de uso responsável desses dispositivos em sala.
Metodologia utilizada e justificativa
A metodologia ativa de sala de aula invertida será o eixo central da proposta, buscando inverter a lógica tradicional da transmissão de conteúdo. Antes mesmo de chegar à sala, os alunos terão acesso a conteúdos curatoriais — como trechos das obras de Suassuna, Nassar e Hatoum, além de vídeos explicativos sobre o mito na literatura contemporânea. Dessa forma, o tempo em aula será dedicado à discussão crítica, à análise em grupo e à produção interpretativa coletiva, em vez de explicações expositivas.
Esse modelo fomenta notoriamente o engajamento e a autonomia dos estudantes, pois os leva a interagir com o material em casa com relativa profundidade, preparando-se para um debate mais qualificado em sala. A aplicação de estudo de caso literário permite que os alunos escolham e mergulhem em textos específicos, identificando de forma mais concreta onde os elementos míticos emergem na trama, na construção de personagens ou nos conflitos narrativos apresentados.
Durante os encontros presenciais, os alunos serão organizados em pequenos grupos para análises comparativas entre os autores, expondo suas percepções e cruzando leituras. Essa dinâmica favorece o letramento literário e estimula a escuta ativa, valores centrais em propostas pedagógicas contemporâneas. Para dar suporte conceitual, o professor pode propor conexões com marcos históricos como a ditadura militar e o multiculturalismo presente nas regiões retratadas nas narrativas estudadas.
A abordagem interdisciplinar permite compreender o texto literário como um artefato cultural e político, promovendo o diálogo entre Literatura e História. Por exemplo, ao ler um trecho de Dois irmãos, de Hatoum, pode-se discutir o papel do mito familiar no contexto de migração árabe no Brasil. Já com Lavoura arcaica, o debate pode partir das estruturas patriarcais e religiosas que ecoam mitos universais, enquanto Suassuna convoca uma mitologia nordestina reinventada para debater valores atemporais. Esses cruzamentos tornam a aula mais rica, conectando os temas aos desafios do mundo contemporâneo.
Desenvolvimento da aula
Preparo da aula
O primeiro passo para o sucesso da aula sobre o terceiro surto do mito é a preparação cuidadosa dos materiais. O(a) professor(a) deve selecionar trechos representativos das obras de Ariano Suassuna, Raduan Nassar e Milton Hatoum — especialmente aqueles que evidenciem a presença do elemento mítico em contextos contemporâneos. Plataformas como o Domínio Público e a biblioteca da escola são ótimos pontos de partida. Além disso, é proveitoso enriquecer a experiência com vídeos curtos em que os autores expliquem suas influências e visões sobre a literatura brasileira — trechos de entrevistas disponíveis no YouTube ou em acervos de instituições culturais são boas opções.
Introdução da aula (10 min)
Para engajar os alunos desde o início, recomenda-se começar a aula com uma pergunta provocativa escrita no quadro: “O que é um mito, e por que ele ainda existe na literatura atual?”. Essa questão serve como ponto de partida para uma breve discussão em sala sobre narrativas contemporâneas com raízes míticas — como histórias sobre heróis urbanos, lendas locais ou figuras populares. O objetivo é mostrar que, mesmo desconectado de seu formato tradicional, o mito continua a influenciar profundamente a nossa cultura cotidiana.
Atividade principal (30–35 min)
Organizados em três grupos, os alunos analisarão como os autores selecionados ressignificam o mito em suas obras. Cada grupo recebe textos curtos e assiste a um vídeo associado ao autor que estudará. Por exemplo, o grupo de Suassuna pode explorar “O Auto da Compadecida”, destacando a fusão entre o sertão e valores arquetípicos do bem e do mal. Já os grupos de Nassar e Hatoum podem investigar personagens míticos e a reinterpretação de valores culturais em contextos urbanos e familiares. Após a leitura e análise oral entre os colegas, cada grupo prepara uma apresentação breve de 5 minutos, seguida de uma discussão orientada pelo(a) professor(a) que retoma as relações entre mito, cultura e identidade.
Fechamento (5–10 min)
A aula encerra-se com uma roda de conversa, em que os alunos respondem coletivamente à pergunta: “De que forma a literatura ajuda a manter vivas as histórias e valores de um povo?”. Essa etapa reforça a criticidade e propicia conexões com conteúdos filosóficos e sociológicos. O professor finaliza sugerindo aos alunos o curso online gratuito da UNIVESP sobre Literatura Brasileira Contemporânea, incentivando o aprofundamento autônomo.
Avaliação / Feedback
A avaliação nesta proposta será essencialmente formativa, com foco no processo de aprendizagem e não apenas em resultados finais. A participação oral durante as discussões é um dos principais indicadores de envolvimento e compreensão dos alunos. Para registrar esse engajamento, o professor pode utilizar uma rubrica simples, com critérios como qualidade da argumentação, pertinência das referências aos textos e escuta ativa dos colegas.
Outro aspecto da avaliação envolve a análise crítica apresentada pelos alunos durante os debates e na devolutiva de atividades em grupo, como pequenos textos reflexivos ou mapas conceituais que relacionem mito e contemporaneidade nos autores estudados. Essa produção pode ser avaliada de forma qualitativa, destacando o uso de evidências textuais e a capacidade de interpretar camadas simbólicas da narrativa literária.
A devolutiva coletiva deve acontecer ao fim da aula ou na aula seguinte, permitindo que professores destaquem padrões positivos e aspectos que ainda merecem atenção, sempre em tom construtivo. Isso reforça a cultura do feedback como ferramenta de crescimento. Também é possível propor um momento de autoavaliação, onde os próprios estudantes refletem sobre seu desempenho e aprendizado.
Como dica prática, os professores podem criar uma planilha simples ou uma ficha de observação com espaço para anotações rápidas durante a aula, facilitando a coleta sistemática de evidências de aprendizagem. Incorporar esses registros no planejamento de aulas futuras ajuda a adaptar conteúdos e estratégias de acordo com as necessidades da turma.
Observações
Esta aula se insere em um contexto mais amplo de reflexão sobre a literatura contemporânea brasileira, sendo ideal para fazer parte de uma sequência didática que contemple temas como memória, identidade e narrativa. Sua natureza interdisciplinar permite conexões ricas com outras áreas do conhecimento. Por exemplo, ao lado da disciplina de Filosofia, pode-se explorar conceitos de mito e arquétipo a partir de Carl Jung, possibilitando discussões sobre símbolos universais e suas manifestações na literatura. Já em História, o foco pode ser direcionado para o período pós-1964, analisando como a repressão e a censura influenciaram a produção cultural.
Em sala de aula, uma estratégia prática é dividir a turma em grupos, cada um responsável por analisar um autor — Suassuna, Nassar ou Hatoum — considerando suas representações míticas. Isso favorece a diversidade de interpretações e o engajamento por meio do trabalho colaborativo. Para escolas com menos carga horária ou turmas reduzidas, é possível focar em apenas um autor, escolhendo aquele cuja obra mais se alinhe ao interesse dos alunos ou ao projeto pedagógico do curso.
Uma sugestão interessante é a criação de painéis temáticos, nos quais estudantes relacionem seus autores estudados com notícias, filmes ou músicas da atualidade que abordem temas míticos ou transcendentais. Essa atividade fortalece o pensamento crítico e estimula a criatividade ao conectar o conteúdo literário aos contextos culturais contemporâneos.
Não menos importante, o uso de metodologias ativas como sala de aula invertida pode tornar a experiência mais dinâmica: os alunos estudam antecipadamente uma obra ou trechos selecionados e, em sala, discutem suas representações míticas, estabelecendo conexões pessoais e coletivas com o tema.
Resumo para alunos
Nesta aula, você aprendeu como o mito ainda está presente na literatura brasileira contemporânea. Estudamos três autores importantes: Ariano Suassuna, com sua valorização da cultura nordestina e da tradição oral no Auto da Compadecida; Raduan Nassar, que representa os conflitos internos em obras como Lavoura arcaica; e Milton Hatoum, que retrata tensões familiares e multiculturais no contexto urbano da Amazônia, como em Relato de um Certo Oriente.
Esses escritores demonstram que os mitos não são apenas heranças culturais, mas instrumentos poderosos de reflexão sobre a identidade nacional, a subjetividade e os conflitos históricos. Ao reinterpretar estruturas míticas, eles renovam a narrativa literária e a conectam com questões contemporâneas do Brasil.
Durante a aula, você teve a oportunidade de desenvolver análises críticas a partir de atividades em grupo e debates, enfatizando os sentidos ocultos nas obras. Por meio de metodologias como sala de aula invertida, os textos foram lidos previamente e os conceitos discutidos de forma colaborativa, promovendo maior autonomia no aprendizado.
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos, recomendamos o curso gratuito “Literatura Brasileira Contemporânea” da UNIVESP, que oferece videoaulas e leituras complementares sobre autores e temas abordados nesta unidade.