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Sociologia – Teorias Evolucionistas do Século XIX (Imperialismo na África e Ásia) (Plano de aula – Ensino médio)

Como referenciar este texto: Sociologia – Teorias Evolucionistas do Século XIX (Imperialismo na África e Ásia) (Plano de aula – Ensino médio). Rodrigo Terra. Publicado em: 19/11/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/sociologia-teorias-evolucionistas-do-seculo-xix-imperialismo-na-africa-e-asia-plano-de-aula-ensino-medio/.


 
 

Este plano de aula de Sociologia propõe a análise crítica das principais ideias evolucionistas do século XIX, especialmente no contexto do imperialismo europeu na África e na Ásia. A aula visa fomentar a compreensão dos vínculos entre teorias sociológicas, racismo científico e dominação colonial.

O uso de uma metodologia ativa e interdisciplinar, articulando conteúdos com História e Geografia, permitirá aos alunos desenvolver um olhar crítico sobre como justificativas teóricas moldaram ações políticas e econômicas, e como essas ideias reverberam até hoje.

Levar para sala de aula debates sobre os usos da ciência no passado é uma excelente oportunidade para trabalhar valores como ética, justiça social e respeito à diversidade cultural, reforçando a relevância da Sociologia na formação cidadã dos estudantes.

Este plano oferece também a oportunidade de abordar temas contemporâneos relacionados à desigualdade global e ao legado do colonialismo, construído em parte sob fundamentos teóricos que estaremos desconstruindo em sala.

 

Contextualizando as teorias evolucionistas

As teorias evolucionistas do século XIX propunham uma trajetória linear de desenvolvimento das sociedades humanas, indo de um suposto estado primitivo até o ápice da civilização, representado, segundo esses teóricos, pelas sociedades europeias industrializadas. Autores como Herbert Spencer aplicaram conceitos darwinistas à organização social, popularizando a ideia de “sobrevivência do mais apto” também entre culturas. Isso implicava que povos não europeus eram considerados menos evoluídos e, portanto, inferiores.

No ambiente escolar, é possível propor uma análise crítica dessas teorias a partir de textos históricos e científicos da época, incentivando os alunos a identificar argumentos etnocêntricos e suas consequências. Uma boa atividade é dividir a turma em grupos para que pesquisem diferentes sociedades e apresentem como estas foram avaliadas pelo pensamento evolucionista, discutindo possíveis distorções e preconceitos envolvidos.

Além disso, o professor pode trazer uma discussão interdisciplinar com a História, analisando como essas ideias foram usadas para justificar o colonialismo, especialmente na África e na Ásia. A aula pode incluir o estudo de documentos coloniais, trechos de discursos políticos e até conteúdos de manuais escolares do século XIX, promovendo reflexão sobre o papel da ciência na legitimação de práticas de dominação.

Outra atividade interessante é propor um debate em sala sobre o legado dessas teorias na atualidade, relacionando com problemas contemporâneos como o racismo estrutural e a desigualdade global. Os alunos podem refletir sobre como ideias aparentemente científicas podem carregar valores ideológicos e reforçar hierarquias sociais injustas.

Encerrar com uma produção escrita ou apresentação artística que represente formas alternativas e plurais de entender o desenvolvimento cultural e social das civilizações ao redor do mundo pode ser uma forma de valorizar a diversidade e fortalecer a consciência crítica dos estudantes.

 

O racismo científico e suas implicações

Durante o século XIX, o avanço da ciência foi acompanhado pela tentativa de aplicar seus métodos e conceitos à compreensão das sociedades humanas. Nesse contexto, surgiram teorias que deturparam o darwinismo para justificar a hierarquia entre raças e culturas. O chamado ‘racismo científico’ fundamentava-se em medições fisiológicas e argumentos biológicos que afirmavam a inferioridade de povos não-europeus, reforçando a ideia de uma suposta missão civilizatória das potências coloniais.

Em sala de aula, é fundamental promover o questionamento crítico dessas narrativas por meio da análise de fontes primárias, como textos de Charles Darwin, Herbert Spencer e outros pensadores que influenciaram o pensamento colonial. Comparar esses textos com documentos históricos do período, como caricaturas, fotografias e relatos de exploradores, pode estimular os alunos a perceberem as implicações éticas e sociais do uso indevido da ciência.

Uma atividade eficaz é a leitura orientada de trechos do livro “Raízes do Brasil”, onde Sérgio Buarque de Holanda menciona as consequências do pensamento eurocêntrico no Brasil, relacionando com a formação da identidade nacional. Mapas coloniais e relatórios de missões civilizatórias também podem ampliar o debate sobre como o racismo científico sustentou a dominação política, econômica e simbólica.

Outra sugestão é a realização de um debate estruturado sobre o legado do racismo científico e seus desdobramentos contemporâneos, como o racismo estrutural. Os alunos podem ser divididos em grupos que representam diferentes perspectivas históricas, promovendo empatia e análise crítica.

Ao final da sequência didática, é recomendável propor uma redação em que os estudantes reflitam sobre o papel da ciência na sociedade e os riscos da instrumentalização do saber científico. Essa abordagem não apenas reforça os conteúdos da Sociologia, mas desenvolve habilidades de leitura, argumentação e cidadania crítica.

 

A conquista da África e da Ásia sob a ótica do evolucionismo social

Durante o século XIX, o evolucionismo social foi utilizado como instrumento ideológico para justificar a expansão imperialista europeia na África e na Ásia. Segundo essa perspectiva, as sociedades europeias seriam mais ‘evoluídas’ e, portanto, moralmente autorizadas a dominar povos considerados ‘atrasados’. Essa narrativa sustentava o discurso da missão civilizatória, pelo qual a imposição cultural, econômica e política era apresentada como uma benfeitoria para os povos colonizados.

Em sala de aula, é possível trabalhar com imagens, relatos de época e trechos de textos de autores como Herbert Spencer e Auguste Comte para demonstrar como esse pensamento foi usado para sustentar hierarquias raciais e culturais. Discutir como conceitos como ‘progresso’ e ‘civilização’ foram distorcidos ajuda os alunos a identificar essas construções ideológicas e sua permanência no imaginário social contemporâneo.

Exemplos concretos são essenciais para dar vida ao tema. A colonização do Congo por Leopoldo II da Bélgica, caracterizada pela brutalidade na extração de borracha, é um exemplo emblemático de como a exploração foi mascarada sob o pretexto de levar desenvolvimento. Da mesma forma, a ocupação britânica da Índia envolveu a imposição cultural e econômica sob a alegação de modernização, frequentemente ignorando e negando saberes e tradições locais.

É recomendável colocar os alunos para realizarem pesquisas em grupos sobre diferentes casos de colonialismo, analisando não apenas os fatos históricos, mas também os discursos que os embasavam. Essa abordagem ativa e investigativa estimula o pensamento crítico e ajuda a evidenciar as conexões entre teoria e prática na história da sociologia.

Por fim, promover debates sobre como essas ideias ainda impactam a sociedade atual — por exemplo, em representações midiáticas de países do Sul Global — permite que os alunos entendam o legado do colonialismo e a importância de combater visões etnocêntricas na construção de um senso de cidadania global ética e responsável.

 

Atividade em grupo: análise interdisciplinar

A atividade em grupo propõe a formação de equipes compostas por alunos com afinidade por diferentes disciplinas – Sociologia, História e Geografia –, estimulando uma abordagem colaborativa e plural do tema em questão. Cada grupo receberá um conjunto de materiais que pode incluir mapas antigos do período colonial, trechos de livros didáticos do século XIX, anúncios publicitários da época e documentos oficiais de governos colonizadores.

O objetivo da análise é identificar conceitos e argumentos evolucionistas utilizados para justificar o imperialismo europeu na África e na Ásia. Por exemplo, espera-se que os grupos reconheçam expressões como “civilizar os povos primitivos” ou “levar o progresso aos atrasados” como resquícios do darwinismo social e da hierarquização racial então dominante.

Para aprofundar a reflexão, os alunos devem responder a perguntas-guia: Quais visões de mundo são expressas nestes documentos? Que interesses podem estar por trás dessas ideias? Quais efeitos sociais e ambientais essas ideologias provocaram nos territórios colonizados? Essa etapa ajuda na desconstrução crítica das narrativas eurocêntricas que se perpetuaram por séculos.

Ao final, os grupos podem apresentar seus achados por meio de cartazes, apresentações multimídia ou jornais murais. Essa socialização promove o letramento interdisciplinar e reforça a importância da escuta coletiva e do respeito às diferentes formas de expressão do conhecimento.

Como dica prática, o professor pode buscar parcerias com docentes das outras áreas, propondo uma aula conjunta ou semana temática. Dessa forma, o processo de aprendizagem se torna mais integrado, dinâmico e significativo.

 

Metodologia ativa: debate socrático

O debate socrático será utilizado como principal metodologia ativa neste plano de aula, proporcionando um espaço estruturado para que os alunos discutam criticamente a influência das teorias evolucionistas do século XIX no imperialismo europeu na África e na Ásia. A atividade será iniciada com a apresentação de perguntas norteadoras pelo professor, instigando os participantes a refletirem sobre como essas ideias ainda repercutem nas relações internacionais e nos preconceitos raciais contemporâneos.

Os estudantes serão organizados em círculo para incentivar a escuta ativa e o respeito à fala do outro, em consonância com os princípios do método socrático. Antes do debate, cada grupo deverá realizar uma pesquisa guiada sobre o pensamento de pensadores como Herbert Spencer e Auguste Comte, analisando trechos de textos originais e documentos históricos que evidenciem o uso das teorias evolucionistas na justificativa do colonialismo.

Durante o debate, os alunos devem apresentar argumentos baseados em evidências compiladas em sala ou em casa. O professor atuará como mediador, ajudando a manter o foco do diálogo e incentivando a participação equitativa. Questões como “Existe ainda hoje alguma forma de hierarquização cultural embasada em teorias pseudocientíficas?” poderão ser exploradas para aproximar o tema da realidade dos estudantes.

Essa abordagem promove o protagonismo estudantil, estimula o raciocínio crítico e fortalece competências socioemocionais importantes, como empatia, escuta ativa e articulação de ideias. O debate socrático também permite a interdisciplinaridade ao integrar conteúdos de História, Geografia e Filosofia, promovendo uma visão holística sobre os efeitos do imperialismo e dos discursos científicos utilizados para legitimar a dominação.

Para registrar o aprendizado, pode-se propor uma avaliação formativa no final da atividade: cada aluno escreve uma breve autoavaliação refletindo sobre o que aprendeu, como contribuiu para a discussão e de que forma as ideias debatidas impactam sua compreensão do mundo atual.

 

Recursos digitais complementares

Após a realização da aula sobre as teorias evolucionistas do século XIX e sua relação com o imperialismo, é altamente recomendável que os alunos explorem recursos digitais para aprofundar seu conhecimento. Uma ótima opção é o acervo digital da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP, que disponibiliza gratuitamente textos históricos relevantes, como documentos sobre o pensamento europeu do século XIX, relatos de viagens coloniais e obras de naturalistas que inspiraram o pensamento evolucionista. O acesso pode ser feito online, permitindo consultas tanto em sala quanto como atividade extraclasse.

Além disso, recomendamos o curso aberto oferecido pela UFRGS, intitulado “História do Imperialismo”, hospedado na plataforma Lúmina. Este curso fornece uma análise detalhada sobre os processos imperialistas na África e na Ásia, com enfoque nas justificativas ideológicas utilizadas pelos europeus durante o século XIX, tais como as teorias do darwinismo social e o determinismo racial. O conteúdo é apresentado em módulos com textos, vídeos e quiz avaliativos, ideias para reforçar o aprendizado de forma ativa.

Para tornar a experiência ainda mais rica, os professores podem propor atividades exploratórias usando esses recursos, como debates temáticos com base nos textos da Biblioteca Brasiliana ou a elaboração de resumos reflexivos após a conclusão dos módulos do curso da UFRGS. Tais práticas incentivam a autonomia dos estudantes, sua capacidade analítica e o uso crítico da informação.

Outras fontes digitais podem ser utilizadas, como o portal Domínio Público, com obras clássicas sobre sociologia e história, e vídeos do canal Café História no YouTube, que abordam os legados do colonialismo na atualidade. A diversidade de formatos e perspectivas fortalece a abordagem interdisciplinar proposta no plano de aula.

Por fim, os alunos podem ser convidados a criar pequenas apresentações ou podcasts em grupo, discutindo os impactos das ideias evolucionistas nas relações globais e comparando com situações contemporâneas. As tecnologias digitais não apenas ampliam o acesso ao conteúdo, mas também estimulam formas criativas de construção de conhecimento.

 

Resumo para os alunos

Nesta aula, investigamos como as teorias evolucionistas do século XIX tentaram classificar as sociedades humanas em etapas de desenvolvimento, partindo da ideia equivocada de que algumas culturas eram “mais evoluídas” do que outras. Exemplos como a teoria dos três estágios de Auguste Comte e as noções de “selvageria” e “civilização” foram discutidos em sala, sempre com uma análise crítica sobre seus usos políticos.

Debatemos também como essas teorias serviram de base para o racismo científico, reforçando construções ideológicas que legitimaram o colonialismo europeu na África e na Ásia. Utilizamos mapas históricos, imagens de época e trechos de documentos oficiais para refletir sobre a construção de uma hierarquia entre os povos.

A interdisciplinaridade foi fundamental: com apoio da História, contextualizamos os movimentos imperialistas europeus; pela Geografia, estudamos a repartição territorial do continente africano e os impactos econômicos e sociais dessas ocupações coloniais. Essa abordagem contribuiu para compreender os legados do colonialismo no mundo contemporâneo.

Como parte do processo de aprofundamento, recomendamos dois recursos importantes: o acervo digital da USP (https://www.bbm.usp.br/), que disponibiliza fontes históricas originais, e o curso gratuito da UFRGS na plataforma Lúmina (https://lumina.ufrgs.br/course/view.php?id=327), que aprofunda temas sobre colonialismo, racismo e conhecimento científico.

Ao final, discutimos como essas ideias ainda impactam o mundo atual e refletimos sobre a importância de desenvolver um pensamento crítico frente ao uso histórico da ciência para justificar desigualdades. Os alunos foram incentivados a pensar sobre como valores como justiça, igualdade e respeito à diversidade podem orientar a produção do saber sociológico hoje.

 

Rodrigo Terra

Com formação inicial em Física, especialização em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional e Docência, e graduação em Ciências de Dados, construí uma trajetória sólida que une educação, tecnologias ee inovação. Desde 2001, dedico-me ao campo educacional, e desde 2019, atuo também na área de ciência de dados, buscando sempre encontrar soluções focadas no desenvolvimento humano. Minha experiência combina um profundo conhecimento em educação com habilidades técnicas em dados e programação, permitindo-me criar soluções estratégicas e práticas. Com ampla vivência em análise de dados, definição de métricas e desenvolvimento de indicadores, acredito que a formação transdisciplinar é essencial para preparar indivíduos conscientes e capacitados para os desafios do mundo contemporâneo. Apaixonado por café e boas conversas, sou movido pela curiosidade e pela busca constante de novas ideias e perspectivas. Minha missão é contribuir para uma educação que inspire pensamento crítico, estimule a criatividade e promova a colaboração.

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