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Teoria da Aprendizagem Significativa (Ausubel)

Como referenciar este texto: Teoria da Aprendizagem Significativa (Ausubel)’. Rodrigo Terra. Publicado em: 06/06/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/teoria-da-aprendizagem-significativa-ausubel/.

Conteúdos que você verá nesta postagem

A educação é um campo em constante reinvenção, e poucas teorias permanecem tão atuais e desafiadoras quanto a Teoria da Aprendizagem Significativa, proposta por David Paul Ausubel. Neste texto, vamos explorar as bases dessa teoria, suas implicações para a prática docente e o que ela ainda nos ensina em um cenário educacional cada vez mais marcado por tecnologia, diversidade e metodologias ativas.

Quem foi David Ausubel?

David Paul Ausubel nasceu em 1918, em Nova Iorque, e desde a infância desenvolveu uma postura crítica em relação à escola tradicional de seu tempo. As experiências negativas, baseadas em punições e na rigidez, o impulsionaram a buscar alternativas para um ensino mais humano e significativo. Psiquiatra e doutor em Psicologia do Desenvolvimento, Ausubel dedicou sua vida à Psicologia Educacional, tornando-se um dos principais expoentes do Cognitivismo — corrente que destaca a importância do papel ativo do indivíduo na construção do conhecimento.

O que é Aprendizagem Significativa?

A teoria de Ausubel surge como contraponto ao behaviorismo e ao ensino tradicional, focados em repetição e memorização. Para ele, aprender não é apenas acumular informações ou responder a estímulos externos, mas integrar novos conhecimentos à estrutura mental já existente do aprendiz. Em seu livro clássico, “The Psychology of Meaningful Verbal Learning” (1963), Ausubel argumenta que só há aprendizagem de fato quando o novo faz sentido para o estudante — ou seja, quando é possível relacionar conceitos, ideias e experiências anteriores àquilo que se está aprendendo agora.

A aprendizagem significativa ocorre quando o aluno é capaz de ancorar novos conteúdos em conceitos já consolidados, em um processo de ressignificação mútua: o novo transforma o antigo e vice-versa. Esse movimento dinâmico diferencia a simples memorização (ou aprendizagem mecânica) do desenvolvimento real de competências e habilidades.

O Papel dos Subsunçores

No centro dessa teoria estão os chamados subsunçores: conceitos-chave ou ideias relevantes que já existem na estrutura cognitiva do aluno. Ao receber uma nova informação, o estudante procura conectá-la a esses subsunçores. Quanto mais claros, estáveis e diferenciados forem esses conceitos prévios, maior será a possibilidade de a aprendizagem ser, de fato, significativa.

Por exemplo, ao ensinar energia elétrica para uma turma do ensino fundamental, um professor pode partir de experiências cotidianas dos estudantes — como o uso de aparelhos domésticos —, relacionando o novo conteúdo à vivência concreta e ao vocabulário já adquirido.

Cinco Relações Essenciais para o Sucesso da Aprendizagem Significativa

Ausubel vai além do simples ato de “relacionar conteúdos” e destaca cinco dimensões fundamentais:

  1. Relação do indivíduo com o mundo: Aprender é compreender o mundo e agir sobre ele. A educação precisa ser contextualizada e significativa para a realidade do aluno.

  2. Relação entre quem ensina e quem aprende: O professor é mediador, parceiro e provocador do pensamento.

  3. Relação entre os modos de compreender: Cada pessoa compreende a partir de sua história, repertório, emoções e experiências. A escuta ativa e o respeito à diversidade são essenciais.

  4. Relação entre conteúdo e conhecimento prévio: O ponto de partida deve ser o que o estudante já sabe — não o que o professor pressupõe que ele saiba.

  5. Relação entre o ensino e as condições do aprendiz: Interesses, motivações, cultura, linguagem, contexto social — tudo isso deve ser levado em consideração ao planejar o ensino.

Essas relações colocam o aluno no centro do processo e redefinem o papel do professor: em vez de transmissor de conhecimento, torna-se facilitador e designer de experiências de aprendizagem.

Condições para que a Aprendizagem Seja Significativa

Ausubel define duas condições fundamentais para que a aprendizagem significativa ocorra:

1. Conteúdo Potencialmente Significativo

O material didático, por si só, nunca é automaticamente significativo. Ele se torna potencialmente significativo se for organizado de forma lógica, clara e relevante, permitindo ao aluno estabelecer conexões com o que já conhece. Para isso, é fundamental estimular a curiosidade, propor problemas reais, dar espaço ao diálogo, à expressão e ao questionamento.

Exemplo prático:
Uma atividade sobre sustentabilidade pode partir do contexto do bairro dos estudantes, convidando-os a mapear os resíduos produzidos em suas casas, discutir práticas locais e buscar soluções para o descarte responsável.

2. Predisposição do Aprendiz

Nenhuma estratégia será eficaz se o estudante não demonstrar disposição genuína para aprender e relacionar os novos conteúdos com seu próprio repertório. O papel do professor é criar ambientes motivadores, acolhedores e abertos à participação — favorecendo o protagonismo estudantil.

Exemplo prático:
Projetos interdisciplinares, oficinas maker e aprendizagem baseada em problemas são exemplos de abordagens que favorecem a participação ativa e a motivação.

Entre a Lousa e o Mundo: Metodologias Ativas e Novos Desafios

Ausubel nunca defendeu o abandono de práticas tradicionais, como o uso da lousa ou exposições orais. Pelo contrário: reconhecia seu valor quando articuladas a abordagens inovadoras. O segredo está na combinação: quanto mais diversificados forem os caminhos para que o aluno atribua sentido ao que aprende, maiores as chances de que o conhecimento seja retido, aplicado e transferido para outras situações.

Vivemos hoje um cenário em que as metodologias ativas, a cultura digital e a aprendizagem baseada em projetos encontram respaldo na teoria de Ausubel. O uso de tecnologias, ambientes virtuais de aprendizagem, jogos e simulações pode — quando bem planejado — ampliar as oportunidades de aprendizagem significativa.

Exemplos de Aplicação da Teoria de Ausubel em Consonância com a BNCC

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe que a educação desenvolva competências cognitivas, sociais, emocionais e culturais, valorizando o protagonismo do estudante, o respeito à diversidade e o aprendizado contextualizado. Esse alinhamento está totalmente em sintonia com a Teoria da Aprendizagem Significativa.

Veja alguns exemplos práticos:

1. Habilidade EF02CI01 (Ciências – 2º ano): “Observar e identificar as necessidades básicas dos seres vivos…”
Em vez de apenas listar necessidades vitais, o professor pode começar a aula perguntando sobre os animais de estimação ou plantas que os alunos têm em casa. A partir das experiências compartilhadas, constrói-se o conceito de necessidades básicas, ancorando o novo conteúdo nas vivências pessoais dos estudantes.

2. Habilidade EF05MA21 (Matemática – 5º ano): “Analisar, interpretar e resolver problemas utilizando as quatro operações…”
Trabalhar situações-problema baseadas no cotidiano da turma (como compras, troco, receitas de família) favorece a aprendizagem significativa, pois conecta o conhecimento matemático a situações reais e já conhecidas pelos alunos.

3. Habilidade EF67AR22 (Artes – 6º ao 7º ano): “Experimentar diferentes procedimentos e recursos da linguagem artística…”
Ao propor a criação de uma obra artística, o professor pode partir do repertório cultural da comunidade local, incentivando os alunos a resgatar referências familiares, culturais e regionais antes de apresentar novos conceitos e técnicas.

4. Competência Geral 4 da BNCC: “Utilizar diferentes linguagens – verbal, corporal, visual, sonora, digital…”
Projetos que desafiem os alunos a expressar ideias por meio de vídeos, podcasts, blogs ou apresentações digitais promovem a aprendizagem significativa, pois se apoiam em múltiplas formas de expressão já conhecidas e utilizadas pelos estudantes fora da escola.

Como Integrar a Teoria de Ausubel com Metodologias Ativas

As metodologias ativas — como aprendizagem baseada em projetos, resolução de problemas, ensino híbrido e sala de aula invertida — potencializam a aprendizagem significativa ao colocar o aluno como sujeito do processo, incentivando a autonomia, a colaboração e o protagonismo.

Exemplo 1: Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP/PBL)
Ao planejar um projeto sobre consumo consciente, por exemplo, o professor pode mapear o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema (subsunçores), utilizando rodas de conversa, mapas conceituais ou pesquisas iniciais. Em seguida, propõe desafios reais — como criar campanhas de conscientização para a escola ou comunidade — conectando o novo conhecimento às experiências e interesses dos estudantes.

Exemplo 2: Sala de Aula Invertida
No modelo de sala de aula invertida, o estudante tem contato prévio com o conteúdo em casa (por meio de vídeos, textos, podcasts) e, em sala, participa de atividades práticas e colaborativas. O professor pode propor questões que resgatem conhecimentos anteriores, estimulando que cada estudante relacione os novos conceitos ao seu próprio repertório.

Exemplo 3: Aprendizagem Colaborativa
Ao organizar os alunos em grupos para a resolução de problemas, o professor favorece a troca de saberes e o confronto de diferentes interpretações, ampliando as possibilidades de ancoragem dos novos conteúdos. Debates, seminários e oficinas maker são caminhos potentes para essa integração.

Exemplo 4: Uso de Tecnologias Digitais
Ferramentas como simuladores, jogos educativos, ambientes virtuais e aplicativos de construção de mapas conceituais permitem que o estudante explore, teste hipóteses e construa sentido a partir do que já conhece, promovendo aprendizagem significativa em sintonia com práticas contemporâneas.

O que o aluno já sabe é o ponto de partida

A frase célebre de Ausubel resume toda a teoria e deveria ser gravada em todo planejamento escolar:

“Se tivesse que reduzir toda a psicologia educacional a um só princípio, diria o seguinte: o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe. Descubra isso e ensine-o de acordo.” (Ausubel, 1978)

Mais do que nunca, ensinar é um ato de escuta, diálogo e construção conjunta de sentidos. Que a Teoria da Aprendizagem Significativa continue inspirando práticas inovadoras e humanizadas, em todas as etapas e espaços educativos.

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Rodrigo Terra

Com formação inicial em Física, especialização em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional e Docência, e graduação em Ciências de Dados, construí uma trajetória sólida que une educação, tecnologias ee inovação. Desde 2001, dedico-me ao campo educacional, e desde 2019, atuo também na área de ciência de dados, buscando sempre encontrar soluções focadas no desenvolvimento humano. Minha experiência combina um profundo conhecimento em educação com habilidades técnicas em dados e programação, permitindo-me criar soluções estratégicas e práticas. Com ampla vivência em análise de dados, definição de métricas e desenvolvimento de indicadores, acredito que a formação transdisciplinar é essencial para preparar indivíduos conscientes e capacitados para os desafios do mundo contemporâneo. Apaixonado por café e boas conversas, sou movido pela curiosidade e pela busca constante de novas ideias e perspectivas. Minha missão é contribuir para uma educação que inspire pensamento crítico, estimule a criatividade e promova a colaboração.

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