Como referenciar este texto: ‘Descubra seu estilo de aprendizagem: Aplicando o modelo de Kolb’. Rodrigo Terra. Publicado em: 23/07/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/descubra-seu-estilo-de-aprendizagem-aplicando-o-modelo-de-kolb/.
Conteúdos que você verá nesta postagem
Cada estudante aprende de forma diferente. Alguns precisam experimentar para compreender; outros, observar; há quem prefira teorizar, enquanto muitos só assimilam o conhecimento quando o colocam em prática. Reconhecer essas diferenças não é apenas um desafio pedagógico — é uma oportunidade de transformar o processo de ensino em algo mais eficaz, inclusivo e motivador.
Foi a partir dessa percepção que o psicólogo norte-americano David A. Kolb desenvolveu sua teoria dos estilos de aprendizagem, baseada na ideia de que aprender é um processo cíclico que envolve a experiência, a reflexão, a abstração e a experimentação. Seu modelo propõe que cada pessoa tende a se identificar mais com uma ou mais dessas etapas, resultando em estilos distintos de aprendizagem.
Compreender o modelo de Kolb permite que educadores planejem experiências mais alinhadas aos perfis cognitivos de seus alunos, promovendo ambientes de aprendizagem mais equitativos, dinâmicos e centrados no estudante. Este texto apresenta os fundamentos dessa teoria, os quatro estilos de aprendizagem descritos por Kolb e sugestões práticas para aplicar esse conhecimento no cotidiano educacional, especialmente em contextos que valorizam metodologias ativas e ensino personalizado.
O Ciclo de Aprendizagem de Kolb
No centro da teoria de David A. Kolb está a ideia de que o aprendizado acontece por meio da experiência. Para Kolb, aprender é um processo dinâmico que se desenvolve em um ciclo contínuo de quatro fases. Essas fases não são etapas isoladas, mas componentes interdependentes de um processo que pode começar em qualquer ponto, embora, idealmente, o ciclo completo seja percorrido para que a aprendizagem seja plena. A seguir, explicamos cada uma delas:
1. Experiência Concreta (EC)
É o ponto de partida do ciclo para muitos estudantes: o momento em que vivenciam uma situação real, prática ou simbólica. Trata‑se de mergulhar diretamente em uma atividade, como um experimento em laboratório, uma simulação, um jogo educativo, uma discussão em grupo ou até uma situação cotidiana.
Características principais:
Envolve sentimento, envolvimento direto e sensorial.
Valoriza o fazer antes do pensar.
É fundamental para aprendizes que preferem ações práticas e envolvimento emocional.
Exemplo prático: um aluno participa de uma dramatização sobre a Revolução Francesa, assumindo o papel de um personagem histórico.
2. Observação Reflexiva (OR)
Após a experiência, a fase reflexiva consiste em observar e analisar o que foi vivido. Aqui, o estudante busca compreender os acontecimentos, identificar padrões, levantar hipóteses e considerar diferentes pontos de vista.
Características principais:
Foco na escuta, na análise e na contemplação.
Ênfase em observar consequências e reações.
Base para formulação de interpretações mais profundas.
Exemplo prático: depois da dramatização, os alunos refletem em grupo sobre como diferentes grupos sociais se posicionaram durante o evento histórico.
3. Conceitualização Abstrata (CA)
É o momento em que a reflexão dá origem à teoria. O estudante generaliza a partir da experiência vivida e das observações feitas, construindo modelos mentais, conceitos e relações lógicas. Nessa fase, há forte conexão com a leitura, o estudo teórico e a construção racional do conhecimento.
Características principais:
Envolve raciocínio lógico e sistematização.
Busca estabelecer explicações e princípios.
Favorece estudantes que aprendem por meio da análise intelectual.
Exemplo prático: o professor apresenta o conceito de luta de classes e estrutura social à luz do que foi encenado e discutido, integrando a teoria à prática.
4. Experimentação Ativa (EA)
Nesta etapa, o conhecimento teórico é testado em novas situações. Os estudantes aplicam o que aprenderam em problemas práticos, planejando e agindo sobre o mundo. Essa fase fecha o ciclo e pode, por sua vez, gerar uma nova experiência concreta.
Características principais:
Estimula a ação planejada e a resolução de problemas.
Envolve iniciativa, tomada de decisão e transformação da realidade.
Atrai estudantes mais orientados à prática e ao desafio.
Exemplo prático: os alunos são convidados a propor soluções para desigualdades sociais contemporâneas, inspirados pelo que aprenderam sobre a Revolução Francesa.
Integração das Fases
É importante compreender que o ciclo de Kolb não é linear, nem fixo. Cada indivíduo pode começar em uma fase diferente, conforme seu estilo pessoal, mas um processo de aprendizagem completo e significativo envolve passar pelas quatro etapas. O modelo valoriza tanto a ação quanto a reflexão, tanto a experiência quanto a teoria — e propõe que a aprendizagem acontece de forma mais rica quando há equilíbrio entre essas dimensões.
Os Estilos de Aprendizagem segundo Kolb
Com base nas quatro fases do ciclo de aprendizagem — Experiência Concreta (EC), Observação Reflexiva (OR), Conceitualização Abstrata (CA) e Experimentação Ativa (EA) — David Kolb propôs que cada indivíduo tende a favorecer duas dessas dimensões em detrimento das outras. A combinação preferencial de uma forma de perceber (EC ou CA) com uma forma de processar (OR ou EA) dá origem a quatro estilos principais de aprendizagem:
Estilo Divergente (EC + OR)
Estilo Assimilador (CA + OR)
Estilo Convergente (CA + EA)
Estilo Acomodador (EC + EA)
Cada estilo representa uma maneira predominante de aprender, com características, preferências e necessidades próprias. A seguir, detalhamos cada um deles:
1. Estilo Divergente (Experiência Concreta + Observação Reflexiva)
Como aprende:
Pessoas com esse estilo preferem aprender por meio da experiência direta, combinada com a reflexão cuidadosa. São observadores atentos e valorizam o envolvimento emocional nas situações. Costumam olhar os temas sob múltiplas perspectivas e apreciam contextos que envolvem criatividade e empatia.
Características principais:
Sensibilidade, empatia, imaginação e intuição.
Habilidade para ver situações de diferentes pontos de vista.
Interesse por experiências humanas e sociais.
Tendência a preferir trabalhos em grupo e discussões abertas.
Ambientes ideais de aprendizagem:
Aulas participativas com dinâmicas, dramatizações e rodas de conversa.
Atividades artísticas, narrativas e exploratórias.
Espaços que permitam tempo para refletir antes de agir.
2. Estilo Assimilador (Conceitualização Abstrata + Observação Reflexiva)
Como aprende:
O assimilador é movido pela lógica e pela busca de coerência teórica. Prefere aprender por meio de leituras, palestras, gráficos, esquemas e modelos. Reflete profundamente antes de tomar decisões e costuma se sentir mais confortável com ideias do que com pessoas.
Características principais:
Pensamento lógico, sistemático e organizado.
Facilidade para entender teorias e conceitos complexos.
Gosto por abstrações e análises detalhadas.
Interesse em estruturas, modelos e teorias.
Ambientes ideais de aprendizagem:
Aulas expositivas bem estruturadas.
Leituras aprofundadas e debates conceituais.
Atividades de pesquisa, estudo dirigido e análise de casos.
3. Estilo Convergente (Conceitualização Abstrata + Experimentação Ativa)
Como aprende:
O convergente busca aplicar conceitos na prática. Tem perfil investigativo e solucionador de problemas. Aprende melhor ao testar hipóteses, manipular informações e encontrar soluções objetivas para questões técnicas ou práticas.
Características principais:
Capacidade de tomar decisões com base na razão.
Interesse por tarefas que tenham uma solução correta.
Forte inclinação para o uso de tecnologias, ferramentas e simulações.
Independência intelectual e foco em resultados.
Ambientes ideais de aprendizagem:
Atividades práticas e desafiadoras, como projetos, simulações ou laboratórios.
Estudo de problemas com aplicação imediata.
Ambientes orientados por objetivos claros e metas de desempenho.
4. Estilo Acomodador (Experiência Concreta + Experimentação Ativa)
Como aprende:
O acomodador é impulsionado pela ação e pela experiência prática. Aprende fazendo, muitas vezes sem se prender a teorias prévias. Gosta de desafios, de improvisar e de resolver problemas de forma intuitiva. Tem facilidade para adaptar-se a novas situações e aprender com tentativa e erro.
Características principais:
Espontaneidade, iniciativa e intuição.
Facilidade em trabalhar com outras pessoas.
Preferência por experiências novas e desconhecidas.
Menor interesse por explicações teóricas e maior por resultados visíveis.
Ambientes ideais de aprendizagem:
Oficinas práticas, atividades mão na massa e experimentações.
Trabalhos de campo, jogos educativos e prototipagens.
Contextos de aprendizagem ativa e imersiva.
Importante:
Todos os estilos são válidos e úteis — não existe um estilo “melhor” do que o outro. O papel do educador, especialmente em propostas baseadas em metodologias ativas, é reconhecer a diversidade de perfis em sala de aula e planejar estratégias que ofereçam experiências equilibradas, permitindo que todos os alunos se envolvam com o ciclo completo de aprendizagem de Kolb.
Características de Cada Estilo: Pontos Fortes e Desafios
Cada estilo de aprendizagem descrito por Kolb revela uma maneira singular de interagir com o conhecimento, resolver problemas e participar do processo educativo. Compreender essas particularidades permite ao educador ajustar estratégias, propor atividades variadas e criar ambientes de aprendizagem mais inclusivos. A seguir, detalhamos os quatro estilos quanto a seus pontos fortes, principais desafios e necessidades pedagógicas.
Estilo Divergente (Experiência Concreta + Observação Reflexiva)
Pontos fortes:
Alta empatia e sensibilidade social.
Facilidade para escutar, observar e refletir.
Criatividade e imaginação para gerar múltiplas soluções.
Capacidade de integrar emoções e experiências no processo de aprendizagem.
Talento para conectar ideias com situações do cotidiano.
Desafios:
Dificuldade em tomar decisões rápidas.
Insegurança frente a situações muito abstratas ou técnicas.
Tendência a evitar confrontos ou julgamentos objetivos.
Pode ter dificuldade com ambientes altamente competitivos ou orientados a resultados imediatos.
Necessidades pedagógicas:
Espaço para expressar ideias e sentimentos.
Propostas abertas, com múltiplas interpretações.
Tempo para refletir e discutir em grupo.
Incentivo à participação ativa sem imposições rígidas.
Atividades que valorizem a escuta, a empatia e a arte.
Estilo Assimilador (Conceitualização Abstrata + Observação Reflexiva)
Pontos fortes:
Capacidade de organizar informações de forma lógica e estruturada.
Facilidade para construir modelos teóricos e compreender conceitos complexos.
Precisão, concentração e atenção aos detalhes.
Habilidade para aprender com leituras, palestras e estudos sistemáticos.
Tendência a desenvolver argumentos bem fundamentados.
Desafios:
Pouco interesse por aplicações práticas ou imediatas.
Dificuldade em ambientes que exigem ação rápida ou improvisação.
Possível desconforto em atividades com alto grau de ambiguidade emocional.
Tendência ao perfeccionismo ou à procrastinação por excesso de análise.
Necessidades pedagógicas:
Materiais teóricos bem organizados e aprofundados.
Tempo para análise individual antes da ação.
Ambiente silencioso, estruturado e previsível.
Propostas que envolvam lógica, abstração e pesquisa.
Apoio na transposição da teoria para a prática.
Estilo Convergente (Conceitualização Abstrata + Experimentação Ativa)
Pontos fortes:
Habilidade para aplicar teorias na resolução de problemas práticos.
Eficiência em tomadas de decisão com base em dados e lógica.
Gosto por tarefas desafiadoras com metas claras.
Raciocínio objetivo e foco em resultados concretos.
Interesse por tecnologias, estratégias e ferramentas.
Desafios:
Dificuldade em lidar com subjetividades, emoções ou temas abstratos demais.
Impaciência com discussões sem aplicação prática.
Pode negligenciar etapas de reflexão mais profundas.
Risco de priorizar o resultado à custa do processo.
Necessidades pedagógicas:
Propostas com aplicação clara e objetivos bem definidos.
Ambientes que favoreçam o desafio e a resolução de problemas.
Atividades que permitam testar hipóteses e validar ideias.
Feedback direto e orientado por desempenho.
Integração com ferramentas digitais e simulações.
Estilo Acomodador (Experiência Concreta + Experimentação Ativa)
Pontos fortes:
Proatividade, espontaneidade e facilidade de adaptação.
Aprendizagem rápida em situações novas ou inesperadas.
Disposição para correr riscos e aprender com os erros.
Habilidade de liderança em contextos práticos e colaborativos.
Energia e entusiasmo por experiências “mão na massa”.
Desafios:
Pouco interesse por teorias ou explicações detalhadas.
Tendência à impulsividade e à ação sem planejamento.
Pode resistir à sistematização do conhecimento.
Dificuldade em sustentar projetos que exigem estudo prolongado ou análise crítica.
Necessidades pedagógicas:
Atividades práticas, dinâmicas e desafiadoras.
Ambiente flexível e que permita movimento e improvisação.
Tarefas que envolvam colaboração, experimentação e construção coletiva.
Propostas que incentivem o planejamento e a organização do conhecimento após a ação.
Equilíbrio entre liberdade e estrutura.
Atenção à Heterogeneidade em Sala de Aula
Na prática educativa, raramente encontraremos turmas compostas por um único estilo. Pelo contrário, a diversidade de perfis é a regra — e isso exige do educador a capacidade de articular estratégias variadas, oferecendo experiências que dialoguem com as quatro fases do ciclo e, portanto, contemplem todos os estilos. O objetivo não é rotular, mas ampliar as possibilidades de aprendizagem para todos.
Estratégias Pedagógicas e Metodologias Ativas para Cada Estilo
Aplicar o modelo de Kolb em sala de aula vai além de reconhecer os diferentes estilos de aprendizagem — envolve criar experiências que permitam aos alunos transitar entre as fases do ciclo, ao mesmo tempo em que valorizam suas preferências. As metodologias ativas são especialmente eficazes nesse processo, pois promovem o protagonismo do estudante, favorecendo múltiplas formas de aprender.
A seguir, apresentamos sugestões de estratégias pedagógicas e metodologias ativas adequadas a cada estilo, respeitando suas características e incentivando o desenvolvimento integral do estudante.
Estilo Divergente
Perfil: aprende por meio da experiência concreta e da reflexão. Valorizam o envolvimento emocional, a criatividade e a escuta.
Metodologias recomendadas:
Aprendizagem baseada em projetos (PBL): favorece o trabalho colaborativo e a construção coletiva do conhecimento.
Mapas mentais e registros visuais: auxiliam na organização das ideias após a reflexão.
Storytelling e dramatização: exploram empatia e criatividade.
Aulas dialogadas e rodas de conversa: promovem múltiplos pontos de vista.
Design Thinking (fase de empatia): permite conexão afetiva com problemas reais.
Exemplo de aplicação:
Após assistir a um documentário sobre sustentabilidade, os alunos desenvolvem histórias em quadrinhos que retratam os impactos ambientais em diferentes comunidades.
Estilo Assimilador
Perfil: prefere observar e refletir de forma teórica e abstrata. Valoriza a organização lógica e o aprofundamento conceitual.
Metodologias recomendadas:
Estudo de caso: permite análise profunda de situações reais com base em teorias.
Aulas expositivas interativas: com espaço para perguntas e construções lógicas.
Webquests e trilhas de aprendizagem digitais: favorecem pesquisa estruturada.
Simulações computacionais: conectam teoria e análise de variáveis.
Flipped classroom (sala de aula invertida): autonomia para estudar previamente e discutir em sala.
Exemplo de aplicação:
Os alunos recebem um artigo científico sobre o ciclo da água e, após leitura individual, constroem em grupos um modelo explicativo integrando conceitos de Física, Química e Biologia.
Estilo Convergente
Perfil: aprende combinando teoria e ação. Gosta de aplicar o conhecimento em tarefas práticas e de resolver problemas objetivos.
Metodologias recomendadas:
Gamificação: com missões e pontuações que desafiam o raciocínio e a ação.
Laboratórios experimentais: ideais para testar hipóteses de forma estruturada.
Desafios de lógica ou engenharia reversa: favorecem raciocínio objetivo.
Programação e robótica educacional: integram teoria e aplicação prática.
Simulações e prototipagens digitais: utilizam ferramentas como Tinkercad, GeoGebra ou simuladores online.
Exemplo de aplicação:
Após estudar as leis de Newton, os alunos criam e testam protótipos de carrinhos movidos a elástico, analisando velocidade e força aplicada.
Estilo Acomodador
Perfil: aprende com a experiência direta e a experimentação ativa. Gosta de ação, desafio e improvisação.
Metodologias recomendadas:
Aprendizagem baseada em problemas (ABP): situações desafiadoras que exigem ação.
Oficinas práticas e “mão na massa”: como construção de modelos, experiências científicas ou criação de artefatos.
Gamificação com jogos cooperativos ou físicos: favorecem movimento e interação.
Missões em campo ou investigação ativa: como visitas a museus, entrevistas ou coleta de dados.
Design Thinking (fase de prototipagem): incentiva a materialização de ideias.
Exemplo de aplicação:
Após discutir alimentação saudável, os alunos montam uma horta escolar, documentando o crescimento das plantas e propondo cardápios com ingredientes cultivados por eles.
Equilibrando o Ciclo
Embora seja importante atender às preferências de cada estilo, a proposta mais potente é planejar atividades integradas que passem pelas quatro fases do ciclo de Kolb. Isso ajuda os estudantes a desenvolverem competências fora de suas zonas de conforto, ampliando suas estratégias cognitivas e sua autonomia.
Dica prática para o educador:
Ao planejar uma sequência didática, pergunte-se:
Há espaço para o aluno vivenciar algo concreto?
Ele pode refletir sobre isso de forma estruturada?
Está sendo convidado a formular conceitos ou hipóteses?
Terá oportunidade de testar ou aplicar o que aprendeu?
Se a resposta for sim para as quatro perguntas, você estará promovendo uma aprendizagem experiencial completa.
Exemplos Práticos e Atividades
A aplicação do modelo de Kolb na prática pedagógica não exige materiais sofisticados ou grandes investimentos, mas sim um olhar intencional para o processo de aprendizagem: provocar experiências, estimular a reflexão, oferecer conteúdos significativos e promover a ação. A seguir, apresentamos quatro propostas completas de atividades — cada uma pensada para passar pelas quatro fases do ciclo de Kolb e envolver os diferentes estilos de aprendizagem.
As propostas são adaptáveis a diferentes áreas do conhecimento e podem ser aplicadas no Ensino Fundamental – Anos Finais ou no Ensino Médio.
1. Ciências: Criando um Biofiltro com Materiais Simples
Objetivo: compreender processos de filtragem e qualidade da água.
Metodologias envolvidas: aprendizagem baseada em projetos, experimentação ativa e reflexão em grupo.
Fases do ciclo de Kolb:
Experiência Concreta (EC): os alunos constroem um biofiltro usando garrafas PET, areia, carvão e algodão.
Observação Reflexiva (OR): registram o processo, comparam a claridade da água antes e depois da filtragem, discutem em grupo o que observaram.
Conceitualização Abstrata (CA): aprendem sobre conceitos de adsorção, filtração, contaminação e purificação.
Experimentação Ativa (EA): criam melhorias no projeto inicial e testam sua eficácia em diferentes tipos de água.
Estilos favorecidos: acomodador (ação), convergente (testes), assimilador (teoria), divergente (reflexão e empatia com temas ambientais).
2. Geografia + Artes: Mapas Afetivos do Bairro
Objetivo: desenvolver noções de espaço, pertencimento e representação simbólica.
Metodologias envolvidas: aprendizagem significativa, Design Thinking, práticas de escuta e autoria.
Fases do ciclo de Kolb:
Experiência Concreta (EC): saída de campo no entorno da escola para observar e fotografar locais importantes para os alunos.
Observação Reflexiva (OR): rodas de conversa sobre memórias e percepções do território.
Conceitualização Abstrata (CA): estudo de cartografia, escalas, mapas mentais e representações espaciais.
Experimentação Ativa (EA): os alunos criam mapas afetivos artísticos que representam os sentimentos associados a cada local.
Estilos favorecidos: divergente (interpretação simbólica), acomodador (ação), assimilador (sistematização cartográfica), convergente (construção de produto final).
3. Matemática: Modelagem de Problemas Financeiros
Objetivo: aplicar porcentagem, juros simples e compostos em situações reais.
Metodologias envolvidas: aprendizagem baseada em problemas, simulações e investigação matemática.
Fases do ciclo de Kolb:
Experiência Concreta (EC): simulação de uma feira de profissões com orçamentos fictícios e metas financeiras.
Observação Reflexiva (OR): os alunos comparam diferentes decisões tomadas por seus grupos e avaliam os resultados.
Conceitualização Abstrata (CA): formalizam os cálculos de porcentagem, juros, lucros e perdas com fórmulas e gráficos.
Experimentação Ativa (EA): aplicam os conceitos em um novo desafio: investir o “dinheiro” da turma em diferentes simulações de cenário.
Estilos favorecidos: convergente (raciocínio e aplicação), assimilador (formalização matemática), acomodador (ações em equipe), divergente (discussão de escolhas éticas e sociais).
4. Língua Portuguesa: Criação de Podcast sobre Temas Sociais
Objetivo: desenvolver competências argumentativas, orais e escritas com base em temas atuais.
Metodologias envolvidas: produção midiática, aprendizagem por projetos, letramento digital e autoria.
Fases do ciclo de Kolb:
Experiência Concreta (EC): escuta coletiva de podcasts sobre juventude e temas sociais.
Observação Reflexiva (OR): discussão sobre linguagem, tom, construção de argumentos e pontos de vista.
Conceitualização Abstrata (CA): estudo de gêneros discursivos, estrutura de argumentos, recursos linguísticos e estratégias retóricas.
Experimentação Ativa (EA): os alunos roteirizam, gravam e publicam seus próprios episódios de podcast.
Estilos favorecidos: divergente (expressão e empatia), assimilador (estruturação do conteúdo), convergente (uso da tecnologia), acomodador (produção prática).
Essas atividades mostram que é possível, com recursos acessíveis e planejamento intencional, contemplar diferentes formas de aprender e percorrer o ciclo completo de Kolb. O importante é garantir que os alunos possam viver, refletir, entender e agir, respeitando seus estilos e, ao mesmo tempo, expandindo suas competências.
Ferramentas e Recursos para Aplicar o Modelo de Kolb
A implementação prática do modelo de Kolb pode ser amplificada com o uso de ferramentas simples, acessíveis e bem escolhidas. O segredo está em selecionar recursos que permitam aos alunos vivenciar experiências concretas, registrar e refletir sobre elas, compreender os conceitos teóricos envolvidos e testar ideias em novas situações.
A seguir, apresentamos uma seleção de ferramentas e recursos gratuitos ou de baixo custo, organizados de acordo com cada fase do ciclo de aprendizagem, com sugestões práticas de uso.
1. Ferramentas para a Experiência Concreta (EC)
Essas ferramentas favorecem a imersão, o envolvimento direto e o contato com situações reais ou simuladas.
Canva for Education: criação de materiais visuais para campanhas, cartazes e mapas afetivos.
Minecraft: Education Edition (versão gratuita para professores): simulação de mundos para experimentação social, ambiental e histórica.
Kahoot e Quizizz: dinâmicas interativas e competitivas para iniciar experiências.
Documentários e curtas-metragens (YouTube Edu, Videocamp): provocam emoção e senso de realidade.
Oficinas e experimentos com materiais recicláveis: promovem vivências “mão na massa” com custo zero.
2. Ferramentas para a Observação Reflexiva (OR)
Ideais para estimular a escuta, a análise e o registro das experiências vividas.
Padlet: mural interativo onde os alunos registram impressões, fotos, vídeos ou áudios.
Jamboard (ou FigJam): quadro colaborativo para organizar reflexões em grupo.
Diário reflexivo (Google Docs ou caderno físico): espaço pessoal para registrar aprendizados e sentimentos.
Mentimeter: permite respostas anônimas e nuvens de palavras que favorecem análise coletiva.
Rodas de conversa com mediação estruturada: método simples e eficaz sem necessidade de tecnologia.
3. Ferramentas para a Conceitualização Abstrata (CA)
Auxiliam na organização de ideias, estudos teóricos e sistematização do conhecimento.
Khan Academy: vídeos e exercícios para aprofundamento conceitual em diversas áreas.
Geogebra e PhET Simulações: experimentos virtuais e modelos matemáticos/físicos interativos.
Google Slides + Grupos de Estudo: para criar apresentações baseadas em pesquisa.
MindMeister (ou mapas mentais manuais): para organizar conteúdos e visualizar relações entre conceitos.
Aulas expositivas invertidas com vídeos gravados: permitem que os alunos estudem no seu ritmo antes da discussão em sala.
4. Ferramentas para a Experimentação Ativa (EA)
Permitem que os alunos testem hipóteses, criem produtos e atuem com base no que aprenderam.
Scratch: programação visual para desenvolver jogos, simulações e narrativas digitais.
Thinglink: criação de imagens interativas com links, textos e vídeos para apresentar projetos.
Gravação de podcasts (Anchor, Spotify for Podcasters): os alunos criam e publicam suas reflexões.
Google Forms + coleta de dados: para projetos de pesquisa com análise prática.
Tinkercad: modelagem 3D online para criação de protótipos simples em projetos STEAM.
Materiais de baixo custo para todas as fases
Sucata limpa, papelão, barbante, EVA e tampinhas.
Cartolinas, pincéis, tinta guache e lápis de cor.
Impressões reutilizadas (verso em branco).
Câmeras de celular ou gravadores para registros.
Cadernos de registro reflexivo individual.
Dica prática:
Monte uma “estação Kolb” em sua sala de aula ou laboratório: uma área com materiais de experimentação, uma parede com registros reflexivos, uma biblioteca de apoio teórico e um espaço maker para criação de protótipos e aplicações.
Esses recursos, combinados com um planejamento consciente, tornam o ciclo de Kolb não apenas viável, mas uma poderosa forma de cultivar protagonismo, criatividade e aprendizagem profunda entre os estudantes.
Faça o teste
MakerZine: Descubra seu Estilo de Aprendizagem segundo Kolb
Atribua os números 4, 3, 2 e 1 às quatro frases de cada bloco, de acordo com o quanto cada uma representa você. Use 4 para a frase mais parecida com você, e 1 para a menos parecida. Cada número deve ser usado apenas uma vez por bloco.
Leituras e Referências Complementares
Para aplicar o modelo de Kolb com profundidade e sensibilidade pedagógica, é fundamental compreender suas bases teóricas e conhecer experiências que ilustram sua eficácia em diferentes contextos. A seguir, reunimos uma seleção de livros, artigos, sites e materiais de apoio gratuitos que ajudam educadores a se aprofundarem no tema e ampliarem suas práticas.
Livros essenciais
Kolb, David A. (1984). Experiential Learning: Experience as the Source of Learning and Development.
Obra fundamental onde Kolb apresenta seu modelo de aprendizagem experiencial e os fundamentos psicológicos por trás dele.Honey, Peter & Mumford, Alan (1992). The Manual of Learning Styles.
Uma adaptação prática do modelo de Kolb com foco em gestão, desenvolvimento pessoal e aplicação em empresas e ambientes educacionais.Freire, Paulo (1996). Pedagogia da Autonomia.
Embora não diretamente ligado ao modelo de Kolb, reforça a importância da experiência, do diálogo e da reflexão como fundamentos da prática educativa.
Artigos acadêmicos e relatórios
Estilo individual de aprendizagem segundo o modelo de Kolb
Documento técnico com explicações e planilhas para cálculo do estilo predominante (disponível em diversos sites de universidades brasileiras).“Learning styles and pedagogy in post-16 learning” – Coffield et al. (2004)
Revisão crítica sobre modelos de estilos de aprendizagem, incluindo Kolb. Disponível em inglês.Artigos da Revista Brasileira de Educação, Educação & Sociedade e Educar em Revista
Busque por palavras-chave como “Kolb”, “aprendizagem experiencial” ou “metodologias ativas” nas bases SciELO e Google Scholar.
Se você acha que este conteúdo pode ser útil para alguém, compartilhe!
Ao divulgar os textos do MakerZine, você contribui para que todo o material continue acessível e gratuito para todas as pessoas.