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Geografia – DEBATE: O que discursos políticos dizem sobre nós enquanto sociedade? (Plano de aula – Ensino médio)

Como referenciar este texto: Geografia – DEBATE: O que discursos políticos dizem sobre nós enquanto sociedade? (Plano de aula – Ensino médio). Rodrigo Terra. Publicado em: 23/11/2025. Link da postagem: https://www.makerzine.com.br/educacao/geografia-debate-o-que-discursos-politicos-dizem-sobre-nos-enquanto-sociedade-plano-de-aula-ensino-medio/.


 
 

Este plano de aula propõe uma atividade dialógica de debate, atividade central das metodologias ativas, na qual os alunos serão levados a analisar discursos políticos sob a lente da Geografia, considerando elementos como infraestrutura, mobilidade urbana, segregação e acesso aos serviços públicos. O objetivo é promover a mediação entre linguagem política e práticas espaciais brasileiras.

Professores de Geografia, ao integrar conteúdos da Sociologia e da Filosofia nesse debate, enriquecerão a vivência dos estudantes, além de estimular conexões com realidades cotidianas e as decisões que moldam suas cidades, bairros e modos de vida.

A aula inclui a preparação de argumentos e contra-argumentos baseados em discursos reais de personagens públicos e o uso de fontes abertas de organizações e universidades públicas como recursos de apoio. Trata-se de uma iniciativa que busca a formação crítica do estudante-cidadão.

Se conduzido com rigor e sensibilidade, este debate torna-se uma chave poderosa para o letramento político-espacial no Ensino Médio.

 

Objetivos de Aprendizagem

O primeiro objetivo visa despertar nos estudantes a habilidade de analisar criticamente os discursos políticos contemporâneos, compreendendo como eles refletem visões distintas de sociedade, espaço urbano e cidadania. Para isso, o professor pode propor a leitura de diferentes discursos proferidos por líderes políticos sobre temas como transporte público, investimento em infraestrutura ou políticas de habitação. Em seguida, os alunos devem identificar os valores expressos nesses discursos e debater como eles influenciam a organização do território brasileiro.

O segundo objetivo centra-se na relação entre urbanismo, transporte e decisões político-econômicas. Ao explorar essa conexão, os estudantes perceberão que as cidades e suas dinâmicas de mobilidade não são neutras; elas seguem lógicas de poder e interesses. O professor pode utilizar mapas de transporte público, vídeos de especialistas e estudos de caso de regiões metropolitanas para mostrar como diferentes gestões municipais alteraram o acesso a serviços básicos, beneficiando ou prejudicando determinados grupos sociais de forma sistemática.

Já o desenvolvimento de habilidades argumentativas propõe um engajamento direto e ativo dos alunos no debate estruturado. O professor poderá dividir a turma em grupos com visões contrastantes e distribuir fontes diversas para embasar seus posicionamentos. Essa dinâmica estimula a escuta ativa, o respeito à diversidade de opiniões e a capacidade de articular argumentos coerentes com base em dados empíricos e conceitos geográficos.

Além disso, o envolvimento com temas atuais permite que o conteúdo ganhe relevância para os alunos, que começam a enxergar os impactos das escolhas políticas no cotidiano dos bairros onde vivem. O contexto local pode ser usado como fonte de observação, por meio de entrevistas com moradores, observação de infraestrutura e pesquisa de iniciativas públicas na cidade. Assim, integram-se Geografia, Sociologia e Filosofia em uma prática inter e transdisciplinar.

Como resultado, os estudantes não apenas se apropriam de conteúdos curriculares fundamentais, mas desenvolvem também a consciência crítica necessária para se posicionarem como cidadãos ativos na construção de espaços urbanos mais justos, democráticos e inclusivos.

 

Materiais utilizados

Para garantir o sucesso da atividade de debate sobre discursos políticos e seus impactos espaciais, é essencial contar com materiais que facilitem tanto a exposição dos conteúdos quanto o envolvimento dos estudantes. O uso de um projetor com computador conectado à internet é fundamental para apresentar vídeos e trechos de falas de figuras políticas. Esses vídeos ajudam os alunos a visualizar e ouvir diferentes posturas políticas, analisando-as criticamente sob a ótica da Geografia.

Os recortes de vídeos ou discursos de personagens públicos como Bolsonaro, Lula e Marina Silva devem ser selecionados com critérios claros, priorizando trechos que abordem temas como urbanização, mobilidade, investimentos públicos e privatizações. O professor pode contextualizar cada fala com dados atuais e realidades locais, ampliando o vínculo entre teoria e cotidiano.

Materiais físicos como papel A4, canetas e marcadores serão úteis para os alunos organizarem suas ideias em mapas conceituais, esquemas de argumentação e até cartazes, caso se opte por uma exposição final. Esses materiais proporcionam outras formas de expressão e contribuem para alunos com diferentes estilos de aprendizagem.

Os recursos online, como o acervo do CPDOC/FGV e matérias do portal Núcleo Jornalismo, oferecem fontes confiáveis para aprofundar o embasamento das falas e suas consequências sociais. Os professores podem indicar previamente alguns links para leitura e pesquisa, promovendo a autonomia no levantamento de argumentos.

Sugere-se ainda criar um espaço online colaborativo (como Google Docs ou Padlet) para que os alunos possam registrar suas críticas, criar contra-argumentos e compartilhar os registros do debate, tornando a aprendizagem mais interativa e permanente.

 

Metodologia utilizada e justificativa

Utilizaremos a metodologia de debate socrático, uma estratégia pertencente às metodologias ativas que promove o pensamento crítico, estimula a escuta empática e desenvolve a argumentação fundamentada. O debate socrático não busca simplesmente um vencedor, mas sim a construção coletiva do conhecimento por meio de perguntas orientadoras. Ao aplicar essa abordagem em sala de aula, os alunos se tornam protagonistas do processo de aprendizagem, confrontando discursos e analisando suas implicações em contextos geográficos concretos.

A proposta é especialmente eficaz para lidar com temas polêmicos que cruzam a Geografia com áreas como Filosofia e Sociologia. Questões como a construção da cidade, acesso aos serviços públicos, hierarquias espaciais e segregação urbana ganham profundidade quando os estudantes são convidados a refletir sobre os discursos que permeiam essas realidades. Além disso, permite trabalhar com as habilidades da BNCC ligadas à argumentação, análise crítica e leitura do espaço urbano.

Nesta atividade, os alunos deverão preparar argumentos e contra-argumentos com base em discursos reais de lideranças políticas ou comunitárias. O uso de fontes abertas e confiáveis será incentivado, como observatórios urbanos, relatórios de ONGs, universidades e dados do IBGE. Isso fortalece o letramento midiático e político, bem como a capacidade de análise crítica da informação em tempos de desinformação.

Ao incorporar esse tipo de metodologia, o professor também cria oportunidades para trabalhar com soft skills como empatia, cooperação e respeito às divergências. Recomenda-se o uso de formatos flexíveis como rodas de conversa ou tribunais simulados para adaptar a atividade à realidade escolar e às turmas.

Por fim, essa metodologia contribui para que os estudantes desenvolvam uma compreensão mais sofisticada das relações entre discurso político e práticas espaciais. Isso impacta diretamente sua cidadania ativa e o reconhecimento dos mecanismos que moldam os espaços que ocupam.

 

Desenvolvimento da aula

Preparo da aula: Antecedendo o encontro, o professor deve selecionar cuidadosamente trechos curtos (1 a 2 minutos) de discursos políticos que mostrem visões contrastantes sobre políticas urbanas. É essencial garantir pluralidade ideológica e relevância atual dos temas. Por exemplo, pode-se comparar uma fala que defende a privatização dos transportes públicos com outra que destaca investimentos estatais em mobilidade para regiões periféricas. Os discursos devem ser preferencialmente em vídeo, para que os alunos também observem a linguagem corporal dos oradores.

Introdução (10 min): A aula inicia-se contextualizando a proposta com os alunos: observar como o discurso político retrata concepções distintas de cidade, acesso aos serviços urbanos e estrutura socioespacial. O docente pode exibir um dos vídeos selecionados como exemplo introdutório, explicando quem é o personagem político, sua função e a relevância do trecho escolhido. Estimule inicialmente perguntas: “Quem se beneficia com esse modelo urbano proposto?”, “Que cidadãos são privilegiados ou excluídos nesse discurso?”.

Atividade principal (30–35 min): Após essa introdução, divide-se a turma em dois grupos, cada qual defendendo uma visão a partir dos discursos. Os estudantes devem ler, interpretar e preparar argumentos, fazendo uso de conceitos da Geografia como “rede urbana”, “segregação socioespacial”, “acessibilidade” e “mobilidade urbana”. O professor deve atuar como moderador, garantindo que as falas se mantenham respeitosas e centradas em analisarem como a linguagem política influencia a estrutura urbana. Uma sugestão importante é que os alunos apontem consequências práticas dessas visões na vida urbana real de suas comunidades.

Fechamento (5–10 min): Para encerrar, o professor propõe uma socialização dos aspectos principais debatidos. Incentiva a reflexão com perguntas abertas como: “Que cidade ideal se projeta a partir de cada discurso?”, “Como essas ideias moldam nossos espaços coletivos e o acesso aos bens urbanos?”. Por fim, retoma os principais conceitos geográficos tratados e apresenta um recurso digital complementar, como um infográfico ou vídeo de curta duração, que trate de políticas públicas urbanas em cidades brasileiras.

Esse plano favorece a interdisciplinaridade, principalmente ao integrar noções da Filosofia e da Sociologia. Ele torna o estudante protagonista, articulando crítica social com o espaço vivido. Para potencializar o impacto da aula, pode-se ainda propor uma avaliação escrita curta, como uma resenha crítica ou mapa mental, refletindo os aprendizados do debate.

 

Avaliação / Feedback

A avaliação qualitativa proposta nesta atividade de debate político-geográfico visa observar mais do que apenas o domínio conceitual: ela foca na postura crítica, na escuta ativa e na coerência argumentativa dos estudantes. Isso significa que não apenas o que é dito será considerado, mas como é dito, o respeito à opinião alheia e a habilidade de dialogar serão aspectos cruciais.

Durante o debate, o professor pode anotar comentários estratégicos dos alunos, observando o uso correto de termos como “segregação socioespacial”, “mobilidade urbana” ou “infraestrutura pública”, além da capacidade de relacionar esses conceitos com discursos políticos reais. Essa prática pode ser feita através de uma ficha de observação simples com critérios descritivos, focando mais na aprendizagem do que na mera pontuação.

Ao final da aula, a prática da autoavaliação servirá como um importante instrumento metacognitivo. Os estudantes devem refletir sobre sua própria atuação: em que momento conseguiram se expressar bem? Que argumentos os impactaram mais? Como poderiam melhorar numa próxima discussão? Essas perguntas podem ser disparadoras de um breve texto individual.

Recomenda-se também que cada aluno registre seus principais aprendizados em uma folha, que pode ou não ter um modelo-padrão. Essa etapa ajuda o educador a entender como os estudantes estão assimilando os conceitos e se estão conseguindo transferi-los para novas situações.

Por fim, debates podem ser complementados com um momento coletivo de análise crítica do próprio processo: o que foi produtivo na dinâmica? Houve respeito mútuo? As fontes utilizadas fizeram sentido? Esse fechamento ajuda a consolidar tanto os aspectos afetivos quanto cognitivos da experiência.

 

Resumo para os alunos

Durante esta aula, mergulhamos em debates políticos que circulam nos meios de comunicação e analisamos como esses discursos moldam a maneira como vivemos nas cidades. Observamos exemplos reais de falas de autoridades e líderes públicos e identificamos como essas mensagens refletem estruturas de poder, prioridades econômicas e diferentes visões de Estado. Por meio dessa análise, percebemos como a política vai além do discurso e impacta nosso cotidiano de forma direta.

Exploramos, por exemplo, como uma proposta de corte de gastos públicos pode afetar a manutenção de ônibus municipais ou a expansão de linhas de metrô. Também discutimos a influência de projetos urbanos voltados ao mercado imobiliário e como isso pode gerar processos de segregação e exclusão socioespacial. Os alunos foram incentivados a identificar esses discursos em notícias e redes sociais, fortalecendo sua capacidade crítica e de interpretação geográfica.

Além disso, debatemos os riscos de reduzir o debate público à simples negação da política. Ao adotarmos uma postura crítica, entendemos que a política é uma ferramenta de disputa e construção de direitos — o que exige atenção e participação ativa da sociedade. A idealização do setor privado como única solução também foi questionada, especialmente quando observamos áreas negligenciadas onde a ação estatal é fundamental.

Para enriquecer nosso olhar, indicamos recursos como o CPDOC da FGV, que oferece acervos e entrevistas com figuras do cenário político brasileiro, e o Núcleo Jornalismo, onde se encontram reportagens aprofundadas sobre infraestrutura urbana, transporte público e orçamento das cidades. Esses materiais ampliam nossa compreensão do contexto e ajudam a fundamentar argumentos mais sólidos.

No encerramento, cada grupo apresentou argumentos e contra-argumentos construídos ao longo da aula, relacionando os discursos políticos analisados com problemas reais de seus bairros, como falta de ciclovias, ônibus lotados ou ausência de áreas públicas. Essa abordagem estimulou o protagonismo dos alunos e reforçou o papel da Geografia na leitura crítica da sociedade.

 

Rodrigo Terra

Com formação inicial em Física, especialização em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional e Docência, e graduação em Ciências de Dados, construí uma trajetória sólida que une educação, tecnologias ee inovação. Desde 2001, dedico-me ao campo educacional, e desde 2019, atuo também na área de ciência de dados, buscando sempre encontrar soluções focadas no desenvolvimento humano. Minha experiência combina um profundo conhecimento em educação com habilidades técnicas em dados e programação, permitindo-me criar soluções estratégicas e práticas. Com ampla vivência em análise de dados, definição de métricas e desenvolvimento de indicadores, acredito que a formação transdisciplinar é essencial para preparar indivíduos conscientes e capacitados para os desafios do mundo contemporâneo. Apaixonado por café e boas conversas, sou movido pela curiosidade e pela busca constante de novas ideias e perspectivas. Minha missão é contribuir para uma educação que inspire pensamento crítico, estimule a criatividade e promova a colaboração.

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