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O que é integração de conteúdos?

Tudo o que somos atualmente, pensamos e fazemos está diretamente relacionado com o modo que o nosso conhecimento foi desenvolvido até este momento. Se aprendemos que o conhecimento é separado em caixinhas chamadas de Física, Matemática, História, Geografia, Artes, etc, não podemos nos tornar cidadãos autônomos e proativos. Desta forma, cabe somente aos alunos criarem pontes, quando o fazem, para conexões entre as informações recebidas na escola.

Compreender que os problemas reais se apresentam de forma integrada é compreender que o conhecimento também deve ser desenvolvido de forma integrada. Nossos currículos, nossas práticas e por fim nossos conteúdos precisam interagir com todas as áreas de conhecimento, inclusive áreas que ainda não são totalmente contempladas no ensino básico.

 

Quer alguns exemplos?

Programação, robótica, eletrônica, entre outras. Existem diversas plataformas que fomentam estas práticas – vou deixar indicações no final do livro.

Vale destacar que todas elas são ferramentas, tal qual um martelo ou um serrote qualquer. Existem técnicas para se usar um martelo e um serrote, da mesma forma que existem técnicas para programação, para o desenvolvimento de robótica e uso de eletrônica. Não existe curso de martelo ou curso de serrote. Você simplesmente aprende a como utilizar e onde utilizar estas ferramentas. Da mesma forma como na programação, robótica e eletrônica. Não estou querendo dizer que devemos acabar com as aulas desses conteúdos, muito pelo contrário. Torço para que se multipliquem cada vez mais. Estou dizendo que se não tivermos um objetivo para aplicação destes ferramentais todos uma aula de programação será tão inútil quanto uma aula de martelo.

É inquestionável que se queremos formar cidadãos mais ativos e conscientes no futuro, é imprescindível que estes nossos alunos atualmente possam utilizar estas ferramentas para construir um mundo melhor. A aplicabilidade de todas essas técnicas é a essência da qualidade.

Saber utilizar um martelo lhe permite poder pendurar um quadro, mas apesar de não ser recomendado, é possível utilizar um prego para pendurar um quadro na parede. Saber utilizar um martelo, em conjunto com um serrote e outras ferramentas, lhe permite construir uma cadeira de balanço, um cavalinho de madeira, um carrinho, uma mesa, prateleiras, estantes, palcos, casas, etc. Ao dominar a técnica, você pode utilizá-la no desenvolvimento de diversas soluções, exatamente da mesma maneira que você pode usar robótica, programação, eletrônica e outros conhecimentos.

É possível, de maneira colaborativa com outros professores, propor pequenas integrações de conteúdos e aos poucos abraçar mais profissionais e mais ferramentas. Não se preocupe em desenvolver um super projeto elaborado neste momento, comece pequeno e com o desenvolvimento da sua prática realize ajustes, proponha melhorias, ouça outros professores e com o tempo seus projetos se tornarão cada vez maiores e mais integrados.

A aplicação das metodologias, sugeridas no capítulo 02, também são boas portas de entrada para a inovação. Pelo fato de serem metodologias, seus passos estão bem definidos e descritos, o que facilita o início da inovação.

Na dúvida, nunca se esqueça de fazer aquele bom, velho, mas muito efetivo networking na hora do cafezinho, converse com as pessoas a sua volta, são nesses momentos que boas ideias surgem.

Vamos discutir alguns conceitos acerca dos níveis de integração de conteúdo: A disciplinaridade, a multidisciplinaridade, a pluridisciplinaridade, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade.

 

Multidisciplinaridade

A multidisciplinaridade está relacionada diretamente com múltiplas disciplinas, mas que não enxergam a existência das outras. Nesse caso, estamos focados somente em nossos conteúdos, ou seja, no caso da Física, estamos focados somente nas áreas do currículo, como mecânica, óptica, ondulatória, termologia, eletricidade, magnetismo e em alguns casos, física moderna, não importando as possíveis relações entre outras áreas do conhecimento.

Esta ideia está relacionada com o conceito de Descartes de análise, ou seja, separar em pedaços cada vez menores com o objetivo de compreender e se aprofundar em cada uma destas partes, e foi adaptado ao contexto escolar. Além disso, é comum ao procuramos por um curso de formação, por exemplo, estudar somente Física, ou somente Geografia, ou somente Sociologia, etc. Você se especializa em um único assunto, novamente, sem dar atenção a possíveis conexões com outras áreas do conhecimento. Posto isso, pode-se relacionar a multidisciplinaridade com um ensino mais conteudista e fragmentado, em que cada professor ou professora esteja focado somente em sua área de formação, sem cooperação com outras áreas.

Note que se a ideia é inovar em Educação, se faz necessário que comecemos a dar nossos primeiros passos para desenvolvermos novas formas de interação e de compartilhamento de conhecimento. Portanto, é necessário fomentar interações entre conteúdos que estejam fora da nossa disciplina.

Ilustrando a ideia, podemos ver as disciplinas isoladas e sem interação umas com as outras.

 

Pluridisciplinaridade

A pluridisciplinaridade acontece quando as “caixinhas” das disciplinas, que antes estavam isoladas, começam a se abrir e os professores começam a trazer elementos de outras áreas do conhecimento para dentro de suas áreas.

As cooperações entre as disciplinas começam a existir, porém não há um ponto central que organiza estas relações, o que quer dizer, em termos práticos que cada professor, segundo seus conhecimentos adquiridos em sua formação inicial, somados com outros conhecimentos adquiridos durante a vida profissional, começa a trazer exemplos de fora, ou seja, há uma temática comum.

Um exemplo é quando se trabalha em Física – Termologia, mais especificamente a forma de transferência de calor: convecção. Ao explicarmos que as massas de um fluido se movem, onde a massa que tem menor temperatura tem sua densidade aumentada e portanto desce, bem como a massa que tem maior temperatura tem sua densidade reduzida e portanto sobe, é comum relacionarmos este ponto a um ponto específico de Geografia para explicar movimentos de massas de ar de baixa pressão e alta pressão para a formação de furacões, ou seja, diferentes massas de ar se movimentam, motivadas pela diferença de temperatura e ventos locais e o furacão se forma. Não aprofundamos o assunto do ponto de vista geográfico, apenas ilustramos o conceito com um exemplo de outra matéria.

É possível também, trabalhar com um tema em comum, por exemplo: Fontes de energia, onde se pressupõe a participação de Biologia, relacionados com os impactos ambientais das construções das usinas geradoras de eletricidade, Geografia, colaborando com toda questão econômica e espacial de tais usinas, e Física, colaborando com as transformações de energia envolvidas. A ideia inicial é que o tema seja integrado, e é, porém cada uma das áreas trabalha de forma desarticulada e independente. Não há uma coordenação para alinhar o desenvolvimento de cada conteúdo de modo a realmente fornecer uma base de conhecimento para os outros conteúdos.

Notem, que neste caso não estamos preocupados se um ou outro assunto que servirá de integração de conteúdo já tenha sido contemplado por outros professores, o conceito que servirá de conexão é fornecido de forma simplória e sem aprofundamento, onde o que ainda prevalece é o foco no conteúdo.

Ilustrando a ideia, podemos ver as disciplinas com pouca interação, mas sem hierarquia de organização.

 

 

Interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade pressupõe um grau maior de organização, cooperação e diálogo entre as disciplinas.

Tomemos como exemplo a proposta que citada anteriormente, sobre Fontes de energia elétrica. Para que este projeto seja desenvolvido de forma interdisciplinar se faz necessário um coordenador ou coordenadora responsável por orientar os estudos de cada grupo de alunos. Ao chegarem em um ponto em que a construção de uma usina elétrica remata ao fato de interferir na fauna e na flora local, o professor coordenador ou a professora coordenadora orienta seus alunos para que conversem com um profissional de Biologia e Geografia, a fim de coletar mais informações para ampliar a visão acerca do tópico central (Fontes de energia). Da mesma forma, quando o projeto chegar ao ponto em que a transmissão da energia já esteja iniciada, se faz necessário um diálogo com um profissional de Física para que os conceitos de eletricidade sejam utilizados, bem como de Geografia, para que toda a comunidade no entorno da usina seja beneficiada e as limitações impostas pelo terreno não sirvam de empecilhos para impedir chegar até o consumidor final. Políticas de precificação do kWh também podem ser desenvolvidas para que famílias com diferentes rendas sejam beneficiadas, logo o profissional de Sociologia poderá contribuir com tal desenvolvimento.

Percebam que o grau de complexidade e integração aumentou muito, se comparado com a Multidisciplinaridade, porém a aprendizagem se faz muito mais efetiva, uma vez que os alunos vão construindo seus conhecimentos a partir da necessidade de compreender um assunto que seja necessário para completar o projeto.

Neste exemplo teríamos uma organização como se Física fosse a disciplinar a encabeçar o tema central e o restante das disciplinas como se submetidas a ela.

Ilustrando a ideia, podemos perceber que há uma disciplina que se coloca acima das outras como coordenadora, além de notarmos um grau de complexidade maior, bem como uma maior conexão entre os envolvidos.

 

 

Transdisciplinaridade

Nosso último nível de integração de conteúdo é a Transdisciplinaridade, neste nível, todas as disciplinas colaboram com um único objetivo, formação do conhecimento. Há cooperação e diálogo entre todas as disciplinas e há coordenação voltada para o desenvolvimento de todo o sistema de disciplinas, ou seja, todas as disciplinas envolvidas são desenvolvidas conjuntamente.

Levando-se em consideração que nosso mundo pós-moderno é complexo, e hiperconectado, a transdisciplinaridade traz um olhar mais próximo deste contexto, além de estar mais próxima também de uma abordagem científica.

A ideia de transdisciplinaridade ainda é um ideal a ser alcançado, existem muitas pesquisas em universidades brasileiras e do mundo que se propõem a definir, exemplificar e aplicar esta ideia dentro de um contexto escolar, pois para chegar até aqui, se entende que seja necessário evoluir para sairmos da multidisciplinaridade, passar pela pluridisciplinaridade, chegando assim na interdisciplinaridade e somente depois de toda essa evolução atingirmos a transdisciplinaridade.

Para que a transdisciplinaridade ocorra não se faz necessário somente uma integração de conteúdos, orientados para a finalidade de desenvolver conhecimento, mas também uma estrutura física diferenciada, bem como recursos humanos disponíveis para inovar. Além disso, aos alunos, cabe a autonomia de desenvolvimento de sua própria trilha de conhecimento e pesquisa.

A ideia de transdisciplinaridade representa um anseio que temos de chegar em um modo ideal de educação, de transcender o que já está estabelecido como padrão. O pensar no mundo pós-moderno vai muito além do que simplesmente obter conhecimento, se faz necessário criatividade, proatividade, boas habilidades socioemocionais para que na vida adulta nossos alunos se tornem cidadãos mais conscientes do mundo a sua volta.

Podemos encontrar algumas das demandas na proposta de Educação para o século XXI da UNESCO – Educação para a cidadania Global: preparando alunos para os desafios do século XXI, que diz:

Em um mundo cada vez mais interconectado e interdependente, é preciso uma pedagogia transformadora, que capacite os alunos a solucionar desafios persistentes que envolvem toda a humanidade, relacionados ao desenvolvimento sustentável e à paz. Estes incluem conflitos, pobreza, mudança climática, segurança energética, desigualdade na distribuição populacional, e todas as formas de desigualdade e injustiça que ressaltam a necessidade de cooperação e colaboração entre os países, além de seus limites terrestres, aéreos e aquáticos.” [1]

Apesar de ainda ser um desejo, a transdisciplinaridade nos ajuda a nortear o desejo e a dar os primeiros passos rumo a uma Educação mais efetiva.

Para finalizar, deixo aqui a ideia ilustrada de transdisciplinaridade, temos que:

 

 

Estímulo à análise

Com base nos assuntos apresentados até aqui, reflita e responda:

  1. Pense em uma situação-problema que pode se desenrolar em planos de aula para ser integrado a outras disciplinas.
  2. Quais profissionais da sua escola você convidaria para fazer parte deste projeto?
  3. Com quais assuntos cada profissional poderia colaborar?
  4. Quais seria a metodologia escolhida?
  5. Quanto tempo seria necessário para desenvolver este projeto?
  6. Quais competências e habilidades você espera desenvolver com seus alunos?
  7. Qual é o resultado final deste processo?

 

Referências Bibliográficas

Prô Terra

Professor de Física, STEM / STEAM, Maker, Pesquisador em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional, Especialista em Docência, Sócio diretor e Professor de Física do Duvidando, Líder Google Educator, Professor do YouTube Edu, eternamente curioso, apaixonado por café e por uma boa conversa. Acredita que somente com uma formação diversificada é que poderemos construir uma educação mais livre e efetiva.

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