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O que você vai ver neste post:

 

Transformação digital

Você, certamente,deve se lembrar de alguma dessas empresas:

Blockbuster: Líder do segmento de locação de fitas e/ou DVD. Estava presente em mais de 20 países, com mais de 6500 lojas e mais de 87 milhões de clientes.

 

Kodak: Líder do segmento de mercado de câmeras e filmes fotográficos. Chegou a possuir 80% de câmeras e 90% do mercado de filmes fotográficos.

 

Atari: Líder do segmento de jogos digitais e consoles. Produziu e/ou participou da produção de mais de 520 jogos.

 

Blackberry: Essa empresa foi a real criadora e desenvolvedora do que hoje chamamos de “Smartphones”. Chegou a ter 50% do mercado de celulares dos EUA, em 2007.

 

Tem-se dois pontos comuns a todas elas, antes de encerrarem suas atividades:

  • Eram líderes dos seus segmentos,
  • Eram referências em termos de desenvolvimento de tecnologia,

 

Dessa mesma forma, tem-se dois pontos comuns, mas que as fizeram encerrar suas atividades:

  • Não terem se atualizado, ou seja, não acompanharam as novas tecnologias, que não estavam em suas mãos. As fitas e DVDs, viraram streamings. Os filmes fotográficos e as câmeras passaram a utilizar tecnologia digital. Os videogames se dividiram entre consoles, computadores e portáteis, já os jogos aumentaram incrivelmente sua qualidade visual, jogabilidade e complexidade. Os botões dos celulares deram lugar ao touch screen.
  • Não inovaram em seus modelos de negócios.

 

A transformação digital NÃO está atrelada somente ao uso de dispositivos ou aplicativos novos, mas, principalmente, à mudança de pensamento com relação ao uso de tais recursos, bem como o que se pode melhorar nos processos dos nossos trabalhos. Sempre falo muito o quanto amo tecnologias e inovações, porém, outra frase que sempre falo é que não tem sentido usar tecnologia, somente pelo fato de usar tecnologia. Seu uso deve estar relacionado com o fato de facilitar a execução de processos … e não burocratizá-los! Transformação digital não quer dizer fazer tudo que está em nossa volta virar digital! hehehehe

É necessário perceber que o primeiro passo importante será a mudança na forma como pensamos tecnologia. Só assim, é que poderemos propor inovações em nossas vidas profissionais.

 


“A transformação digital NÃO está atrelada somente ao uso de dispositivos ou aplicativos novos, mas, principalmente, à mudança de pensamento com relação ao uso de tais recursos, …”


 

Mundo VUCA

O termo VUCA surgiu nos anos 90, para designar o novo contexto mundial. Essa sigla em inglês, vem da junção das iniciais de quatro termos: Volatility, Uncertainty,Complexity e Ambiguity. Traduzidos para o português, temos: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Dentro desse contexto, o desenvolvimento de tecnologia e de modelos de negócios podem se tornar obsoletos em poucos meses. Aqui, temos empresas mais dinâmicas e nativas digitalmente, com características de colocar o cliente no centro de suas atenções.

Seus pilares, são:

  • Volatilidade: Este termo está atrelado à velocidade com que as mudanças acontecem no mundo. Se faz necessário que nossos alunos sejam estimulados a driblarem as barreiras que os impedem de acompanhar tais mudanças. Nossos cérebros não conseguem acompanhar a grande quantidade de mudanças, o que faz com que vivemos no “piloto automático”. Precisamos trabalhar a habilidade de resiliência com nossos alunos, dado que as relações podem se mais voláteis, ou frágeis.
  • Incerteza: Como tudo está mudando, e rápido, a sensação de incerteza é comum, dado que sentimos dificuldades para prever e compreender novos cenários. Para evitar o desenvolvimento da Ansiedade, é necessário que a Inteligência Emocional seja trabalhada.
  • Complexidade:  Um sistema complexo, é um sistema em que seus componentes interagem entre si e geram novas características de forma coletiva. A complexidade nos tira de uma vida linear. Basta imaginar que planejamentos devem ser reavaliados durante toda a sua própria execução, tendo que sofrer alterações, devido à novas informações que não poderiam ser planejadas ou mensuradas. As tomadas de decisões se tornam mais difíceis, dado que precisamos de mais dados para análise. Dessa forma, nossos alunos precisam desenvolver habilidades que estejam atreladas à tomada de decisão.
  • Ambiguidade: Refere-se ao estado de turvação da realidade, ao potencial de erros de leitura e aos significados mesclados das circunstâncias. Em outras palavras, com a complexidade e a grande quantidade das informações, fica difícil de se definir bem algumas coisas, portanto, desenvolver em nossos alunos o senso crítico e a curiosidade farão com que estejam sempre atentos para possíveis confusões.

 

Mundo BANI

Após ter percebido que o termo VUCA havia ficado obsoleto, Jamais Cascio, autor e antropólogo criou o BANI, em 2018. Esta sigla em inglês, vem da junção das iniciais de 4 novos termos: Brittle, Anxious, Nonlinear e Incomprehensible. Traduzidos para o português, temos: Frágil, Ansiedade, Não linear e Incompreensível. BANI surge para tentar definir o nosso novo contexto mundial de comportamento. Passamos a ter que lidar com cenários que se tornam muito difíceis de serem compreendidos.

Seus pilares, são:

  • Frágil: Instabilidades passam a fazer parte da vida das pessoas, como por exemplo, o sistema financeiro. Não que isso nunca havia acontecido antes, mas nesse momento, essas instabilidades se tornam cada vez mais significativas. Um outro exemplo, foi o início da pandemia da COVID-19, que desestabilizou todo o mundo. Aprender a pensar sob pressão e capacidade de adaptação em cenários que não haviam sido planejados podem ser trabalhados com nossos alunos, para que estejam preparados para esses novos desafios.
  • Ansiedade: Dado que a estabilidade está cada vez menos certa, a incerteza do que nos aguarda acaba aumentando, fazendo com a ansiedade esteja sempre presente em nossas vidas. O senso de urgência é cada vez mais constante e comum em nosso dia a dia. A resiliência pode ser trabalhada, como forma de contornar a ansiedade, uma vez que temos a convicção de estarmos fazendo algo correto, seremos menos impactados pelo mundo exterior.
  • Não linearidade: Dentro deste cenário, os planejamentos a longo prazo, agora, podem não fazer tanto sentido e/ou devem receber mais ajustes do que antes. Estamos diante de situações que não foram planejadas e que necessitam de decisões quase que no mesmo instante em que nos deparamos com uma bifurcação. Se faz necessário desenvolver em nossos alunos, o senso crítico, a capacidade de tomada de decisão sob pressão e o trabalho em equipe.
  • Incompreensível: Dado que a mudança é constante e as surpresas são presentes, tentar compreender nosso cenário se faz mais complicado do que antes. Perdemos a noção com tantos avanços e novidades que o nosso entorno se torna difícil de ser compreendido. O conceito de LifeLong Learning ou  Educação continuada, deve estar presente nas conversas e orientações para nossos alunos. Esse hábito deve fazer parte da vida, tanto dos nossos alunos, quanto das nossas vidas profissionais

 

Inovação/Revolução Educacional

Já estamos vivendo a Quarta Revolução Industrial, ou seja, já passamos por outras 3 revoluções, que trouxeram modificações significativas nos modos de produção e modelos de negócios das indústrias.

  • 1ª Revolução Industrial, ou Indústria a Vapor – Iniciada por volta de 1760, é caracterizada pela transição dos métodos de produção artesanal para a produção por máquinas, ou seja a substituição da força humana, pela força dos motores a vapor.
  • 2ª Revolução Industrial, ou Indústria Elétrica – Iniciada por volta de 1860, é caracterizada pelo aprimoramento das tecnologias envolvidas na Indústria a Vapor, como a sua substituição pela energia elétrica. O aumento da produção das indústrias: Produção em massa.
  • 3ª Revolução Industrial, ou Indústria Eletrônica – Iniciada por volta de 1960, é caracterizada pelo desenvolvimento da eletrônica digital e, como consequência, dos computadores digitais, além da automação industrial, integram sistemas mecânicos e eletrônicos.
  • 4ª Revolução Industrial, ou Indústria Digital, ou Indústria 4.0 – O termo “Indústria 4.0” foi usado pela primeira vez em Outubro de 2012, na Hannover Messe – uma das maiores feiras de negócios do mundo. Ela se caracteriza pela utilização de dados, conhecido como Big Data, com o intuito de criar “Fábricas Inteligentes”, ou seja, os processos de fabricação passaram a ser monitorados via computadores, que utilizam esse grande volume de dados.

 

Já, na Educação, segundo Pátaro e Calsa [1], passamos por três revoluções, que são caracterizadas, como:

  • 1ª Revolução Educacional: Criação e generalização da escola. Entre 3.200 e 2.300 a.C. . Surgimento do conceito de escola, mas reservada a uma minoria, que ao ter acesso aos conhecimentos de cada época, reforçavam sua posição social e a ocupação de cargos do alto escalão. Eram mantidas e gerenciadas pelas instituições religiosas e/ou pelas famílias com poder aquisitivo mais elevado. A única função do Estado era a de fornecer autorização para que a instituição abrisse uma escola. Nesse período histórico, os livros eram feitos manualmente, o que dificultava ainda mais o acesso à informação e À educação. [2]

 

  • 2ª Revolução Educacional: Estatização da escola e a pedagogia da exclusão. Em 1787, Século XVIII, na Prússia, Frederico Guilherme II fez a promulgação de um código escolar, que retirava o clero da gestão das escolas e colocou um ministério para administra-la.  Após essa promulgação, outros países passaram a adotar medidas que a favor da escola pública. Já na Revolução Francesa (1789-1799), as escolas públicas são ampliadas com os ideais de uma escola universal, gratuita, laica e obrigatória. Neste período as escolas ainda serviam a uma pequena parte da população, mesmo que a Educação Universal fosse garantida por Leis. Os ideais iluministas ajudaram a ampliar o acesso às escolas. No Brasil do ano de 1824,  D. Pedro I garantiu o direito de acesso a educação para todos, com a promulgação da primeira Constituição Brasileira. Aqui no Brasil, desde seu início, a educação também se restringiu a uma pequena parcela da população.

Se as vagas eram tão escassas, deveriam ser reservadas aos melhores, não mais em função da nobreza do sangue, mas aos mais inteligentes, aos mais dotados, aos mais trabalhadores, supostamente sem relação com suas origens sociais. Desse modo, a maioria de nós, adultos de hoje, foi educada em um sistema educacional seletivo, baseado na pedagogia da exclusão, em que nos parecia natural uma estrutura em pirâmide que excluía as crianças à medida que se avançava nos níveis educacionais do sistema. [3]

 

  • 3ª Revolução Educacional: Busca pela universalização do ensino. Metade do Século XX, após o término da Segunda Guerra Mundial. Como dito anterior, a Educação ainda não se faz universal, mesmo que garantida por Leis. Nesse sentido, a 3ª Revolução Educacional se inicia com um desafio de tornar o acesso à Educação universalizado. O conceito de educação universal passa a ser implantado, ou pelo menos, tenta-se aplicá-lo, motivado pela necessidade trabalho especializado, dado o rápido crescimento econômico vivido após o período entreguerras. Em 16 de maio de 2005 e 06 de fevereiro de 2006, as Leis 11.114 e 11.274, respectivamente, aumentam a duração do ensino obrigatório e gratuito de 8 para 9 anos. Já em 11 de novembro de 2009, com a Emenda Constitucional n. 59, a obrigatoriedade de acesso a escola passa a ser válida para crianças de 4 anos, até adolescentes de 17 anos, incluindo o ensino médio.

 

Ainda não experimentamos a 4ª Revolução Educacional, mas o que podemos esperar dela?

  • Acesso universal à educação, de verdade, não apenas no papel ou na vontade,
  • Aumento da qualidade do conteúdo oferecido, trazendo para discussões tópicos que desenvolvam a ética e a responsabilidade social em nossos alunos,
  • Introdução de novas tecnologias como ferramentas para otimizar seus trabalhos, tanto para professores, quanto para alunos,
  • Utilização de novas metodologias de ensino, centradas na aprendizagem de nossos alunos,
  • Formação de qualidade para futuros profissionais da educação, uma base bem fundamentada permite a construção de conhecimentos, técnicas e metodologias que aumentam a qualidade do ensino,
  • Educação Continuada para todos os profissionais da educação, a atualização constante dos profissionais da educação fomenta novos questionamentos e ideias para suas atuações,
  • Rompimento com o espaço físico e a introdução do espaço virtual, o uso de recursos digitais permite remodelar o espaço educacional nas escolas para que novas interações e projetos possam crescem,
  • Uma educação que desenvolva mais autonomia, senso crítico e proatividade em nossos alunos, pois queremos formar cidadãos preparados para os desafios do futuro.

Mas, principalmente, uma educação que seja mais interesse e desperte a fome pelo conhecimento.

 


Precisamos de tecnologia em todas as salas de aulas e ao alcance de cada aluno e professor, porque ela é a caneta e o papel da nossa época e também a lente pela qual vivenciamos muito do nosso mundo.

David Warlick


 

E você, o que espera para a 4ª Revolução Educacional?

 

Referência bibliográfica

  • Transformação digital. Repensando o seu negócio na era digital“. David L. Rogers. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. Autêntica Business.
  • A terceira revolução educacional e os objetivos da escola: Desafios para a formação de professores no Brasil“. Ricardo Fernandes Pátaro. EDUCERE, XIII Congresso Nacional de Educação. 2017. PAra acessar o artigo, clique aqui.
  • As revoluções educacionais na história da educação e a democratização da escola básica no Brasil: implicações para os objetivos da escola na contemporaneidade“. Ricardo Fernandes Pataro. Caderno de História, Departamento de História, PUC Minas. 2019. Para acessar o artigo, clique aqui.
  • Primeira Revolução Industrial“. Rafaela Souza. Brasil escola. Para acessar a referência, clique aqui.
  • Revolução industrial“. Wikipédia. Para acessar a referência, clique aqui.
  • Segunda Revolução Industrial“. Wikipédia. Para acessar a referência, clique clique aqui.
  • Terceira Revolução Industrial“. Fabiana Dias. Educa mais Brasil. Para acessar a referência, clique aqui.
  • O que é a 4ª revolução industrial – e como ela deve afetar nossas vidas“. Valéria Perasso. BBC News. Para acessar a referência, clique aqui.

[1] – “A terceira revolução educacional e os desafios para a escola contemporânea“. Ricardo Fernandes Pátaro e Geiva Carolina Calsa. Seminário de Pesquisa do PPE, Universidade Estadual de Maringá, Dezembro de 2015. Para acessar o artigo, clique aqui.

[2] – “A quarta revolução educacional: a mudança de tempos, espaços e relações na escola a partir do uso de tecnologias e da inclusão social“. Ulisses F. Araújo. ETD – Educação Temática e Digital, Campinas, v.12, n.esp., p.31-48, mar. 2011–ISSN: 1676-2592. Para acessar o artigo, clique aqui.

[3] – “The transformation of the teachers’ role at the end of the twentieth century: new challenges for the future“. José Manuel Esteve. Educational Review, v. 52, n. 2, p. 197208, 2000. Para acessar o artigo, clique aqui.

 


Como referenciar este post: Transformação digital no mundo e na Educação. Rodrigo R. Terra. Publicado em: 01/02/2022. Link da postagem: “https://www.makerzine.com.br/educacao/transformacao-digital-no-mundo-e-na-educacao/” .

Prô Terra

Professor de Física, STEM / STEAM, Maker, Pesquisador em Ciências Educacionais com ênfase em Tecnologia Educacional, Especialista em Docência, Sócio diretor e Professor de Física do Duvidando, Líder Google Educator, Professor do YouTube Edu, eternamente curioso, apaixonado por café e por uma boa conversa. Acredita que somente com uma formação diversificada é que poderemos construir uma educação mais livre e efetiva.

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