Você está visualizando atualmente O Tribunal na sala de aula

O que você vai ver neste post:

 

Público: Professoras e professores de todas as áreas e de todas as séries do Ensino Fundamental e Médio

Componentes curriculares: Ciências Humanas e suas tecnologias

Materiais utilizados: Os principais materiais são os livros para a pesquisa que envolve temas diferenciados; acesso a Internet e a redes sociais para pesquisa e organização do trabalho em grupo.

 

Descrição de atividade

 

Trilha: Toda atividade começa com aulas expositivas, no início do ano letivo, onde o objetivo principal é mostrar para os alunos a complexidade que envolve um debate político. Nesse momento conceitos como política, cidadania, direitos, Estado, formação política, ideologia, sociedade, entre outros, são apresentados para que se tenha uma base geral de algumas questões importantes dentro da Sociologia e da Ciência Política.

Em seguida, uma lista com aproximadamente 50 temas é apresentada a sala para que eles discutam qual tema seria ideal para um debate. Nesse momento é importante que x docente possibilite um espaço de discussão entre xs alunxs para que decidam o melhor tema (duração de uma aula).

A partir da escolha do tema, a sala deverá ser dividida em dois grupos principais: advogadxs de defesa e advogadxs de ataque. Haverá outras atribuições e funções dentro do tribunal, como: técnicx jurídico, equipe de reportagem e corpo de juradxs.

A escolha será feita pelx docente, levando em consideração uma série de questões envolvendo o perfil da sala e dos alunos. A proposta é que seja um trabalho inclusive e colaborativo, onde o equilíbrio seja mantido para que haja um debate interessante. Outro ponto importante é buscar uma diversidade dentro dos grupos, separando as famosas “panelinhas”, fazendo que tenham a possibilidade de trabalhar com as diferenças e extrair disso o melhor. Sendo assim, é importante que em cada grupo umx alunx mais falante esteja com umx mais introspectivx; outrx engajadx possa trabalhar com outrx que apresente um pouco mais de dificuldade na matéria e assim por diante; e, por exemplo, que elxs possam defender ou atacar temas que contrariem suas emoções, assim, umx alunx que é à favor da legalização do aborto deverá participar da equipe de advogadxs contra.

Das funções:

  • Advogados de ataque: serão contra o tema e terão que buscar elementos para um debate contra os advogados de defesa;
  • Advogados de defesa: farão a defesa do tema e terão que buscar elementos par um debate contra os advogados de ataque;
  • Técnicxs jurídicos: serão auxiliares do juiz (no caso pode ser o docente) e desenvolverão diversas atividades como organizar o tribunal, fazer a divulgação, a mediação entre os dois grupos, desenvolver relatórios sobre as atividades dos grupos e no dia do tribunal assessorar ambas equipes;
  • Juradxs: dentro da sala, um grupo de 07 (sete) alunos ficará encarregado de fazer parte do corpo de jurados. O ideal que os jurados de uma sala fiquem encarregados do julgamento de uma outra sala para que não ocorra interferências;
  • Equipe de reportagem: atuará antes e durante o trabalho do julgamento. Deverá produzir material audiovisual para divulgação do julgamento e produzir os registros necessários para que o momento seja guardado com arquivo e lembrança para os alunos.

Após a separação e divisão de tarefas, os grupos terão cerca de dois bimestres para a preparação que envolverá pesquisa, organização dos grupos, busca por estratégias, estabelecer contato com pessoas e organizações, entrar em contato com testemunhas que possam ajudar no caso.

O papel do professor será de mediador dessas pesquisas, onde seu papel principal será o de garantir que os alunos estão trabalhando em colaboração mútua e buscando caminhos para a pesquisa. Ele poderá orientar os grupos em dias e horários agendados (é importante que o projeto não tome todas as aulas, pois a proposta é que os alunos tenham a autonomia para empreender a pesquisa).

 

Os objetivos do projeto são de: Estimular a pesquisa; desenvolver a capacidade argumentativa; estimular a apresentação em público; trabalhar noções de ética, cidadania e direitos; proporcionar o trabalho colaborativo em grupo; desenvolver um olhar interdisciplinar em torno dos temas discutidos; mobilizar das diversas capacidades em torno de um objetivo.

 

Interdisciplinaridade:nesse sentido faz parte do projeto do Tribunal, onde os grupos deverão buscar o apoio de outras áreas do conhecimento para empreender a pesquisa e ser preparar para o debate Assim, cada disciplina terá seu papel:

  • Matemática: Análise de dados e estatísticas, leitura de gráficos e interpretação de pesquisas quantificativas.
  • Língua Portuguesa/Filosofia/Língua Inglesa: Leitura, interpretação, argumentação, diálogo, discurso, oratória etc.
  • Química/Física/Educação Física: Análise e interpretação de dados científicos racionais e elaboração de hipóteses e experimentos que podem ser utilizados como provas e argumentos.
  • Geografia/História/Sociologia/Arte: Permite a leitura de tempo e espaço, a reflexão e a argumentação que propicia uma análise crítica ampla de determinados contextos sociais.

Temas da lista são temas atuais e de constante discussão dentro do cenário político, seja ele interno ou externo. O objetivo é elevar o debate e a discussão, no objetivo de mostrar a profundidade que cada tema tem em sua dimensão e em suas particularidades. O Tribunal Silva Prado não tem a intenção de tornar os debates em simples bate-boca, ou fazer que as discussões se rendam às emoções de seus interlocutores.

Outro ponto interessante do projeto é que ele cria uma comoção geral da escola e da comunidade escolar, uma vez que há o envolvimento de alunos, professores, pais e responsáveis (que inclusive são convidados para assistir ao debate) e o dia do julgamento torna-se um evento na escola.

O julgamento é dividido por partes, onde todos os participantes comparecem a caráter (como se estivessem num tribunal), a organização segue as regras de um tribunal com juiz, corpo de jurados, testemunhas e a presença dos advogados em lados opostos.

A sequência é determinada previamente, onde há espaço para argumentos iniciais, contra argumentação, apresentação de testemunhas, apresentação de provas (com base nas disciplinas determinadas pelo juiz) e, por fim, uma sabatina de perguntas e repostas.

Após esse cerimonial, juiz e testemunhas se recolhem para determinar por contagem de pontos quem foi a equipe vencedora.

Dentro da planilhas de pontos é levada em consideração cada elemento apresentado pelos grupos, além da organização e do trabalho em equipe demonstrado no momento do julgamento.

Considerações a respeito do projeto: O projeto do tribunal na escola visa trabalhar múltiplas habilidades e competências do corpo discente, sendo assim, o tema, seja ela qual for, é o que menos importa no projeto, pois ele é apenas um pretexto para desenvolver a capacidade do trabalho em equipe, levando em conta sua diversidade e diferenças; desenvolver o gosto pela leitura e pela pesquisa; entender a complexidade que envolve o debate sobre qualquer tema social; compreender outras realidades para além do senso comum; estimular a oratória e capacidade argumentativa; trabalhar e vencer barreiras como a apresentação em público; aumentar o repertório de conhecimento; e, por fim, se propor a desafios para além da realidade cotidiana.

 

Conheça mais

 

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Referência bibliográfica:

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

 

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Como referenciar este post: O Tribunal na sala de aula. Alexandre Ramos. Publicado em: 28/4/2020. Link da postagem: (http://www.makerzine.com.br/aprendizagem-colaborativa/o-tribunal-na-sala-de-aula/).


Prô Alex

Mestre em Filosofia com ênfase em Estudos Culturais pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH-USP). Tema da dissertação: "Escola e redes sociais: diálogos possíveis, saberes e inversões". Especialista em Ensino de Sociologia (Redefor-USP) e Ética, Valores e Cidadania (UNIVESP-USP), com pesquisa nas áreas das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) na Educação. Graduado e Licenciado em Ciências Sociais pelo Centro Universitário SantAnna (2005). Docente da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, ministrando a disciplina de Sociologia. Atualmente é coordenador pedagógico do Ensino Médio da E. E. Deputado Silva Prado.

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